segunda-feira, 2 de março de 2015

TELEMÓVEIS, CORRIDA E SOCIEDADE

O telemóvel é algo cada vez mais presente na nossa sociedade, e não falamos em mundo porque há povos que estão a anos-luz, para não dizer séculos, da nossa forma de vida num mundo tão globalizado mas com tantas, e gritantes, diferenças.
O telemóvel mais que aquele aparelho maravilhoso que nos permitia estar contactável em todo o lado, libertando-nos das grilhetas do telefone fixo, tornou-se num autêntico faz tudo, sendo indispensável à nossa vida diária.
Mas quando falamos em indispensável voltamos ao início deste texto pois povos há que desconhecem por completo o telemóvel e muitos outros conceitos do mundo civilizado até, pasme-se, o dinheiro e conseguem viver sem todas essas coisas consideradas como dados adquiridos no, pretensamente, mundo civilizado. Provavelmente até vivem mais felizes, mais em harmonia com a natureza e numa sociedade mais justa que a nossa mas isto é outra conversa.
Mas se o telemóvel nos veio libertar das amarras do telefone fixo por um lado, veio-nos prender por outro! O normal para início de qualquer conversa para telemóvel não é o como estás mas sim o onde estás!
Parece que deixamos de ter vida própria e somos obrigados a estar sempre contactáveis em qualquer lugar, a qualquer hora.
Confessamos que sempre nos fez confusão aquelas pessoas que expõem toda a intimidade da sua vida em grandes, prolongadas e sonoras conversas em transportes públicos, em restaurantes e sem contar com a tremenda falta de educação que é atender os telemóveis em cinemas, teatros, concertos, etc.
No uso que fazemos do telemóvel temos sempre o cuidado de quando queremos ter uma conversa mais prolongada e pessoal faze-lo quando a pessoa está no recato da sua casa e no restante o telemóvel serve para recados urgentes e rápidos em que é mesmo vantajoso poder contactar a pessoa em qualquer lado.
Também na corrida o telemóvel veio revolucionar tudo, para já com as suas funções “faz tudo” pode ser usado para ouvir musica, controlar o treino, fazer fotos e vídeos etc.
Temos que admitir que a nível da segurança, quer em treinos em locais mais inóspitos e complicados, quer em provas de trail longo (em muitas o seu uso já é obrigatório) o telemóvel faz toda a diferença. Também admitimos que receber e responder a mensagens de amigos em trails longos, e mesmo fazer uma ou outra chamada, pode ajudar muito a vencer a dureza dos trails e a reduzir a angústia de quem está preocupado com a forma como se está a desenrolar a nossa prestação e se estamos em segurança. Quanto à capacidade de tirar belas fotos e vídeos é algo de que gostamos muito pois sem isso não teríamos a blogosfera corredora cheia de relatos de grandes provas de trail, acompanhadas de belas fotos (pese embora uma pequena máquina digital represente um peso quase insignificante no equipamento de um corredor de trail e tenha outra qualidade sempre superior à câmara de um telemóvel). Já o uso do telemóvel para controlar o treino confessamos que preferimos o uso de um relógio com GPS e quanto a ouvir musica no treino é algo que nunca nos seduziu.
Começámos a correr no início da década de 80 do século passado sendo na altura corredores urbanos e o conceito que havia de segurança a nível de treinos longos era levar dinheiro, nomeadamente uma nota, nos calções a fim de apanhar um transporte de volta para casa em caso de problemas com o treino!
Confessamos que nunca o fizemos! Maratonistas e ultra maratonistas sempre adoraram a sensação, única, de estarmos longe de casa e termos que voltar, fosse como fosse, tendo apenas por base as nossas pernas.
Quando vivíamos em Lisboa dizíamos, para algum desespero de familiares e amigos, que se a “coisa” desse para o torto nos deitaríamos para o chão e alguém haveria de chamar o 112! Mas sempre voltámos ao ponto de partida em treinos curtos ou longos! Às vezes não foi fácil!...
Ao virmos viver aqui para o Ribatejo adoptámos outra teoria, para grande desespero e angústia da minha companheira, se houver azar esperamos que passe algum tractor e pedimos boleia!
Aqui para nós que ninguém nos ouve temos de confessar que há locais em que esse tal tractor iria demorar uma eternidade a passar se é que passava!
Mantivemo-nos fieis as estas teorias, nada aconselháveis a nível de segurança, durante muito tempo e sempre longe de levar um telemóvel para o treino!
Para nós correr é um acto solitário, libertário, um tempo só nosso em que cortamos o cordão umbilical com o mundo e que seria estragado se houvesse qualquer possibilidade de contacto com esse mesmo mundo!
Para nós o que faz o corredor de fundo é também o isolamento, o depender de apenas e tão somente de ele próprio!
Mas depois de muitos anos a sentir as angústias da minha mulher comecei o ano passado a levar telemóvel no bolso dos calções em corridas longas! Para o efeito uso um pequeno e leve aparelho, daqueles absolutamente básicos, e que apenas tem a função de fazer e receber chamadas! Vai sempre desligado e esquecido no bolso dos calções e só será usado no caso de uma verdadeira emergência coisa que, obviamente, espero não vir a acontecer!
Confesso que pese embora a minha relutância em relação a telemóveis em treinos esta é a medida mais sensata até porque mesmo o terreno por aqui sendo pouco técnico, acidentes acontecem e já que há tecnologia que pode ser usada nesses casos então que se use! Lembro-me de uma vez ter torcido um pé num treino em Lisboa, num parque, e ter voltado para o balneário (no INATEL) ao pé-coxinho e o que me valeu era ser perto. Ora se me acontece um azar desses por aqui e longe de casa o telemóvel pode mesmo ser útil
Está é a minha relação com o telemóvel e os treinos: desligado no bolso dos calções e só em treinos longos (ou se algum dia participar num trail longo).
Penso que é um conceito muito diferente da “cena” que vi um dia na Corrida das Lezírias, em plena subida da ponte de Vila Franca de Xira: um participante mal tinha fôlego para enfrentar a subida a correr e ainda atendia o telemóvel e dizia, ou esforçava-se por dizer, Olha, vou aqui na Corrida das Lezírias a subir a ponte de Vila Franca! Definitivamente uma “cena” dessas não faz a minha “praia”!

E vocês amigos leitores desde blogue que tiveram a paciência de chegar ao fim deste texto (!) qual é a vossa relação entre o telemóvel e a corrida? Sempre contactáveis e com o aparelho ligado? Desligado e em treinos mais longos? Usam-no para ouvir música no treino? Socorrem-se do aparelho para controlar o treino? etc., enfim contem-nos tudo!

22 comentários:

  1. Gostei desta "posta" e ri-me a valer com algumas passagens com que me identifico. No meu caso, seja corrida curta ou longa, o telemóvel vai sempre comigo só para o caso de ser necessário - e vai ligado. Quando faço treinos com objectivos concretos, nunca sai da bolsinha (sim, levo sempre uma bolsinha onde levo mais algumas coisas importantes, com especial destaque para o papel higiénico - tenho que fazer uma posta em honra da minha bolsinha, pq ela merece). É tb com o meu telemóvel que tiro as fotografias quando faço treinos por locais ou com pessoas especiais.
    Grande abraço

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    1. Gostei dessa do papel higiénico :)
      Muito raramente tive "acidentes" fisiológicos no treino mas já tive de recorrer a folhas para limpar o dito cujo :)))))))))))) O que vale é eu ser um "corredor rural"! :)
      Abraço.

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    2. Papel higiénico nunca levei para um treino! LOL
      Carlos, estás no TOP dos cagõ## :)

      Abraços!

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    3. Que culpa tenho eu de ter uma flora intestinal a funcionar como um relógio suíço, hein????
      E mais...posso não ganhar merda (cá está, estas coisas perseguem-me) de prova nenhuma, mas não conheço outro atleta do pelotão que tenha estrumado tantos países da europa como eu (e com gosto)...tenho dito!! LOL

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    4. Papel higiénico nunca levei!
      Agora lenços :) e já usei:)

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  2. Penso que nunca levei em prova o telemóvel. Em treinos, apenas levo em longos onde vou estar muito longe donde está o carro, apenas por questão de segurança, como referiste.
    No treino deste domingo, levei-o sempre ligado pois queria ver se chegava alguma sms de Sicó!

    Um abraço

    ps - Posso fazer uma rectificação? Nos anos 80 não dizias que te deitavas no chão e chamavas o 112 mas sim o 115 :)

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    1. Tu e os números! Pois eu sei que era o 115 mas se metesse isso a malta nova não entendia nada. Assim entendem os "velhotes" como nós e os "putos"!

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  3. Gostei de ler o texto, com piada em algumas situações, e onde me revi nalgumas!
    Normalmente não levo o telemóvel, pois treino em ambiente urbano, de vila, e em caso de acidente, indisposição ou qualquer outra situação, tenho hipótese de pedir ajuda. Mas já o levei em alguns treinos em que me afasto mais no mato... demasiado até para quem vai sozinho! Já na BTT anda sempre comigo.

    Mas este texto relembrou e reforçou a importância de andar com o "gadget" atrás... vou tentar andar com o telele novamente!

    Abraço

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    1. Por BTT uma vez parti a corrente da mesma e lá a remendei com um arame de uma sebe (!) mas só dava para andar a descer!... Estava longe de casa e não havia telemóveis ainda e tive que vir a pé...
      Ainda apanhei boleia de uma carrinha mas já estava quase em casa!
      Abraço.

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  4. Parabéns pela reflexão, Jorge.
    A minha relação com o telemóvel e a corrida é meramente "interesseira". Só o levo quando sou obrigada ou quando treino sozinha, tarde ou em locais menos povoados. De resto, para fazer aquele treino normal da semana (+-1h) em zonas de corrida nunca levo. Aquele tempo de treino é quando estou comigo mesma, a pensar na vida. Se algo me acontecer, ainda acredita na bondade humana, em que virá alguém em meu socorro.
    Recuso-me, enquanto conseguir, a ser telemóvel-dependente!
    Beijinhos

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    1. Anabela penso que temos a mesma filosofia em relação aos telemóveis!
      Beijinhos.

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  5. Mais um texto incrível Jorge!
    Sou como tu: levo o relógio e não há cá muita nos ouvidos que no treino é para libertar a cabeça.

    Este ano tenho é trazido o telemóvel comigo nos treinos da tarde porque são os dias em que saio do comboio e vou a correr para casa e caso não o fizesse seriam muitas horas sem esse bichinho viciante

    Grande abraço

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    1. Obrigado campeão.
      Numa determinada fase da minha vida também ia a correr do comboio para casa!
      Depois mando-te o link para leres esse texto!
      Abraço.

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    2. Fico à espera então Jorge! ;)

      Grande abraço

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  6. Bom texto Jorge.

    Eu uso o telemóvel (também um pequeno, leve e muito básico) nos treinos longos ou quando vou para Monsanto. Nessas situações vai sempre ligado para que em caso de emergência consiga ligar para alguém ou alguém ligar para mim.

    Em provas é que acabo por abdicar dele, excepto os Trails em que é obrigatório ou algumas provas em que por pressão familiar acabo por o levar comigo.

    A utilização é só mesmo para situações de emergência (felizmente nunca foi necessário) ou para avisar que afinal vou demorar mais tempo do que tinha planeado no treino, para não ficarem preocupados em casa.

    Abraço

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    1. Estou a ver que também tens a minha filosofia em relação ao telemóvel!
      Um abraço.

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  7. Excelente post Jorge!

    Eu não consigo mesmo sequer pensar em levar o telemóvel. Sei dos perigos que podem acontecer num treino longo, mas faz-me confusão levar o telemóvel num tempo que é só meu e que quero estar sozinho com os meus pensamentos. Já a música, quando comecei a correr era indispensável, agora (e já desde à muito tempo) nem me consigo imaginar a correr com phones nos ouvidos.

    Essa de falar ao telemóvel em plena prova (de estrada) também já assisti. Enfim, haja paciência.

    Abraço!

    PS: Eu levo sempre papel higiénico nos bolsinhos pequeninos dos calções ahahah :)

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    1. Viva Vitor!
      Pois eu também não levava mesmo telemóvel nunca até o ano passado e comecei a correr em 1980!....
      Mas, nos treinos longos, ter a minha mulher muito preocupada e nervosa a pensar que já esta viúva (!) fez-me mudar de atitude!
      E depois também tenho de admitir que se tenho algum acidente aqui no meio do nada é um problema!...
      Mas só levo o telemóvel em treinos longos e sempre desligado. Nunca o usei, e espero não ter de usar num treino!
      Abraço.

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    2. Ahhh bom...os campeões afinal tb levam uns lencinhos no bolso!!! Estou mais descansado :)

      P.S. aqui entre nós Jorge, que ninguém nos ouve, para que é que este gajo, o Vitor, leva lencinhos....o gajo é mais rápido do que a própria sombra...caso lhe dê a vontade, ainda não estava verdadeiramente a "picar" no respectivo, e já ele se põe em casa, sentadinho numa sanita confortável a "soltar o javali" ....já aqui o Perneta é que não se pode descuidar, se não é uma merda do caraças :):)

      P.S. 2 - isto começou em telemóveis a acabou nisto :) ...desculpa lá, a culpa é minha!!!

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    3. Tem que ser Carlos eheh :) mas também tenho a sorte de morar na zona de aldeias, então existem sempre sítios onde uma pessoa pode... pronto :)

      Só se está a falar de verdade, é um mal comum a todos :)

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  8. Sempre contactável! Mas reservo o direito de atender quando quero!
    Confesso que uso o telemóvel ( smartphone é ainda mais chique) nas 4 vertentes, telemóvel, gps/registo treino, musica se e quando apetece e câmara fotográfica.

    Como a segurança já não é o que era e com um filho pequeno prefiro andar sempre com ele.

    Mas irrita-me ter sms ou chamadas durante o treino!
    A minha esposa já sabe que só em casos de urgência :)

    Abraço

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    1. Aqui um corredor que usa o smartphone em toda a sua plenitude nos treinos!
      No meu caso quando levo é mesmo um telemóvel básico. O smartphone fica em casa a descansar! :)
      Abraço.

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