Jorge Branco (de barba) no final da Corrida do Tejo em 1981
O ser humano rege-se por datas e números, pelos significados e recordações que nos trazem nesta vida que afinal é tão efémera
A trigésima edição da Corrida do Tejo é um desses números, mágicos, da minha vida, plenos de recordações mas também cheios de futuro.
Quando na manhã de 7 de Junho de 1981 me propunha correr os 9,2 quilómetros que separavam Algés da Câmara Municipal de Oeiras tinha 21 anos, participava na minha segunda prova e tudo cheirava a novo para mim no mundo da corrida.
Naquela manhã de Junho, em Algés, não perspectivava nada para a minha carreira desportiva, limitava-me a estar ali feliz por saborear a minha segunda prova.
Não poderia adivinhar que 30 anos depois havia telemóveis, net, computadores e essa “coisa” chamada de blogue onde viria a escrever sobre esses longínquos 30 anos, agora que tenho meio século de existência neste cantinho do sistema solar.
Quis o destino que o meu padrasto fosse assistir a prova (só deve ter assistido a duas até hoje) e que me tirasse uma foto com máquina emprestada.
Não poderia adivinhar que aquela foto feita por um fotógrafo improvisado (nem hoje com o advento e a facilidade da fotografia digital ele possui máquina e se dedica a essa arte) se tornaria num documento histórico sobre o desenvolvimento da Corrida a Pé em Portugal e Corrida do Tejo em particular.
Volvidos estes 30 anos seria fastidioso fazer aqui um grande balanço da minha vida a calcorrear estradas e caminhos deste Portugal tendo como locomoção apenas as minhas pernas.
Posso dizer que tive a evolução normal de um corredor, passando pela fase da mania da competição e das melhoria das marcas, até aos dias de hoje em corro pelo prazer simples que isso me dá e os únicos desafios em que me envolvo é o correr feliz.
Nunca fui um corredor de fazer muitas provas, antes pelo contrário, mas julgo que atingi os meus objectivos como atleta e que eles se podem traduzir nas minhas modestas 3 Horas 10 minutos e 27 segundos nos mágicos 42,195 quilómetros da maratona e no meu 5º lugar nas 12 Horas de Vila Real de Santo António, com a marca de 101,650 km. em 1987.
Não posso deixar também de referir que ajudei, modestamente, na organização de várias provas, exercendo as mais variadas tarefas, o que me deu um perspectiva dos bastidores das provas, que é tão útil na hora de avaliar e criticar, sempre pela positiva, as organizações.
Aos 50 anos não me sinto velho! Sinto é que já corro há muitos anos e isso dá-me a tranquilidade necessária para olhar a corrida a pé de forma diferente e sorrir.
Posso dizer que todos estes meu 30 anos de corredor foram sempre feitos tendo com pano de fundo o Tejo, pois sempre treinei perto do grande rio, por isso o título deste texto.
Não podendo enumerar todos os amigos que fiz ao longo de todo este tempo, posso dizer que eles foram o melhor de tudo durante a minha vida como corredor.
Aqui fica um abraço fraternal a todos eles não esquecendo os amigos recentes que a blogosfera corredora me trouxe.
Mas como 30 anos de Corrida merecem ser dedicados a alguém, opto por fazer uma dedicatória a quatro pessoas que, infelizmente, já não estão entre nós:
Ao Professor João Coutinho, que lançou em mim a semente do gosto pelo desporto e pela corrida em particular.
Á minha avó por tudo, sem ela este fundista não existiria.
Ao atleta Francisco Pedro, tragicamente falecido na recta da meta dos 20 quilómetros de Almeirim, porque ao contrário do que os médicos lhe disseram não acreditou que o seu coração de maratonista o pudesse trair.
Ao Sálvio Nora, um exemplo de como se deve estar no mundo da corrida e da vida, um exemplo de humanidade e cidadania. Um homem que nos deixou tão cedo quando tinha tanto para nos dar e que tanta falta nos faz
Dificilmente terei mais 30 anos de Corrida, mas se o conseguir prometo que os relatarei da forma que a tecnologia da altura mo permitir.
Corram!
Lutem pela vossa felicidade e pela dos outros!
Um abraço a todos.
Jorge Branco (Corredor da Liberdade)
A trigésima edição da Corrida do Tejo é um desses números, mágicos, da minha vida, plenos de recordações mas também cheios de futuro.
Quando na manhã de 7 de Junho de 1981 me propunha correr os 9,2 quilómetros que separavam Algés da Câmara Municipal de Oeiras tinha 21 anos, participava na minha segunda prova e tudo cheirava a novo para mim no mundo da corrida.
Naquela manhã de Junho, em Algés, não perspectivava nada para a minha carreira desportiva, limitava-me a estar ali feliz por saborear a minha segunda prova.
Não poderia adivinhar que 30 anos depois havia telemóveis, net, computadores e essa “coisa” chamada de blogue onde viria a escrever sobre esses longínquos 30 anos, agora que tenho meio século de existência neste cantinho do sistema solar.
Quis o destino que o meu padrasto fosse assistir a prova (só deve ter assistido a duas até hoje) e que me tirasse uma foto com máquina emprestada.
Não poderia adivinhar que aquela foto feita por um fotógrafo improvisado (nem hoje com o advento e a facilidade da fotografia digital ele possui máquina e se dedica a essa arte) se tornaria num documento histórico sobre o desenvolvimento da Corrida a Pé em Portugal e Corrida do Tejo em particular.
Volvidos estes 30 anos seria fastidioso fazer aqui um grande balanço da minha vida a calcorrear estradas e caminhos deste Portugal tendo como locomoção apenas as minhas pernas.
Posso dizer que tive a evolução normal de um corredor, passando pela fase da mania da competição e das melhoria das marcas, até aos dias de hoje em corro pelo prazer simples que isso me dá e os únicos desafios em que me envolvo é o correr feliz.
Nunca fui um corredor de fazer muitas provas, antes pelo contrário, mas julgo que atingi os meus objectivos como atleta e que eles se podem traduzir nas minhas modestas 3 Horas 10 minutos e 27 segundos nos mágicos 42,195 quilómetros da maratona e no meu 5º lugar nas 12 Horas de Vila Real de Santo António, com a marca de 101,650 km. em 1987.
Não posso deixar também de referir que ajudei, modestamente, na organização de várias provas, exercendo as mais variadas tarefas, o que me deu um perspectiva dos bastidores das provas, que é tão útil na hora de avaliar e criticar, sempre pela positiva, as organizações.
Aos 50 anos não me sinto velho! Sinto é que já corro há muitos anos e isso dá-me a tranquilidade necessária para olhar a corrida a pé de forma diferente e sorrir.
Posso dizer que todos estes meu 30 anos de corredor foram sempre feitos tendo com pano de fundo o Tejo, pois sempre treinei perto do grande rio, por isso o título deste texto.
Não podendo enumerar todos os amigos que fiz ao longo de todo este tempo, posso dizer que eles foram o melhor de tudo durante a minha vida como corredor.
Aqui fica um abraço fraternal a todos eles não esquecendo os amigos recentes que a blogosfera corredora me trouxe.
Mas como 30 anos de Corrida merecem ser dedicados a alguém, opto por fazer uma dedicatória a quatro pessoas que, infelizmente, já não estão entre nós:
Ao Professor João Coutinho, que lançou em mim a semente do gosto pelo desporto e pela corrida em particular.
Á minha avó por tudo, sem ela este fundista não existiria.
Ao atleta Francisco Pedro, tragicamente falecido na recta da meta dos 20 quilómetros de Almeirim, porque ao contrário do que os médicos lhe disseram não acreditou que o seu coração de maratonista o pudesse trair.
Ao Sálvio Nora, um exemplo de como se deve estar no mundo da corrida e da vida, um exemplo de humanidade e cidadania. Um homem que nos deixou tão cedo quando tinha tanto para nos dar e que tanta falta nos faz
Dificilmente terei mais 30 anos de Corrida, mas se o conseguir prometo que os relatarei da forma que a tecnologia da altura mo permitir.
Corram!
Lutem pela vossa felicidade e pela dos outros!
Um abraço a todos.
Jorge Branco (Corredor da Liberdade)
Jorge Branco, no final do treino, no dia da 30ª edição da Corrida do Tejo
Aguardando a passagem da 30ª Corrida do Tejo.
Parabéns amigo Jorge pelo bonito texto e pela homenagem na 1ª pessoa, que digo eu, é inteiramente merecida.
ResponderEliminarAbraço.
Que foto espectacular Jorge Branco, a ilustrar magnificamente o texto, ou melhor...a ilustrar magnificamente a assinatura do texto, está 5, CINCO estrelas! É isto mesmo a Corrida Jorge. Essa Liberdade, autêntica, até a de não correr hoje ou agora, é isso a Corrida Jorge: Liberdade, numa demonstração pura, a revelar e expor a essência da coisa...
ResponderEliminarFantástico e emotivo texto! Muitos parabéns!
ResponderEliminarO mundo da corrida é mesmo uma coisa que só quem está lá dentro pode sentir. Pelo bem que faz, pelo convívio e... pelo enorme prazer de correr!
E como temos a mesma idade (mas com uma enorme diferença de idade de corrida pois só corro desde 2006), vamos então apontar para daqui a 30 anos, com a bonita idade de 80, estarmos presentes na corrida!
E mais uma palavra pelos fantásticos feitos. 3.10 numa Maratona e correr 101,650 km! Espectacular!
Um grande abraço
Jorge,
ResponderEliminarpois eu fui um dos que travei conhecimento contigo na "net", já conhecia a "raposa manca" lá do fórum, tive o prazer de te conhecer pessoalmente no dia do nosso "3º meeting blogger" e é também uma honra e um privilégio a partilha aqui neste teu/nosso "último km".
Quanto ao teu passado atlético é bem valioso embora como digas decerto que hoje darás muito mais valor a poderes continuar a correr que ao que ficou lá atrás…
Quanto à "Corrida do Tejo" e ainda que só lá tenha estado de 2005 a 2009, anos em que a prova já nada ou pouco teve a ver com a fase anterior, isto é, antes da "nike" lhe ter pegado, penso que tem que se reconhecer que tem um papel importante e permite (a quem gosta) de participar numa prova com uma grande moldura humana.
Para mim e trata-se de um gosto pessoal como é óbvio, não trocava ter estado na véspera em Almeirim pela "Corrida do Tejo", ir às duas já seria uma opção a ponderar (como fiz em 2009).
Gosto imenso da foto em que esperas a passagem da corrida do Tejo, se me fosse permitido colocar uma segunda legenda (e recorrendo a palavras de um poeta) seria:
“…há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz que não…”
Obrigado Jorge (Corredor da Liberdade) continua a brindar-nos com a tua sabedoria.
Abraço,
Corredor do pelotão (do meio para trás).
Grande texto de um grande corredor!
ResponderEliminarCaro Amigo Jorge, é uma inspiração para quem queira escrever sobre corrida... e sobre a vida.
Grande Abraço,
António
lindo texto, jorge!
ResponderEliminar30 anos contados assim, com a vivência de quem experimentou todos os diferentes prazeres com que a corrida nos presenteia... até chegar a esse momento mágico de correr simplesmente pelo prazer, de ser...
um grande abraço!
Abraço Jorge
ResponderEliminarE continuação de bons treinos e provas
JCBrito
Jorge
ResponderEliminarUm resumo de uma vida de corridas que em ti, neste mundo de novas tecnologias, pouco mudou a não ser a barba que de branco se tornou.
O resto está tudo em ti, a liberdade que se não a pudesses gritar devido à mordaça, terias nas pernas a liberdade de correr pelos teus ideais, que cada vez mais estão agrilhoados neste mundo de agiotas e sanguessugas.
Um escrito sentido, um escrito com história. A história de uma vida, que sendo tua passou a ser de todos nós.
Abraços Jorge, tenho muito orgulho em ter-te como amigo e ao teu tio também.
Corria o Tejo azul e o Jorge branco
ResponderEliminarAli estava sentado sobre o muro
Acomodado em alto e rijo banco
Fotografando quem dava no duro.
Mas duro também é o bom do “manco”
Que vendo o mar de gente, em tanto “apuro”,
Lembrou que há 30 anos lá andava
Quando ‘inda nem com a Nike se sonhava.
Ao Jorge Branco (Corredor da Liberdade)
ResponderEliminarComovente as suas palavras e esperançada que daqui a 30 anos estejamos aqui a ler mais uma vez um relato da Corrida do Tejo.
Quanto a mim espero nessa altura ter uma história de corredora para contar pois agora ainda não tenho nada.
E conforme agradece aos que o ajudaram, no meu caso particular vou ter sempre muito que lhe agradecer por todo o conhecimento que transmite e partilha para que possa aprender.
Tudo de bom para si, sempre!