terça-feira, 28 de setembro de 2010

NÃO, NÃO SOU O ÚNICO!

Venho serena e calmamente caminhando pela rua nesta pacata Vila Ribatejana.
Já se começa a sentir algum agradável fresco, de fim de tarde, nesta semana em que o Verão se vai despedir de nós.
Volto de mais uma operação de logística a caminho de casa.
Isto da operação de logística é porque às vezes há que dar ênfase às coisas e tornar o banal em algo especial. Na verdade tratou-se de uma rotineira ida a farmácia, que também se poderia descrever como uma saída para comprar drogas (a língua Portuguesa é muito traiçoeira segundo dizem)!
Bem voltemos ao princípio e eu absorto nos meus pensamentos quando atrás de mim oiço qualquer coisa como tchu, tchu, tchu.
Senti-me estremecer dos pés a cabeça!
Estaria errado?
Os meus apurados ouvidos de fundista de longa data estar-me-iam a trair? Será que eles também acompanharam o lento processo de falência (não fraudulenta como muitas que há por ai) das minhas pernas?
Será que posso dizer que não estou só, finalmente?
Não quis olhar para trás. Não quis fazer o que tantas vezes me fazem.
Pareceram anos aqueles segundos até ser ultrapassado por um jovem corredor que me disse boa tarde!
ATÉ QUE ENFIM! Apeteceu-me começar a cantar: “NÃO, não sou o único!” (mas abstive-me de o fazer para não quebrar vários vidros e evitar uma crise na industria leiteira, pois a vacas da região poderiam deixar de dar leite durante alguns meses!).
Eu, o único alienígena corredor deste planeta (desta Vila quero dizer) encontro outro colega “extra terrestre”.
Com o meu olhar clínico tentei logo fazer uma avaliação do modo de deslocação do veículo ou seja, do estilo de corrida, para tentar perceber de que tipo de “extra terrestre” se tratava. Ainda dei uma olhadela ao tipo de equipamento e lá tirei as minhas conclusões (que muitas vezes saem erradas, pois quem me vê a correr deve pensar estar na presença de um velhinho que fugiu dum lar da terceira idade e não de alguém que já foi meio atleta!).
Só quase a chegar a casa é que me lembrei que aquele “boa tarde” se deve ao facto de eu levar uma camisola que dizia nas costas, e de forma bem visível, CORRIDA DA LIBERDADE.
Também o meu colega corredor deve ter pensado: “NÃO, NÃO SOU O ÚNICO!”
Esperemos por mais outro contacto do terceiro grau e que se estabeleça diálogo já que a nossa língua é universal!

2 comentários:

  1. oi, jorge!!!

    adorei sua narrativa!
    um suspense gostoso, com umas tiradas de humor deliciosas!
    no mesmo instante me lembrei de quando saio pra correr por lugares mais desertos, e começo a ouvir passadas atrás de mim... essa mesma vontade de olhar quem é... e tão bom quando avistamos outro corredor!!!
    e depois de ultrapassados, a mesma coisa, ficar a analisar o corredor pelos equipamentos que leva consigo rsrsrsrsrsrs

    muito gostosa de ler essa sua pequena crônica;)
    é como aqueles filmes que, quando terminam, de tão bons a gente já se põe a sonhar com a continuação;)

    bjs

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  2. Jorge

    Quando comecei a ler o teu tema, lembrei-me de lendas do século passado onde as ruas da minha terra eram alumiadas por lamparinas.

    Segundo se consta, um sujeito ia por uma destas ruas mal iluminadas quando ouviu um toc-toc atrás de si. Olhou para trás e não viu ninguém mas o toc-toc continuava. De repente, surgido não se sabe de onde, surge um homem à sua frente que lhe pede um cigarro. Naquela época os cigarros estavam dentro daquelas cigarreiras metálicas. A medo o sujeito abriu a cigarreira, a luz do candeeiro iluminou a parte de dentro e nela reflectiu a imagem do homem. Ouviu-se um estouro e o ele desapareceu envolto numa nuvem com cheiro a enxofre. Era o demo, e o toc-toc era dos seus cascos. Não sei por que razão é que o demo tem que ter cascos mas quem o inventou deve ter uma razão plausível.

    :))

    Por isso Jorge, tem cuidado, muito cuidado. Nunca leves cigarros contigo.

    :))))))

    Uma história, com Spielberg à mistura, onde demonstras que, afinal, onde moras, há um desconhecido que corre também. Falta só o Encontro Imediato do 3º Grau.

    :)

    Abraços e aplaudo de pé este teu tema.

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