Na solidão do corredor “rural”, surge uma pequena camioneta no poeirento estradão.
Texto dedicado a todos os meus novos e bons amigos da blogosfera corredora.
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Fotos obtidas nos primeiros 2,5 quilómetros do percurso. Agora imaginem o resto!
O retorno daquele treino de 15 quilómetros, não há muito que ficara para trás e faziam-se as velhas contas do corredor de fundo, quando a monotonia da estrada é interrompida.
Deste que saíra de casa, às 6:15 da manhã, era o segundo carro que avistava.
Deste que saíra de casa, às 6:15 da manhã, era o segundo carro que avistava.
Uma camioneta com um casal idoso. Provavelmente algum comércio ambulante, que ainda vai resistindo nestes tempos vorazes, ou até mesmo um padeiro.
Por aqui ainda se vê a carrinha da senhora que vende a fruta, a peixeira, o padeiro, a “mercearia móvel” e o moderno homem dos congelados, pertença de uma grande firma e de outros mundos.
Os meus olhos prendem-se na pequena camioneta e no casal idoso, o homem diz-me adeus num aceno com a mão, ao que eu correspondo com igual gesto.
Devo ter sido espanto mútuo: o casal que encontra alguém a correr àquela hora matinal, naquele lugar e corredor que vê quebrada a rotina do seu treino solitário.
Aquele aceno, mais que tudo, sela, de certa forma, o encontro fugaz de dois companheiros de estrada.
A pequena camioneta faz pisca para a esquerda e vira a caminho da Raposa. Ainda vai ter comer um bocado de pó e saltos até lá chegar, penso eu.
Continuo o meu caminho solitário e as minhas contas.
Para já o meu grande objectivo é passar o campo da bola do Granho, mas antes de lá chegar ainda terei um curta subida, mas com alguma inclinação e “alcatifada” a seixos rolados, pela frente.
Finalmente o campo da bola do Granho, onde vislumbro um atleta em treinos matinais: é um coelho, que atravessa o campo de futebol correndo lesto a esconder-se.
À minha esquerda, a estrada que vira para o Granho. Do lado esquerdo dessa estrada, o campo da bola e do lado direito, pachorrentos bois não adivinham o futuro triste que os espera. Em fundo, o casario branco do Granho.
O meu próximo contacto com a civilização é quando atravesso o viaduto sobre a auto-estrada que rasga estas terras e nos atira, brutal e rapidamente, deste contacto com a natureza, onde a civilização parece estar longe de tudo.
Um carro correndo rápido, lá no fundo na auto-estrada. É o terceiro veículo que visualizo, um automóvel, desde que saí de casa. Registo.
O próximo desafio é a descida e a subida do Vale da Louceira. Coisa curta, que não faz jus ao nome, mas ainda dá algum trabalho, tanto mais que tem mais uma bela “alcatifa” de seixos rolados.
Depois do Vale da Louceira é como se já estivesse em casa. Os quatro quilómetros e picos que faltam, descem mais do que sobem e é sempre uma sensação de “está feito”, ao chegar ao cimo dessa subida.
Agora há que passar ao lado do velho e imponente moinho eólico de tirar água, mesmo em frente do curral das éguas, que está desabitado.
A próxima preocupação, é com os cães do Sobreiro do Neto, mas são mais de ladrar do que morder e hoje até estão presos.
Mas antes disso tenho uma visão única da igreja de Muge, que aparece lá no fundo, entre a folhagem das árvores, num visão surreal e ilusória, pois parece bem mais perto do que na verdade está.
Passado que está Sobreiro do Neto, é tempo de olhar o Paul, com as águas totalmente paradas a reflectirem as árvores como um espelho.
Ainda cumprimento um pescador, que não me dá resposta. Provavelmente não está um bom dia para a pesca!
Já vou em “estado zen” e começo a pensar no “portão da casa”.
Aos poucos começo a vislumbrar as instalações anexas ao Palácio.
Corro num estradão largo mas com alguma areia, um pouco mole e socorro-me dos rastos dos tractores para ter um piso mais firme.
Uma velha motorizada passa por mim, deve ter mais anos de estrada que eu!
Provavelmente deve ser um “heróico” motor Zundap e o homem lá vai mantendo o equilíbrio precário no estradão de areia, deixando no ar um cheiro inconfundível de um velho motor a dois tempos, a trabalhar a “mistura”.
Finalmente passo o que resta do portão da “casa”.
Toca o sino da igreja as 8 badaladas, assinalado a hora. Indiferentes a essas questões horárias, as cegonhas lá continuam no seu “Tzero”, bem lá no alto na chaminé do descasque.
Desço, desço em direcção à ponte romana, em direcção a casa, em direcção ao fim das preocupações da minha mulher (já chegaste, ainda bem, já posso dormir descansada!).
Cá temos a curva do Palácio, atravesso a estrada para o outro lado, deixo o minúsculo troço alcatroado, faço um azimute a direito à esquina do quintal do Sebastião.
Estou quase a chegar! Entro pela “rua do Oleiro Maluco”, subo um pouco, viro a direita, passo atraso da casa dos meus saudosos primos e eis-me no largo, à porta de casa!
Cheguei de mais uma “viagem”.
O GPS marca 15,270 km, bem lentos mas muito felizes!
Em plena descompressão ainda passo pelo João Paulo, que vem em sentido contrário de bicicleta. Bom dia! Bom dia!
Devem ser ai umas 8 e 10 da manhã aqui no meu Ribatejo adoptado.
Tenho o dia “ganho”!
.Texto dedicado a todos os meus novos e bons amigos da blogosfera corredora.
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Fotos obtidas nos primeiros 2,5 quilómetros do percurso. Agora imaginem o resto!
Texto lindo, fotos lindas e um rico treino! Parabéns Jorge, venham mais textos assim!
ResponderEliminarGostei muito...
ResponderEliminarUm treino com "sabor" a campo e a frescura, muito diferente dos meus...
Adorei ler, é um poeta!
Beijinho
Estou absolutamente de acordo com os demais comentários: é um relato muito bonito, que denota uma extraordinária sensibilidade para a beleza calma do que nos rodeia. Sente-se a nostalgia, a solidão, a pureza, a paragem no tempo... enfim, aquilo que um maratonista muitas vezes sente nos seus longos percursos, em diálogo consigo próprio...
ResponderEliminarOntem, 13 de Junho de 2011. Lezírias de Vila Franca de Xira. Não há camionetas que trazem peixe ou pão, nem idosos que nos dizem bom dia, apenas carros de trabalho que acessam às quintas de criação de gado, plantação de arroz ou outros. Passam a uma velocidade excessiva e enchem-no de pó. Cavalos, touros, aves, insectos e répteis. Saudades de estar sozinha, de correr e nada temer, apenas... apreciar. Corri quase 2 horas.
ResponderEliminarMuito bonito o seu treino, Jorge. Gostei imenso.
Um beijinho
Ana Pereira
Olá Jorge!
ResponderEliminarTambém fui hoje, há mais de uma semana que não corria, mas na cidade não é a mesma coisa, não tem essa beleza...
lindo o texto, estava inspirado?!.
bj eugénia