terça-feira, 27 de dezembro de 2011

CORRIDA E SIMPLICIDADE

Nos dias de hoje, ao assistirmos às grandes provas e ao constatarmos todos os meios envolvidos nas mesmas, quase que nos esquecemos como tudo começou e da simplicidade de outros tempos.
Afinal, e indo ao mais básico e radical de tudo, para se fazer uma prova quase que somos levados a dizer que bastam dois participantes e definir um percurso.
Nestes tempos conturbados, amargos e difíceis que atravessamos, e dos quais somos vítimas sem termos tido culpa nenhuma (ou talvez alguns tendo alguma por nunca terem escolhido outras alternativas em termos eleitorais mas isso é outra questão) é bom lembrarmo-nos desses tempos em que se organizava uma prova com a maior simplicidade do mundo e poucos recursos.
Os tempos são outros, as exigências diferentes, os custos também, mas numa altura em que começam a ser canceladas provas em nome da crise (como sempre dizemos: criada pelos que nunca têm crises) temos que encontrar alternativas às clássicas provas com grandes meios envolvidos e um orçamente “pesado”.
Convívios entre corredores, como a denominada São Silvestre Pirata de Monsanto (Lisboa), que no momento em escrevemos estas linhas já tem mais de 140 “inscritos”, podem ser uma alternativa, ou melhor, um complemento às clássicas provas.
Em Monsanto não vai haver classificação, meta, lembranças, televisão, policia, mais vai haver um mar de gente que ama a corrida a confraternizar simplesmente correndo e convivendo, tanto durante esse mega treino propriamente dito, como na ceia final em que cada um trás algo para todos e todos trazem algo para cada um.
São novas formas de correr e conviver que abrem novos horizontes.
Claro que este tipo de iniciativas tem que ter em atenção o tipo de percurso a efectuar pois não há qualquer tipo de policiamento. Mas há sempre alternativas para se usarem percursos pouco problemáticos e tendo isso em atenção e usando as regras de segurança normais num treino de estrada não há problemas.
A imagem que ilustra este texto (retirada da página do João Lima e que pode ser vista aqui) reporta-se à primeira edição daquela que é hoje uma das mais míticas meias maratonas Portuguesas, a Meia Maratona de São João das Lampas.
Aqueles 19 participantes que concluíram a primeira edição deveriam estar longe de imaginar que estavam a fazer história!
Eram ainda os “tempos da simplicidade” em que se elaborava a classificação numa simples folha de papel mas não era por isso que se deixava de organizar uma prova.
Ainda hoje é possível voltar a esses tempos da simplicidade se necessário!
Claro que não se podem organizar eventos com centenas de atletas mas podem sempre fazer-se treinos convívios como o de Monsanto, que é um tão bom exemplo, ou mesmo provas entre grupos de amigos.
É bom não nos esquecermos que correr é das coisas mais simples (e belas) do mundo. Tão simples com respirar!

5 comentários:

  1. Bem dito! E nem por isso a prova deixava de ter "craques"; Carlos Capítulo emcabeça a pequena lista!

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  2. O que eu gosto desta classificação!
    Um verdadeiro documento histórico!

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  3. Corrida e simplicidade, está tudo dito e muito bem dito. Assim é que eu entendo a corrida e as outras corridas da vida fora da "redoma de vidro".

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  4. Fiz esta meia maratona 8 vezes, a 1ª das quais em 20 de Set 1986 em 1h 22 min e 45 seg. Mas dizia-se na altura que a prova tinha apenas 20 km. Com um percurso exigente, devido a um perfil de declives acentuados, é conhecida pela MM de S. João das Rampas! José Praça

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  5. Padrinho.... gostei!
    Por isso eu entendo que quem corre à muito mais tempo e no tempo em que os tempos eram vistos de uma outra forma.

    Nesta mesma prova, este ano, dizia-me o Mário Lima que antigamente quem chegava às 2h00 era uma vergonha....

    Eu entendo, nessa altura não havia o "corredor turista", havia o corredor "corredor" e ou era para dar o litro ou nem ia lá!

    É interessante ver-se como as coisas mudam e as "mentalidades"....

    Mas como estamos no presente, ficamos com a nostalgia do passado e vamos correndo como podemos com ou sem "piratas".

    Bom texto.... como sempre :-)

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