terça-feira, 17 de maio de 2011

O SER HUMANO PARA ALÉM DO GRANDE CAMPEÃO

Ainda não refeitos da trágica e absurda morte de Samuel Wanjiru, chegam-nos rumores de que a nossa grande campeão Vanessa Fernandes se encontra a atravessar alguns problemas mais delicados.
A informação carece de confirmação, mas o certo é que algo não vai bem com essa grande senhora do Triatlo que também é uma excelente corredora.
Estas duas situações, e em particular a tragédia que aconteceu com o Samuel Wanjiru, fazem-nos pensar no ser humano que está para lá do grande campeão e quantas vezes é descuidada essa vertente na preparação do atleta.
Esse extraordinário maratonista que nos deixou tão cedo e de forma tão estúpida e a “nossa” Vanessa Fernandes, têm em comum terem começado muito jovens a treinar a altos níveis.
No caso da Vanessa Fernandes é sabido de toda a gente que começou ainda adolescente uma preparação muito forte no Centro de Alto Rendimento do Jamor, sujeita a uma exigentíssima carga de treinos e horários que poucos atletas aguentam.
Pensamos que quando se treinam atletas muito jovens com tal intensidade há que ter particular atenção a todo o acompanhamento psicológico envolvente, o qual não deve versar só a componente competitiva mas toda a formação do atleta como ser humano com as suas fraquezas.
Estes dois casos parecem vir demonstrar que um atleta pode ter uma tremenda força de vontade do ponto de vista psicológico, para se superar nos treinos e nas provas, mas que pode ser fraco psicologicamente, na sua vivência diária como ser humano “normal”.
Pode criar-se o perigo de formar homens que são autênticas máquinas dentro das suas modalidades desportivas mas que depois têm uma total falta de preparação para a vida e não possuem um suporte psicológico que lhes permita ter estabilidade para além dos treinos e das competições.
Os atletas de alta competição são profissionais muito bem pagos, que têm todas as condições para verem o seu esforço coroado de êxito e poderem vir a tirar partido do mesmo, tendo uma vida tranquila e desafogada quando deixarem a competição.
Mas quando se formam atletas de alta competição não se pode pensar apenas que se está a afinar uma máquina como se de um carro de fórmula um se tratasse mas sim que se tem nas mãos um ser humano, que é a mais delicada, bela, complexa e frágil das máquinas.
E quando um atleta de alta competição tem problemas, e não consegue obter os resultados que devia, cai em “desgraça” e se lhe fecham todas as portas, pois para as grandes marcas um atleta só é algo de válido quando se obtêm um retorno financeiro em torno do que se investiu nesse mesmo atleta, nessa altura tem que se lhe dar a mão e ajudá-lo a voltar ao caminho certo para não sermos surpreendidos por notícias trágicas como a da morte desse extraordinário atleta que foi Samuel Wanjiru e que viajará para sempre em cada passada dos maratonistas, sejam eles atletas de elite ou simples corredores de pelotão.
Original da foto que ilustra este texto pode ser vista aqui.

5 comentários:

  1. Excelente texto dum tema que tem que ser muito bem reflectido. Por todos.

    Um abraço, Jorge

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  2. É um assunto que nos deve fazer refletir a todos. Obrigado por nos fazer lembrar este lado do desporto.

    abraço
    MPaiva

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  3. Infelizmente, casos destes são frequentes, no desporto de alta competição. E o problema começa precisamente na ambição desmedida das pessoas que gerem a carreira desses atletas: clubes, treinadores, empresários, patrocinadores... e por vezes, a própria família! Se estas pessoas olharem o atleta e virem apenas a sua própria fama pessoal e a quantidade de euros subsequente... os casos dão-se! Muito oportuno ter trazido a questão à baila, amigo Jorge!
    Um abraço!

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  4. Jorge, formar seres humanos fortes ou fracos começa no berço, nos pais. Depois na escola, e todos os professores, educadores, formadores, treinadores, etc., têm o seu papel na formação do carácter da criança e adolescente, e depois adulto, pois sofremos influências de todo o lado, ao longo da vida.

    Mas sempre começa e deve sempre ser acompanhado em casa, dentro de portas. Infelizmente, demasiadas vezes desculpabiliza-se o papel dos pais para acusar os Professores e afins. é mais fácil acusar a sociedade que olhar bem para o que fazemos (bem ou mal) no nosso papel de educadores/formadores dos indivíduos.

    Cabe-nos a todos sermos melhores. Para criarmos pessoas também melhores. Infelizmente muitas vezes outros valores se levantam e o "melhores pessoas" transforma-se depressa em melhor atleta, melhor aluno, melhor profissional, etc etc, por aí fora, e esquecemos a pessoa,o tal ser humano que às vezes nos surpreende pela negativa porque afinal não era aquilo que a imagem que se criou.

    Quando num clube de bairro, em que a minha filha de 8 anos na altura, e numa reunião de pais, uma mãe em resposta ao dirigente que valorizava precisamente a formação do indivíduo (crianças), fomentando a participação, o espírito de equipa, a camaradagem, e o trabalho sim, mas não tendo a Vitória e as medalhas como principal objectivo, uma mãe diz a bater no peito que temos de ensiná-los a GANHAR, A TER SUCESSO NA VIDA, A TRAZER MEDALHAS PARA CASA... está tudo dito...

    Em meu entender, ter sucesso na vida não era, não é, nem nunca será ganhar medalhas, nem que sejam as do ouro! A vida, e ter sucesso nela, vai muito além disso, mas isto só eu que penso....

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  5. Li numa revista, do DN, salvo erro, algumas considerações sobre a crise que parece afectar a Vanessa. Naturalmente que são casos muito complexos, como se diz nestes comentários, e, quanto a mim, inseridos, perfeitamente, na sociedade que, cada vez mais, é apelidada de "óptima", onde só contam os sucessos, mesmo que efémeros e, muitas vezes, fruto do acaso.
    Pretendem-se construir prédios sem alicerces, confundindo formação com especialização, para daí retirar alguns dividendos, pessoais, comerciais, ou outros, tratando as pessoas como se fossem máquinas, sem vontade própria, sem outras necessidades, que só intressam enquanto estão no auge produtivo, depois... são trapos ou lixo!

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