Dois leitores desde blogue, ao
comentaram um texto aqui publicado, referiram que quando em pleno treino se
cruzam com outro corredor e o saúdam, muitas vezes esse seu gesto não é
correspondido.
Ficámos completamente perplexos e
preocupados com estas afirmações e o
que elas representam.
Começámos a correr na década de
oitenta e nesses anos era impensável que ao passarmos por um corredor não
houvesse uma saudação / cumprimento mutuo.
Todos nós corredores nos sentíamos
pertença de uma grande família e, de certa forma, irmãos de um certo ideal, de
uma certa maneira de estar na vida.
Não vou dizer que o mundo da
corrida fosse algo de perfeito e idílico, uma sociedade à parte. Não, o mundo
da corrida espelhava a sociedade em que se vivia na altura, com todas as suas
imperfeições mas, de qualquer forma, o nosso “pequenino” mundo de corredores
ainda era muito mais fraterno que o “mundo
exterior”.
Naqueles anos era quase
escandaloso um corredor saudar outro e não ser correspondido!
Quando deixei a cidade grande e
vim viver para o campo passei praticamente a não me cruzar com outros
corredores mas mantive a pratica de os saudar, das raras vezes em que isso
acontece.
Mas se não encontrava corredores
passei a ter por hábito saudar as pessoas com quem cruzava, em especial em
locais mais isolados.
Ao ser praticamente o único
corredor a passar em determinados locais sinto-me como um embaixador do nosso
desporto e tenho como obrigação ser o mais educado possível com as pessoas pois
elas podem não entender bem aquele esforço de um sujeito que anda por ali a
correr mas têm que ficar com uma imagem o mais positiva possível do corredor
que por elas passa.
Nos dias de hoje continuo a
executar estas práticas e a ser correspondido nas minhas saudações.
Talvez por viver longe dos
grandes centros as coisas por aqui sejam diferentes e as pessoas ainda tenham
outra disponibilidade e atenção para quem com elas se cruza por esses caminhos.
Sei que a sociedade está cada vez
mais egoísta e egocêntrica, que as pessoas estão cada vez mais envoltas em
problemas, que destroem os sonhos e tornam a vida num inferno, mas se quando se
corre, se quando estamos a fazer algo que nós dá prazer, não temos a
capacidade, mínima, de esquecer os nossos problemas e responder a uma simples
saudação do corredor que connosco se cruza então essa sociedade está bem mais
doente do que eu possa imaginar.
O que se passa connosco
corredores que já nem respondemos à saudação de outro corredor que connosco se
cruza?
Para onde vamos com estas
atitudes?
Se o treino não nos liberta dos
problemas do dia a dia, não nos torna mais humanos, mais fraternos, vale a pena
continuar a correr?
Vale a pena andar correr tão mal
disposto que respondemos com o silêncio e um ar carrancudo ao colega que por nós se cruza no treino?
Não! Este não é o meu mundo da
corrida. Aprendi que ser corredor é ser-se fraterno e solidário!
Não pensem que não tenho
problemas, que a vida me corre de feição, bem pelo contrário, mas quando os
problemas da minha vida interferirem de tal maneira no meu treino que me
impossibilitem de saudar o amigo corredor que comigo se cruza, se esse dia
chegar, deixo de treinar! Correr mal disposto e angustiado não vale a pena! É
contrário a tudo o que aprendi sobre o que é correr!
E nem quero pensar que a falta de
resposta a uma saudação seja, tão simplesmente, falta de educação. Não acredito
que haja assim por aí tantos corredores mal educados! Prefiro acreditar que é o
“peso da vida” que está a afectar também a “família” dos corredores!
Vamos mudar de atitudes? Vamos
ser mais humanos e fraternos?
Jorge Branco
Efetivamente, Jorge, a sociedade está cada vez mais "contaminada" com pessoas pouco sociáveis. Os velhos e saudáveis atos de boa educação e civismo estão a perder-se... até para os que correm...
ResponderEliminarMas que isso não seja impeditivo de aqueles que ainda possuem uma formação e um polimento aprumados, se manifestem e façam sobressair as boas práticas.
Abraço!
É verdade!
ResponderEliminarIsso acontece e muitas vezes... maias até as que não falam nem respondem do que as que cumprimentam.
O tipo de pessoas que hoje corre nas ruas é cada vez mais e de uma variedade enorme... não é como antigamente.
Não corro assim há tanto tempo e noto uma diferença enorme e muitas vezes levam música... não estão nem aí como se costuma dizer!
Não creio que seja falta de educação mas um modo de vida... as pessoas hoje em dia vivem para elas, não para os outros. Foram criadas assim!
É certo que nos corredores se encontra uma entreajuda que não existe noutro lado, ficamos amigos, nem que sejam "os amigos das corridas" e amizades verdadeiras. Mas enquanto vai e não vai encontro muita gente que nem param para cumprimentar.
Quando vamos a correr todos (PR) já temos feito esse exercício ;) falamos só para ver quem responde e não responde!
Boas corridas!
Sublinho o que já foi escrito, nas zonas por onde habitualmente treino acontece o mesmo.
ResponderEliminarEm todo o caso, além da educação (ou falta dela) parece-me também que há muito atleta novato que ainda não "percebeu" esta cumplicidade desportiva.
E se em alguns sítios esta prática se torna impraticável dada a quantidade de corredores, tais como Belém, Monsanto, Parque da Paz (Almada), para referir só alguns que frequento, noutros sítios de menor afluência custa imenso quase ser ignorado por outros atletas.
Claro que há o reverso da medalha e é nestas atitudes que me revejo e valorizo, quando passamos não só por corredores mas por ciclistas ou outro tipo de desportistas, e a tal bendita saudação não falha.
Boas corridas...
Jorge
ResponderEliminaruma relaidade mais que evidente a que foi referida aqui no teu blogue,muitas vezes tenho feito esse exercicio.
Nos meus longos de fim de semana um tipo de desportista tenho sempre cumprimentado e em 90% dos casos sou correspondido, o pessoal das bicicletas, experimentem e vejam a diferença.
Apesar de tudo sou corredor com muito orgulho.
Abraço,
António Almeida
É mesmo isso Jorge, as pessoas que agora correm, já não pertencem ao "pequenino mundo" dos corredores de estrada das décadas de 80/90. Passaram a pertencer a um mundo bem maior, onde o permanente stress e o egoísmo invariavelmente as 'engole' na permanente competição que por aqui se desenrola. Pelo contrário, sempre que corro em meios rurais, mesmo sendo raro cruzar-me com outros corredores, sou invariavelmente correspondido pelas pessoas por quem passo a correr e que faço questão de cumprimentar. Aliás, dei comigo com maior disponibilidade para precisamente cumprimentar as pessoas nessas circunstâncias, do que aquelas que comigo se cruzam aqui, quando corro na grande cidade. Se virmos bem é também isso que se passa fora da corrida, quando as pessoas se cruzam na cidade e no campo, adoptam comportamentos completamente diferentes.
ResponderEliminarOlá Jorge!
ResponderEliminarConcordo plenamente com tudo que escreveu. Aqui em São Paulo a falta de saudação entre os corredores é ainda mais gritante. Sempre saúdo, mas na grande maioria das vezes fico sem uma resposta.
É uma pena.
Gostaria muito de publicar o seu post no meu blog. Gostaria da sua permissão.
Um abraço.
Dona D
www.nomundodaslulus.blogspot.com
Oi,
ResponderEliminaraqui no Brasil acontece a mesma coisa, e igual ao que notastes, isso acontece principalmente com os novatos. Eu gosto de cumprimentar, como se fosse um reconhecimento do esforço mútuo, e também de educação, claro.
Abç
É cada vez, infelizmente, mais verdade o que descreve tão bem, caro amigo Jorge.
ResponderEliminarMas, também, nos compete a nós, tentarmos manter vivos alguns dos pilares bases da nossa formação: a educação, o civismo, o companheirismo e afastando por completo o egoísmo, o egocentrismo e, porque não até dizê-lo, a falta de educação que uma manifestação desse teor traduz.
Um abraço
Rui Varela