Demos os primeiros passos neste mundo da Corrida em 1980.
Em 1981 fomos seduzidos por uma prova anunciada na Revista Spiridon, tratava-se do Grande Prémio Internacional do Círculo de Leitores (26/04/1981).Foi assim que tio e sobrinho (Egas e Jorge Branco) encetaram uma “meticulosa” preparação para aquele desafio “enorme” de correr catorze quilómetros com dorsal ao peito.
Vários treinos “longos” de 15 quilómetros (ainda me lembro do primeiro que completámos no Estádio Nacional e de acabarmos o mesmo um bocado “zombies”, um treino de teste no percurso da prova, sim, que eram “atletas” a sério (!) e lá vamos nós!
Naquele dia Abril lá completámos a primeira prova do resto da nossas vidas, sem problemas de maior e dentro dos objectivos traçados, que eram chegarmos “vivos” ao fim e felizes!
O meu tio ainda cometeu a proeza de correr os 14 quilómetros (e pior que isso treinar) com umas “botas Sanjo” que poderiam ter uma qualidade inquestionável para muita coisa mas a sua vocação não eram provas de estrada! Para grande espanto aliás, do saudoso Francisco Pedro, fundador dos Zatopeques, que com ele fez os últimos quilómetros e que, depois disso ficou nosso Amigo.
Mas só depois o Doutor Renato Graça (antigo campeão nacional da maratona) esclareceria estes totalmente inexperientes candidatos a corredores de pelotão sobre os cuidados a ter com o calçado e o mais indicado para a função.
Passada que estava a alegria de ter participado numa prova que teve logo na sua primeira edição uma qualidade inegável e acima da média daquela época, havia que pensar em outros voos!
Novamente seduzidos pela “nossa” Revista Spiridon deparámos com o anúncio de uma tal Corrida do Tejo, na distância 9,2 quilómetros, a realizar entre Algés e Oeiras.
Já sendo “atletas consagrados”, com uma prova de 14 quilómetros nas pernas, olhámos para aquela proposta como algo de extremamente tentador e fácil.
Tudo naquela prova tinha a ver connosco: crescemos com o Tejo no horizonte, treinávamos muito no Estádio Nacional e em partes do percurso da prova, vivíamos a escassos 5 quilómetros da partida.
Foi assim que tio e sobrinho rumaram a 7 de Junho de 1981 para a segunda prova do resto das suas vidas, mas não foram sozinhos e isso acabou por fazer história como se vai constatar adiante.
Naquele domingo levei um amigo para ver a prova, aquele que seria mais tarde empossado no “cargo” de meu padrasto, e na passagem pelo Dafundo fomos buscar o senhor Farinha, sogro do meu tio.
Já não me lembro da logística mas deixámos os nossos dois acompanhantes na meta em Oeiras, para verem a chegada e estes dois aspirantes a corredores de fundo cortarem a meta!
Na altura as máquinas fotográficas digitais nem eram algo ainda sonhado, nem os telemóveis, e os computadores pessoais ainda eram incipientes máquinas como o ZX!
Mas sendo tanto eu como um meu tio amantes da fotografia lá emprestámos a nossa máquina de origem soviética, de 35mm, ao meu futuro padrasto e empossámo-lo na função de nosso fotógrafo oficial!
Olhas aqui por esta janela, disparas aqui, passas o rolo acolá.
Diga-se que o homem se safou na perfeição da função de que foi incumbido, nunca tendo tido uma máquina fotográfica nem tendências para a fotografia (e ainda hoje não tem, mesmo com a facilidade do digital).
Foi assim que um fotógrafo improvisado, com uma máquina emprestada e com umas instruções dadas à pressa se obtiveram duas fotos históricas da primeira Corrida do Tejo!
Tive a sorte de ser apanhado mais perto (não havia zoom era uma maquina simples). Felizmente, senão o fotógrafo tinha-se baralhado com tanta tecnologia, por isso a minha foto ficou com um plano melhor. Mas lá estamos os dois para a história, Egas e Jorge, na primeira edição da Corrida do Tejo.
Agora, ao fim de todos estes anos, a foto foi utilizada num filme que passou este ano antes da partida, bem como o ano passado, nos painéis publicitários.
Nem eu, nem muito menos o improvisado, e agora, consagrado, fotógrafo sabíamos que iam dar esta utilização à foto em questão, que deve ter sido “pirateada” de algum lugar na Net, mas para que conste vamos aqui publicar o nome do seu autor: José Custódio Alves Nogueira, improvisado fotógrafo naquela manhã de Junho de 1981 e que entrou para a história com uma das raríssimas fotos que fez na sua vida!
Honra de foto de abertura no filme comemorativo! Tanto em 2010 como 2011.
ResponderEliminarHá histórias giras que se tornam mais interessantes conhecendo a sua plenitude!
Um abraço
É um belo testemunho, amigo Jorge.
ResponderEliminarÉ destes particulares que se faz a história!
Parabéns pela iniciativa de a ter partilhado aqui.
Um abraço!
Foi uma época determinante e explosiva para o desenvolvimento do Atletismo em Portugal, foi também um sopro de liberdade que veio ao nosso encontro, a necessidade de criarmos empatias uns com os outros, oportunidade para a Sociedade se voltar a encontrar, agora em torno do Desporto para todos. Os mais antigos na era da Liberdade pós 25 de Abril bem se podem sentir orgulhosos por terem dado o seu contributo a esta causa que era crucial nessa altura, abrir a Sociedade a todos e o Desporto, a nossa modalidade, funcionou em pleno nessa época.
ResponderEliminarMas muita coisa mudou entretanto e hoje pouco resta da semente entretanto semeada, pessoalmente já não me revejo e sei que o amigo Jorge pensa o mesmo que eu, ou vice versa, naquilo em que se transformou o Atletismo para todos de então, agora transformaram isto num filão onde em alguns casos se ganha milhões em que a exploração já ultrapassa as raias do razoável. Mas os tempos estão em mudança, as alternativas colocadas à nossa disposição encaminha-nos para outros cenários à descoberta do Portugal ainda desconhecido para muitos, penso que será esse o futuro e o nosso país e as suas gentes do interior bem merecem a nossa visita e o nosso contributo para o seu desenvolvimento que a todos beneficia.
Um abraço camarada Jorge e venham mais histórias, porque todas elas têm um significado, no tempo e no significado.
Vou ser breve:
ResponderEliminarLINDO!!!!
e a descrição é de um verdadeiro repórter, PARABÉNS!
Adorei o relato!
ResponderEliminarFica para a história!