sábado, 29 de maio de 2010

ULTRA TRAIL GEIRA / VIA NOVA ROMANA


POR ANTÓNIO BELO
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Seguindo a minha tendência para participar em corridas deste tipo (os amigos que acham que não são corridas mas “provas que põem em risco a integridade física” que me desculpem), no passado domingo, 23 de Maio, numa zona relvada das Termas de Lóbios, na Galiza, pelas 9 horas da manhã, estava a ouvir, atentamente, o grande “César” (José Ribeiro) lendo um texto alusivo à via que, em grande parte, iríamos percorrer, a “Via Nova Romana” ou, como é mais conhecida, a “Geira Romana”. Nesse plano mais alto, próprio para tais comunicações, fazia-lhe companhia um “Centurião” (José Moutinho), também com vestes condizentes com os tempos da construção daquela via, enquanto o terceiro elemento, o responsável autárquico da casa, não ia tão longe, preferindo vestuário mais recente. Após o “Avé César”, seguido de três “Avés” de braço direito levantado (aqui, alguns dos participantes, principalmente os mais antigos, julgavam ter voltado a um passado mais recente) entoados por todos os atletas, iniciou-se o “III Ultra Trail da Geira”, na distância de 52,5 quilómetros, em vez dos 50 anunciados (provavelmente era uma promoção – paga 50, leva 52).
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.Foram 137 os atletas, ou o que lhes queiram chamar, que, mais ou menos artilhados, uns com bastões e mochilas com reservatório de água, outros com cintos, onde o colorido dos líquidos dos frascos chamam a atenção, e uma boa parte sem qualquer apetrecho adicional, “com as mão a abanar” como se costuma dizer, que, mostrando uma boa disposição, se propuseram levar até às piscinas das Termas de Caldelas (Amares) o registo magnético da sua passagem pelos 6 pontos de controlo que a organização, estrategicamente, distribuiu pelo percurso.Quem não participou em provas deste género, pela distância, tipo de obstáculos a ultrapassar e pela maneira de estar da grande maioria, não acreditará que, durante a corrida, os participantes vão falando de assuntos relacionados com aventuras que recentemente concluíram (101 Peregrinos, Costa Azul, 100 kms de…, etc.) e com aquela que então decorre. Volta-se a trás para tirar fotos, pára-se para uma melhor pose, avisa-se quem vem mais atrasado para os troncos ou raízes que estão levantados, para as pedras escorregadias, etc., por isso, vamos encontrando os mesmos companheiros várias vezes, pelo menos enquanto o cansaço ainda não fez os seus estragos. Sim, porque apesar de toda o prazer em estar ali, de toda a boa disposição e camaradagem, os quilómetros têm de ser percorridos!.
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Os caminhos que se pisam são bastante variados, a erosão de várias centenas de anos nem sempre deixa à mostra as pedras, por vezes pesadas, que constituíam aquelas famosas vias. Em alguns trechos, poucos, temos asfalto, noutros apenas terra batida, pedras soltas água e lama, quase sempre entre paisagens maravilhosas, a barragem de Vilarinho das Furnas, vales de um verde carregado, fontes de água fresquíssima, mas também, nos pontos mais elevados, um terreno mais árido, que, pela elevação nos permite a contemplação de quase toda a serra..
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O facto e alguns participantes levarem às costas as suas mochilas, neste caso, trata-se apenas de uma precaução, um “bom” hábito para quem corre longas distâncias, uma vez que a organização disponibilizava os habituais abastecimentos, alguns só líquidos (água, bebidas energéticas e cola) e outros também com sólidos (barras de cereais, marmelada, banana e laranja), para além das numerosas nascentes que se faziam ouvir ao longo de quase todo o percurso.Apesar de a organização pertencer ao Clube de Orientação do Minho, não nos foram exigidos conhecimentos nessa área, pois todo o percurso estava marcado com a habitual fita de plástico, por espaços não muito longos. Não é missão fácil, mesmo quando todos os responsáveis das câmaras e juntas de freguesias, e até nas missas, têm o cuidado de divulgar o que se está a fazer e para que servem as sinalefas por ali espalhadas. Há sempre alguém que procura atingir a “sublimação do acto” mudando, num entroncamento, o sentido do percurso, ou outros, com “vistas mais alargadas” que descobrem que aquelas coloridas fitas são óptimas para espantar os pássaros que visitam a horta que circunda a sua casa. Já não basta ter de se pagar ao parque natural a autorização para tal marcação!.
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Quanto à classificação na prova, que a conversa vai longa, o vencedor gastou 4 horas e 3 minutos para fazer a ligação entre as termas de água quente e as de água fria, sendo seguido, a menor ou maior distância, por mais 128 companheiros e companheiras, uma vez que 11 mulheres fizeram questão de não deixarem que só homens completassem a aventura, tendo o último, ou por outra, aquele que mais tempo desfrutou daquele passeio, usado 8 horas e 54 minutos daquele domingo cheio de sol. Como nem sempre a “máquina” corresponde às nossas exigências, 8 dos que partiram não chegaram a descarregar na meta, o tal sofisticado aparelho (SPORTident) que confirmava a passagem por todos os pontos do percurso. Mas tiveram a consolação de, mais cedo, acederem ao banho e ao almoço, por isso ainda quente, que, em “self-service” os organizadores dispuseram à sombra, sob as instalações das piscinas..
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Para além desta prova, longa, teve lugar outra com 15 kms, para além da habitual e sempre concorrida caminhada. Quem poderia perder tal prodígio da natureza!.
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Para terminar, uma apreciação resumida do evento – esteve à altura daquilo que nos tem habituado, no entanto, e embora uma garrafa de verde branco “Terras de Amares” seja sempre bem- vinda, justificava-se uma lembrança “de maior duração”, com outro significado, principalmente para quem, e foram vários, pela primeira vez ultrapassou a mítica distância da maratona..
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Com um abraço,
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António Belo

1 comentário:

  1. Olá amigo Jorge, bonita história do António Belo a justificar que também ele poderia ter o seu espaço para ir contando as suas Odisseias, enquanto isso não acontecer é sempre bom manter a sua janela aberta.
    Abraço.

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