Durante alguns anos, trabalhando em Lisboa e vivendo (ainda vivo) numa simpática vila ribatejana, utilizava o comboio como meio de transporte nas idas e vindas diárias para o trabalho.
A estação fica a cerca de 30 minutos a pé de minha casa.
Saindo de casa bem cedo, de modo a apanhar o comboio ainda antes da 7 da manhã e regressando às 19 horas, tive que inventar a melhor maneira de encaixar o treino neste horário.
Então resolvi aproveitar o percurso da estação para casa para começar logo o treino, não perdendo tempo com a deslocação entre a estação e a minha casa no regresso do trabalho, visto encaixar isso no tempo de treino.
É claro que isto tinha implicações logísticas, em particular ao nível do equipamento.
Consegui contornar essa situação com um fato de treino, muito leve, mas quente, que levava vestido de manhã e trazia numa pequena mochila às costas no treino, no regresso a casa.
Com temperaturas que no Inverno podem chegar de madrugada aos zero graus, era obrigado a levar sempre um blusão por cima do fato de treino.
No trabalho tinha a roupa normal do dia-a-dia e os blusões iam lá ficando, sendo trazidos por um familiar meu, que fazia todos os dias a viagem de carro.
No verão tudo se tornava mais simples do ponto de vista logístico, face à inexistência de frio.
A viagem de comboio fazia-se numa simpática automotora a diesel, que ligava Vendas Novas ao Setil (onde tinha de mudar de comboio).
Viagem de curta duração (cerca de 10 minutos), sempre com os passageiros habituais, com excepção dos “tropas” às sextas e segundas-feiras e algum “turista”.
O ambiente era quase familiar na automotora e aquele sujeito que despia o fato de treino, o dobrava cuidadosamente, metendo-o na mochila e saía a correr do comboio com uma “lanterna” na cabeça (em grande parte do ano os treinos eram de noite) era algo perfeitamente “normal”.
Quantas vezes não deixei os meu colegas de automotora todos arrepiados ao verem-me partir para o treino de t-shirt e calções, nos gélidos começo de noite de Janeiro? E quando chovia a bom chover?
Guardo gratas recordações de noites de Janeiro límpidas, geladas e cristalinas, em que eu corria sozinho nos carreiros dos pinhais, chegando a desligar o frontal quando havia lua cheia.
Guardo algumas histórias curiosas desses tempos, em que tinha como balneário uma automotora.
Uma vez, tendo-se avariado a sinalização, a automotora não arrancou do Setil, ficando à espera que a situação fosse normalizada.
Eu temendo pela demora na resolução do problema decidi arriscar-me a ir a correr junto à linha para casa.
Já o tinha feito algumas vezes, até porque só havia um comboio por dia e aquele era o percurso mais curto para chegar a casa mais cedo.
Mais curto mas não o mais simples, porque implicava correr nalguns sítios em cima da gravilha da linha, noutros andar à cabeçada aos canaviais, etc.
Eram só cerca de 6 quilómetros, mas num percurso “impróprio” para correr (ainda não se falava nas provas de Trail!).
Disse aos meus colegas de viagem, e de infortúnio, que ia arriscar indo a correr para casa.
O maquinista, ouvindo a conversa, perguntou-me se por acaso passassem por mim, queria que parasse para me darem “boleia”!
É claro que não recusei tão simpática e bizarra oferta!
Mas mesmo de frontal na noite escura, a furar canaviais e a pisar gravilha, consegui não ser alcançado pela automotora.
Quando cheguei a casa telefonei a um amigo e pude confirmar que ela ainda se encontrava parada no Setil.
Quantos atletas se podem gabar de ter ganho uma corrida a um comboio?!
Outra historia que recordo é a de um senhor, já de idade avançada, que olhava para o meu ritual diário, de me equipar em plena automotora, de olhos esbugalhados. Então perguntou a outro passageiro seu conhecido: “E Aquele?!” olhando na minha direcção ao que o outro respondeu, com a maior das naturalidades “Aquele é atleta!”
Pois, durante uns anos eu fui o atleta da automotora da Linha de Vendas Novas ou seja a coqueluche da mesma!
Depois a circulação de passageiros foi interrompida, os meios de transporte mudaram, a vida mudou.
Mas em Setembro, deste ano, a circulação de passageiros foi retomada (agora só entre Coruche e o Setil) e eu tive o prazer de ir a Lisboa e voltar a sair do comboio directamente para o treino no regresso a casa.
Já não era a simpática, pachorrenta e caprichosa (só andava quando queria!) automotora, mas confesso que senti alguma emoção naquele treino com tanto simbolismo e tantas recordações.
A estação fica a cerca de 30 minutos a pé de minha casa.
Saindo de casa bem cedo, de modo a apanhar o comboio ainda antes da 7 da manhã e regressando às 19 horas, tive que inventar a melhor maneira de encaixar o treino neste horário.
Então resolvi aproveitar o percurso da estação para casa para começar logo o treino, não perdendo tempo com a deslocação entre a estação e a minha casa no regresso do trabalho, visto encaixar isso no tempo de treino.
É claro que isto tinha implicações logísticas, em particular ao nível do equipamento.
Consegui contornar essa situação com um fato de treino, muito leve, mas quente, que levava vestido de manhã e trazia numa pequena mochila às costas no treino, no regresso a casa.
Com temperaturas que no Inverno podem chegar de madrugada aos zero graus, era obrigado a levar sempre um blusão por cima do fato de treino.
No trabalho tinha a roupa normal do dia-a-dia e os blusões iam lá ficando, sendo trazidos por um familiar meu, que fazia todos os dias a viagem de carro.
No verão tudo se tornava mais simples do ponto de vista logístico, face à inexistência de frio.
A viagem de comboio fazia-se numa simpática automotora a diesel, que ligava Vendas Novas ao Setil (onde tinha de mudar de comboio).
Viagem de curta duração (cerca de 10 minutos), sempre com os passageiros habituais, com excepção dos “tropas” às sextas e segundas-feiras e algum “turista”.
O ambiente era quase familiar na automotora e aquele sujeito que despia o fato de treino, o dobrava cuidadosamente, metendo-o na mochila e saía a correr do comboio com uma “lanterna” na cabeça (em grande parte do ano os treinos eram de noite) era algo perfeitamente “normal”.
Quantas vezes não deixei os meu colegas de automotora todos arrepiados ao verem-me partir para o treino de t-shirt e calções, nos gélidos começo de noite de Janeiro? E quando chovia a bom chover?
Guardo gratas recordações de noites de Janeiro límpidas, geladas e cristalinas, em que eu corria sozinho nos carreiros dos pinhais, chegando a desligar o frontal quando havia lua cheia.
Guardo algumas histórias curiosas desses tempos, em que tinha como balneário uma automotora.
Uma vez, tendo-se avariado a sinalização, a automotora não arrancou do Setil, ficando à espera que a situação fosse normalizada.
Eu temendo pela demora na resolução do problema decidi arriscar-me a ir a correr junto à linha para casa.
Já o tinha feito algumas vezes, até porque só havia um comboio por dia e aquele era o percurso mais curto para chegar a casa mais cedo.
Mais curto mas não o mais simples, porque implicava correr nalguns sítios em cima da gravilha da linha, noutros andar à cabeçada aos canaviais, etc.
Eram só cerca de 6 quilómetros, mas num percurso “impróprio” para correr (ainda não se falava nas provas de Trail!).
Disse aos meus colegas de viagem, e de infortúnio, que ia arriscar indo a correr para casa.
O maquinista, ouvindo a conversa, perguntou-me se por acaso passassem por mim, queria que parasse para me darem “boleia”!
É claro que não recusei tão simpática e bizarra oferta!
Mas mesmo de frontal na noite escura, a furar canaviais e a pisar gravilha, consegui não ser alcançado pela automotora.
Quando cheguei a casa telefonei a um amigo e pude confirmar que ela ainda se encontrava parada no Setil.
Quantos atletas se podem gabar de ter ganho uma corrida a um comboio?!
Outra historia que recordo é a de um senhor, já de idade avançada, que olhava para o meu ritual diário, de me equipar em plena automotora, de olhos esbugalhados. Então perguntou a outro passageiro seu conhecido: “E Aquele?!” olhando na minha direcção ao que o outro respondeu, com a maior das naturalidades “Aquele é atleta!”
Pois, durante uns anos eu fui o atleta da automotora da Linha de Vendas Novas ou seja a coqueluche da mesma!
Depois a circulação de passageiros foi interrompida, os meios de transporte mudaram, a vida mudou.
Mas em Setembro, deste ano, a circulação de passageiros foi retomada (agora só entre Coruche e o Setil) e eu tive o prazer de ir a Lisboa e voltar a sair do comboio directamente para o treino no regresso a casa.
Já não era a simpática, pachorrenta e caprichosa (só andava quando queria!) automotora, mas confesso que senti alguma emoção naquele treino com tanto simbolismo e tantas recordações.