domingo, 8 de novembro de 2009

Linha sem comboio!

O texto do Jorge, treino ao longo da linha, mostra bem os obstáculos a ultrapassar por quem queria correr e trouxe-me á memória uma caminhada e corrida, não competitiva que organizámos, eu e o então meu colega Pedro Albuquerque, no desactivado ramal de Reguengos de Monsaraz, que ligava Évora àquela vila, agora cidade.
Tal como já tinha feito no concelho de Reguengos, com a colaboração do meu conterrâneo Francisco Guerra, já desaparecido, planeamos um convívio familiar que contemplava a parte desportiva (caminhada e corrida) e a turística e cultural (visita a monumentos e lugares com interesse) e, naturalmente, a convivência, desta vez na zona de Évora.Para a etapa de sábado, tratava-se de um fim-de-semana alargado, planeámos um percurso ao longo da linha de caminho de ferro, tendo início em Machede e fim junto à Barragem do Monte Novo. Como não era possível fazer a verificação das condições e distância do percurso utilizando qualquer veículo, fizemos os nossos cálculos com base no mapa do referido ramal. O projecto, não muito ambicioso, tinha os seguintes pressupostos: os caminheiros terminavam junto à barragem e alguns seriam levados para o local de partida por um dos nossos amigos (o Zé Teixeira) que, para além de não alinhar em caminhadas, tinha um carro mais espaçoso; os corredores continuavam até ao local de partida, agora por estrada em macadame, para trazerem alguns carros e levarem os restantes caminheiros; a reunião de todos teria lugar no local de partida, seguindo todo o grupo para o local do almoço (Redondo). Às 10 horas daquela manhã de fim de Abril de 2001, o Verão parecia querer vincar a sua presença, de tal forma que até os caminheiros alinharam com vestuário leve, não indo além da camisola de meia manga até porque a distância a percorrer não seria exagerada, cerca de 4 quilómetros (?).Como é normal, o grupo de corredores afastou-se de imediato. Durante algumas centenas de metros tudo parecia estar de acordo com o que tínhamos pensado, ou seja, havia um espaço lateral onde podíamos correr, no entanto, um pouco mais à frente, concluíamos que estávamos enganados, depois de tanto tempo de “linha sem comboio” os arbustos, quase árvores, ali mesmo junto aos carris e as vedações em rede que não nos permitiam escolher um melhor caminho, mesmo que mais afastado, obrigavam-nos a optar pelas pedras e travessas de madeira que ainda seguravam os carris. Como se as inesperadas dificuldades não fossem suficientes, o dia de Verão transformou-se, rapidamente, num dos piores dias de Inverno, uma chuva cerrada acompanhada de forte vento e de uma temperatura baixíssima, para a altura, cerca de 4 graus, fazia-me sentir o responsável por aquelas pessoas, alguns casais já para além dos 70, que tinham acreditado que teriam um passeio fácil e descontraído.As primeiras dificuldades fizeram-me avançar mais rapidamente para, com antecedência, poder indicar o melhor caminho àqueles que me seguiam, mas o temporal não me deixava cumprir o objectivo, tendo necessidade de procurar a protecção das árvores com troncos de maior diâmetro. Perante aquele estado começava a ficar aflito, pois, para ajudar, não vislumbrava qualquer indicação do final do “percurso surpresa”. Voltei para trás, logo que me foi possível, para apoiar psicologicamente os “encharcados” que me seguiam. Tal como suspeitava, as críticas caíram em pingas ainda mais grossas do que as da chuvada que, finalmente, parecia amainar. Era evidente que não era culpado daquela viragem de tempo, no entanto, também estava em causa a característica do percurso (não eram habituais participantes em provas de montanha) e, principalmente, a sua distância.Quando cheguei ao local que tínhamos estabelecido como meta, do carro que nos devia esperar, nem sinal! Como tínhamos demorado mais do que o previsto, o nosso amigo tinha ido para outro ponto, julgando que estava enganado no local. Passados mais alguns minutos, e ainda antes de começarem a chegar os restantes companheiros, lá apareceu o tão desejado carro. Perante tais peripécias tivemos de alterar o programa. Em vez de fazermos o restante percurso em passo de corrida, eu e mais três voluntários, usámos aquele transporte para, mais rapidamente, trazermos mais alguns carros para transportar todos os participantes. Como no porta-bagagem do meu carro há sempre material desportivo excedentário, distribuí algumas camisolas aos que resmungavam mais, e, agora, com o aparecimento do sol e a consequente subida de temperatura, as caras feias e agressivas davam lugar aos habituais sorrisos e à boa disposição. Aparentemente tudo tinha acabado bem, sem quedas e sem constipações. No entanto, dado o estado pouco apresentável em que chegaram à meta, a maioria dos participantes optou por passar pelo hotel antes de se dirigir ao restaurante, dando lugar a mais um intrincado problema, a hora marcada para o almoço, 13 horas, tempo mais que suficiente para que todos, em condições normais, ali pudessem chegar. Bem tentámos, pelo único número de telemóvel que tínhamos, alterar a hora dos achigãs se deitarem na grelha, mas sem qualquer resultado! Assim, os nossos amigos, quando se sentaram à mesa, quase 2 horas mais tarde, depararam com a necessidade de passar aqueles peixes deliciosos (estado já passado) novamente pelas brasas, o que, convenhamos, não é coisa que resulte.Foi uma manhã cheia… de críticas!

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