segunda-feira, 28 de junho de 2010

“CUIDADO” COM OS GPS!

No começo da década de 80, no início da nossa actividade como corredores, a medição do ritmo cardíaco era feita pela contagem das batidas cardíacas no pulso durante 15 segundos e a sua multiplicação por quatro.
Se em pleno esforço queríamos avaliar com se estava a processar a nossa prestação em relação ao ritmo cardíaco, a solução era falar, mesmo que fossemos a treinar sozinhos! Pela facilidade com que falávamos sabíamos se íamos ou não em dívida de oxigénio, se estávamos a correr em regime aeróbico ou anaeróbico.
Quanto a saber a exacta distância do percurso que efectuávamos era algo mais complicado. Podíamos recorrer à medição, nada exacta, efectuada com um carro, com uma bicicleta com conta-quilómetros, em que a exactidão continuava a deixar imenso a desejar ou recorrer as medições quilométricas que constavam nos marcos das estradas e que contêm sempre grandes erros.
Enfim, para sabermos a distância exacta só mesmo recorrendo à pista de 400 metros, na altura ainda de cinza.
Depois chegaram os monitores de frequência cardíaca, apenas disponíveis para atletas de alta competição face ao seu preço, mas com o tempo foram-se popularizando e sendo acessíveis a todos.
Actualmente já ninguém conta o pulso em 15 segundos e multiplica por quatro. Todos se socorrem do monitor de frequência cardíaca e podem instantaneamente saber da sua frequência cardíaca e se vão acima, abaixo, ou dentro da zona alvo e ter toda uma série de informações extremamente úteis, mas que a maioria não sabe interpretar porque nunca foi acompanhada por um treinador.
Quando à medição dos percursos começaram a popularizar-se os GPS de pulso, que nos dão a distância percorrida, a velocidade máxima, a velocidade média, a altimetria e uma série de dados, onde até se inclui a frequência cardíaca, pois muitos já têm essa função. Novamente estamos na posse de dados muitos importantes mas que a maioria não sabe interpretar na globalidade porque nunca teve treinador.
Os GPS permitem-nos uma exactidão na medição do percurso que fica a anos-luz da do início da década de 80 quando começámos a aventura de correr.
Mas apesar da grande melhoria que eles representam em termos de medição de percursos é uma tecnologia que ainda está longe de ser 100% exacta.
Variadíssimos condicionalismos técnicos ainda impedem um GPS de ser 100% fiável. Não cabe neste texto entrar em explicações técnicas mas elas podem ser encontradas tanto na Internet com na Revista Atletismo, que publicou um excelente trabalho sobre a matéria e onde se demonstra de forma técnica as falhas do GPS quanto à sua exactidão.
Em virtude dos GPS ainda estarem longe de serem 100% exactos temos que ter “cuidado” com o uso dos mesmos e não os podemos considerar como a verdade absoluta no que toca à medição de percursos.
Infelizmente há muitos corredores que não analisam estas questões e olham para o GPS como se fosse um “Deus”, dono da verdade absoluta na medição de um percurso.
Quando se tem esta mentalidade e estas ideias em relação ao GPS cai-se no ridículo de acusar a medição de uma prova de errada, com base na leitura da distância que nos dá o nosso GPS.
Depois cai-se no erro absurdo de por em causa o nome e honestidade da organização de uma prova com base no nosso simples, e às vezes muito modesto, GPS.
Foi uma atitude destas que teve um grupo de atletas veteranos na Meia Maratona de Lisboa e que deu origem ao excelente editorial do Professor Mário Machado no número 190 da Revista Spiridon
Por isso amigos, vamos lá ter “cuidado” com os GPS! Tecnologia de ponta é uma coisa, o rigor que é posto na medição de uma prova (que não é feita por GPS mas sim por métodos muito mais rigorosos e exaustivos e sujeitos a regras internacionais e sobre os quais pretendemos falar numa próxima oportunidade) é outra.
Quem não tiver atenção a isto ainda vai cair no ridículo de um dia destes começar a gritar numa pista de 400 metros: Fui roubado! Isto é uma aldrabice! É assim que se batem recordes! Está aqui no meu GPS que esta pista só tem 395 metros!
É claro a Meia Maratona de Lisboa foi medida novamente, conforme as regras internacionais ditam quando é batido um recorde do mundo, e tinha a distância correcta.
Jorge Branco

6 comentários:

  1. Jorge

    Um tema que aborda dois aspectos bem distintos da nossa prestação neste mundo de corridas. O que fazíamos antigamente, tipo artesanal, e o agora o todo-poderoso GPS último grito na moda de medir o espaço/tempo e as frequências cardíacas.

    Como tu, sou do tempo em que a contagem cardíaca era obtida multiplicando as pulsações obtidas nos 15''x4 e o conversar nos dava o esforço despendido no treino.

    Também fiz um percurso de perto de 400 metros através de uma corda para assim ter ideia de quantos km fazia numa sessão de treino. Andava por ali às voltas e às tantas perdia-me na contagem. Aproveitava depois para fazer séries.

    :)

    Mudam-se os tempos e eis que surge o GPS. Não li o artigo sobre a fiabilidade do dito cujo, mas aquilo que ouço sempre no fim de uma corrida é um bota-abaixo à organização, por ter mais ou menos km que o anunciado.

    A primeira vez que ouvi isso foi numa prova em Sesimbra depois de ter voltado às provas depois de dois anos de paragem devido a pubalgias.

    Como não tinha (nem tenho) GPS, pensava que os donos dos mesmos tinham razão no seu protestar. Mas comecei a ver tantos tempos e km disparatados em cada possuidor dos GPS relativamente ao mesmo percurso, que achei por bem não pensar em comprar nenhum. Pego no meu relógio ganho numa prova do S. João do Porto, faço um cálculo mental de quanto irei correr, uma, duas horas e ali vou eu.

    Mas na medição personalizada também pode ocorrer erros? Não é que na meia-maratona da Ponte 25 de Abril em 1999, a meia tinha mais 78 metros que o devido? Foi uma bronca na altura, mas se fosse com o GPS se calhar esses poucos metros seriam km.

    :))

    Abraços!

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  2. Os pertinentes comentários dos dois fez-me lembrar outro exagero "tecnológico" que por aí anda, o de quererem à viva força (para benefício óbvio de um quantos fabricantes de equipamento...) controlar o Desporto, nomeadamente aquelas modalidades com mais meios económicos (como o futebol, pudera!) pela tal "tecnologia". O que, na minha modesta opinião, é um disparate, embora, evidentemente, haja aspectos que possam ser melhorados, como a ultrapassagem da linha de golo pela bola, sem querer fazer humor...

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  3. olá!

    estou adorando o blog, e já me tornei fiel seguidora;)

    que discussão interessante! muitas vezes deixamos de ouvir nosso corpo, por ficar apenas de olhos grudados em nossos brinquedinhos de última geração! eu tenho monitor cardíaco, que apelidei de meu marca-passo;) mas não deixo de cantarolar (sofrivelmente, rsrsrsrs) no meio da corrida, para saber a quantas anda o esforço;)

    é claro que um GPS é meu sonho de consumo, até porque tenho uma facilidade para me perder que é uma beleza;)
    mas é importante botar o aparelhinho em seu devido lugar: apenas de auxiliar nos treinos, e não detentor de toda a verdade!
    eu mesma já ouvi algumas pérolas: "o percurso da prova tá correto! bate direitinho com o que está marcando no MEU garmin!"
    ou "ihhh, erraram na marcação da prova! o gps tá dizendo aqui que não deu 10km coisa nenhuma!"

    é bom saber que essas preciosas maquininhas não são assim tão precisas, hehehehe
    mas eu continuo babando por um garmin;)

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  4. Então Jorge!!!

    Também sou do tempo que se contava a frequência cardíaca no pulso...

    Hoje em dia utilizo todos esses aparelhos, frequêncímetro, GPS e outros sensores que acabam por acessorar nos meus treinos.

    Claro que é muito importante ter em mente que todos esses aparelhos devem ser calibrados, o que muita gente esquece e o pior, nem sabem o que é ou como se faz isso.

    Outro dia estava correndo com um amigo e os nossos aparelhos estavam divergendo na distância percorrida. Aí perguntei a ele se tinha calibrado e ele me respondeu que não precisava pois estes aparelhos já vinham com uma calibração default de fábrica... resposta errada, né!!!

    Um abraço!

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  5. Dono D muito grato pelo seu comentário mas pode dizer-me qual é o seu aparelho e que calibração faz no mesmo?

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  6. espero um dia encontra-te numa prova
    bom natal um abraço lima

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