terça-feira, 8 de setembro de 2009

MARATONA


A marca dos 40 quilómetros pintada a amarelo no negro alcatrão.
A mesa, o estenderem-lhe o copo, o abrandar da passada, o beber com sofreguidão.
Copo atirado ao chão, olhar o relógio, espreitar a tabela e uma louca, louca vontade de correr.
Há uma mulher de cabelos pretos – cor de azeitona – que corre para ele numa praia de mar azul.
Há um amigo que lhe martela no cérebro, força, força, força...
Alguém muito querido que o embrulha num cobertor no “funil” de chegada da Maratona de Nova Iorque.
Que louca vontade de correr.
Vai leve e pesado, vai cansado e fresco.
Cada passada tem o peso duma libelinha, o peso de um elefante.
A estrada desce e ele desce em vertigem ao fundo de si.
E aí esta esse risco maldito, essa palavra, amaldiçoada: META.
As palmas, incitamentos, rostos amigos.
E ele “sprinta”, e ele corre para a mulher de cabelos cor de azeitona numa longínqua praia e ela corre para ele.
Passar o risco, gesto automático, desligar o cronómetro, olhar o tempo.
Aí está: 3h10.27, nesse dia 21 de Abril de 1985, na VII edição da Maratona do INATEL, na Foz do Arelho.

Jorge Branco

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