sábado, 14 de abril de 2012

BANHOS E BALNEÁRIOS


Muito pouco falado tem sido o banho no final dos treinos.
Talvez para muitos isso já nem seja uma componente do treino!
Quando falamos do banho no final do treino não estamos a enveredar por considerações técnicas de como o mesmo se deve processar mas simplesmente do prazer que ele nos transmite e dos “diferentes” tipos de banho conforme o treino efectuado.
Só quem é corredor de fundo pode entender o prazer que se retira de um banho de depois de um treino de longo e duro.
Só quem já passou por isso pode saber o significado de um bom e relaxante banho depois de correr uma maratona, ou ter concluído outro grande objectivo, quando debaixo de bom duche se atinge um estado de tranquilidade e felicidade indescritíveis, e uma paz interior inimaginável.
Das centenas de banhos nos finais de treino guardo sempre aquela paz que nos invade debaixo do duche depois de um treino longo.
Recordo-me dos tempos dos treinos longos que acabavam no balneário do Estádio Nacional.   Quando os treinos longos eram corridos debaixo de chuva e frio entrava no duche todo equipado (só tirava os sapatos!) e era debaixo da água quente que me despia. Como sabia bem aquela água quente depois de tantos quilómetros ao frio e à chuva.
Recordo-me dos banhos nos saudosos e minúsculos balneários do Estádio 1º de Maio (INATEL) em plena década de 80.
Fervilhava de corrida e fraternidade aquela balneário (hoje já não existe assim, nem no mesmo local).  
Um “família” de corredores tão diferentes nos seus objectivos mas tão iguais no amor à corrida.
A escassez de chuveiros obrigava a tomar banhos “rotativos” em hora de ponta: enquanto um atleta se ensaboava fora do duche outro corredor tirava o sabão debaixo do chuveiro!
Balneários tão apertados e tão superlotados que mais pareciam uma sauna!
O “truque” era depois do banho vestirmo-nos o mais rapidamente possível e sair para o exterior porque senão começava-se a suar mais que durante o treino (!).
A solução passava mesmo por vestir a roupa mínima que o decoro impunha e acabar de se vestir lá fora (em especial no inverno, que a temperatura do balneário não comportava vestir a roupa que a época exigia).
Pode dizer-se que era uma “arte” saber usar os minúsculos balneários, mas todos éramos tão felizes lá e nos entendíamos tão bem!
Recordo-me dos mais espaçosos balneários do Estádio Universitário (mas nada que se compare à magnitude do Estádio Nacional) e daquela vez que comecei a sangrar do nariz, em pleno treino, entre os estádios do INATEL e Universitário, tendo de pedir ao funcionário deste último se me deixava usar as instalações, na tentativa de estancar a hemorragia com a água fria de uma torneira. Prontamente atendido o meu pedido consegui mesmo estancar a hemorragia e voltar para o estádio do INATEL (a correr é claro!)  e nunca mais tive hemorragias nasais até hoje ( e já lá vão bem mais de 20 anos!).
Mas o Estádio Universitário, dado o grande número de atletas que o utilizavam, sendo impossível conhecer todos, até porque estavam sempre a chegar desconhecidos, exigia que se tivesse o máximo cuidado com a roupa, sob pena de se ficar sem a parte mais apetecível – sapatos de topo de gama, fato de treino, etc, como aconteceu a alguns dos nossos amigos mais inexperientes e confiantes.
No Estádio Nacional, havia um amigo que batia sempre à porta do balneário e continuava a bater até algum gritar: pode entrar! (não digo o nome. Ele se quiser, se chegar a ler este texto, que diga)
Nas histórias a rondar o anedótico posso contar aqui o caso daquele amigo que se esqueceu de pôr a camisa no saco e só deu por isso, após o treino, quando se pretendia vestir para ir trabalhar. A solução passou por vestir o casaco em cima do “pêlo” dirigir-se com a companheira, que também corria e tinha treinado connosco, a uma loja, escolher uma camisa, pedir para experimentar a mesma e dizer à funcionária que o atendeu que era mesmo isso que queria e que a levava já vestida e tudo!
Imagine-se o que a funcionária da loja terá pensado daquele cliente: que devia ter andando em tal “farra” durante a noite que até tinha perdido a camisa!
Lembro-me de outro caso em que um amigo se esqueceu de levar as calças da vida “civil” e teve que andar de calças de fato de treino e casaco normal durante todo o dia!
Este escriba após tomar duche reparou que um colega de balneário olhava atentamente para seus meus pés e então perguntou: queres que te empreste os chinelos?   Ao que o amigo retorquiu:  mas esses chinelos não são os meus??!!
E eram mesmo! Tinha-me esquecido de levar os meus e aqueles eram igualzinhos  e como estavam ao lado da minha roupa confundi-me! 
Banhos e balneários no final do treino são mesmo parte integrante desse mesmo treino e fazem parte da nossa história de corredores!
E as vezes até podem ser num local inusitado, como num final da saudosa Transestrela, em que se recorreu às  águas cristalinos e frias de um rio para reduzir as dores musculares e durante alguns minutos ter, de novo, um andar normal e não aquele andar desarticulado!    
Jorge Branco e Egas Branco   
             

4 comentários:

  1. Mas que excelente e divertido texto que, como habitualmente, nos prende de início a fim!

    Quando estou a treinar debaixo duma grande chuvada, não me importo com isso pois sei que quanto maior for a chuva, maior será o prazer no duche quentinho!

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  2. Pois muitas "aventuras" idênticas tenho eu de balneários, mas no fim das provas, já que em treino, 99,99999% das vezes, tomo em casa, pois também treino perto.

    Nas provas, como muitas são longe, aproveita-se para passear, almoçar, etc, e sem banho.... não!

    Uma curiosidade: nas provas em localidades mais pequenas, ou mesmo cidades interiores, há sempre banho na maior parte das Provas, Pavilhões, Bombeiros, balneários das Piscinas, etc etc, ,mas se perguntarmos a uma qualquer organização de prova em LISBOA, nunca há banho, e há uns anos cheguei mesmo a concluir: em Lisboa não se toma banho! - claro que é uma brincadeira, no Porto também não se toma, e isso tem a ver (deve ter a ver) com o nr. de participantes... digo eu.

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  3. Devem ter sido bons momentos!
    Tantas histórias para contar, venha aqui sempre conta-las, que nós cá estaremos para as ler com o mesmo carinho e entusiasmo com que você as conta...
    um grande beijinho

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  4. Um dos banhos que me deu mais prazer, no caso após uma prova e não um treino, foi há exactamente 2 anos, no final do Raid de Vale de Barris, em Palmela, em que após quase 5 horas a apanhar pó e deparando-me com um balneário cuja fila chegava cá fora, descobri nas traseiras, uma mangueira ligada a uma torneira e aí foi só abrir a torneira e voilá, uma banho retemperador. Claro que passados apenas uns minutos, já fazíamos a tal rotação, passando a mangueira alternadamente duns para os outros. No final estava (quase) como novo!!

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