As provas de Trail em Portugal
(que tiveram a sua implementação no nosso país a meio da década de 90 através
do Terras de Aventura sob o nome de provas de montanha) têm tido um grande
crescimento nos últimos anos, para grande satisfação de todos os amantes
daquela fascinante variante da corrida a pé.
Pode dizer-se que foi uma aposta
ganha a de aqueles pioneiros que a meio da década de 90 se lançaram a organizar
provas pelas serras deste país em percursos considerados na altura impróprios
para correr! Mas pouco a pouco mais gente se foi juntando àqueles “malucos” que
corriam nos tais percursos “impróprios” e hoje o trail encontra-se de muita boa
“saúde” em Portugal.
Ao pioneirismo do Terras de
Aventura (que passados todos estes anos ainda continua a trabalhar em prol da
modalidade) juntaram-se muito outros organizadores, trazendo um leque de
propostas para os trilhos que faz corar de inveja a monotonia das provas de
estrada que pouco ou nada evoluíram.
No trail temos corridas para
todos os gostos e capacidades atléticas, desde as provas mais “suaves”, ideais
para a iniciação no fora da estrada, até às propostas mais “radicais”, a
exigirem até algumas delas uma preparação bem superior ao que é necessário para
se correr uma clássica maratona.
Mas este excelente
desenvolvimento do trail em Portugal, que muito nos alegra como amantes e
pioneiros na prática da modalidade, começa a trazer outras questões, nas quais
é tempo de começar a pensar.
Um das questões que mais nos preocupa
no momento presente tem a ver com a segurança das referidas provas.
A evolução da modalidade tem
levado a que os organizadores cada vez mais se aprimorem na escolha dos
percursos, nas dificuldades técnicas de alguns deles.
Começamos a ter percursos com
elevado grau de dificuldade técnica que começam a não ficar atrás do que de
melhor que se tem feito a nível internacional nessa matéria.
Mas esse aumentar do elevado grau
de dificuldade técnica tem sido acompanhado, proporcionalmente, por um aumento
da segurança?
Julgamos que não e aí é que
reside o problema.
Sabemos que há grandes provas a
nível internacional, com elevados meios técnicos e humanos, que proporcionam um
grande grau de segurança a todos os participantes.
Em Portugal as coisas não são bem
assim pois é relativamente fácil criar percursos de elevado grau de dificuldade
mas é complicado conseguir meios técnicos e humanos para dar uma correcta
cobertura a nível de segurança a esses eventos.
Um prova de trail nada tem a ver
com um corrida de estrada onde, praticamente, basta meter uma ambulância a
acompanhar a prova!
Temos que ser realistas e pensar
que os acidentes podem acontecer e serem mesmo graves.
Ao concebermos uma prova de trail
temos que ver o grau de dificuldade técnica da mesma e a segurança que ela
implica.
Não é a mesma coisa uma prova que
se organize em Monsanto (Lisboa), com um dúzia de quilómetros, e outra que se
realize num serra recôndita, com várias dezenas de quilómetros e elevado grau
de dificuldade técnica.
Não querendo entrar muito sobre o
que deve ser feito, pois isso é matéria para especialistas, mas podemos deixar
algumas ideias que mais não são que meras opiniões pessoais.
Quando uma prova integra no seu
percurso locais em que só é possível o aceso a pé é absolutamente vital ter um
plano de evacuação traçado de modo a saber como retirar um atleta desses pontos
em casos de acidentes graves.
Tem que se saber qual o ponto
mais próximo onde se pode chegar com um viatura, o tempo que se leva a
transportar o atleta até esse ponto e como fazer esse transporte.
Tem que se ter igualmente uma ou
mais ambulâncias de prevenção, de modo a chegarem rapidamente a esses pontos de
evacuação.
Não falamos de helicópteros, pois
isso são meios de outros “campeonatos” e nem sabemos da sua viabilidade na
montanha.
De qualquer forma a força aérea
faz operação de resgate de feridos em navios e não sabemos se é viável accionar
um meio desses em caso de um acidente verdadeiramente grave. É uma questão que
cabe aos organizadores estudarem.
Isto que estamos a escrever pode
parecer algo de dramático e exagerado mas por mais que gostemos do trail não
podemos ignorar que nunca estamos livres de um dia um atleta partir uma perna
ou cair por uma ravina e depois como é que é?
Estamos a falar de grande meios para
verdadeiras emergências,
Tudo o resto se resolve, pensamos
nós, com alguns elementos com formação em primeiros socorros que devem ser
colocados, estrategicamente, em postos de controlo ao longo do percurso e terem
algum equipamento básico para as funções que vão exercer.
Também é de todo conveniente ter
bons meios de comunicação, que devem ser via rádio e não baseados em rede de
telemóvel, que pode não existir nos locais onde se desenrola a prova.
Pensamos que com a ajuda da Cruz
Vermelha, radioamadores, bombeiros, escuteiros, entre outros, se consegue dar
muito mais segurança a uma prova.
Muitas vezes é mais uma questão
de uma boa planificação de como tudo vai ser efectuado e a conjugação das boas
vontades de muita gente, que até tem no voluntariado a sua grande paixão, que o
investimento em meios dispendiosos caros e inacessíveis à realidade Portuguesa.
Não podemos é descurar a
segurança nas provas de trail e temos que adequar sempre a mesma em relação às
dificuldades técnicas da exigência do percurso que pretendemos traçar.
Se não agirmos assim estamos a
abrir as portas para que um dia destes aconteça uma tragédia, o que para além
do aspecto humano, e esse é sempre o mais importante, vai trazer uma gravíssimo
retrocesso no desenvolvimento do trail em Portugal e deitar por terra o
trabalho que muitos tem desenvolvido anos e anos a fio em prol desta tão bela
modalidade.