quarta-feira, 31 de março de 2010

16ª. MARATONA DE ROMA *Por António Belo*

No passado dia 21 de Março, na sequência do que tenho feito nos últimos anos, juntando a vertente turística à desportiva, participei na Maratona de Roma que, nesta edição, homenageou o primeiro atleta africano negro a ganhar uma medalha de ouro olímpica, na maratona disputada à noite, pelas ruas da cidade, iluminadas por archotes, que o recorda na sua toponímia e que, no já longínquo ano de 1960, correu descalço para a vitória no tempo de 2 horas 15 minutos e 16 segundos!

Cinquenta anos passados, as maratonas sucedem-se por quase todas as cidades e países, só em Itália realizam-se mais de 60, aliando o desporto ao comércio e, em alguns casos, à solidariedade. Aqui, foram, segundo a organização, cerca 85.000 os que participaram com o último, e importantíssimo, objectivo. Ou seja, na manhã daquele domingo o Coliseu voltou a “ver”, agora no exterior, um número de pessoas (mais de 100.000), provavelmente superior ao que assistiram aos grandes jogos que caracterizaram o império romano, com a grande diferença de estes serem participantes!

Embora com nuvens, a temperatura estava óptima para a prática da corrida e, por isso, muitos dos participantes na maratona, tal como eu, nem utilizaram o “metro” para chegar ao local de partida, ali bem próximo do Coliseu e do Arco Constantino. As habituais “retretes móveis”, colocadas em vários locais, eram fáceis de encontrar, tais as filas que cedo se formavam para aliviar a carga a transportar.As roupas, metidas exclusivamente nas mochilas oferecidas pela organização, ficavam também nas proximidades, uma vez que a prova tinha ali o seu fim.A zona da partida estava dividida em quatro áreas, de acordo com os tempos fornecidos pelos atletas e, embora tivesse entrado com bastante antecedência, pareceram-me com espaço adequado.Naturalmente que chegar cedo tem algumas vantagens, dá para falarmos com os companheiros de viagem e, pelo tom com falamos, chegarmos aos ouvidos de outros “nacionais”, assim, tivemos o privilégio de conhecer um atleta do Vitória de Guimarães que, com a esposa (colocada noutra área) se propunha “levar o sonho até à meta”!Claro que também há desvantagens, apesar da passagem pelas retretes os altos e velhos muros laterais não escaparam a mais uma “regadela”, e até o chão mostrava que, ali, as pessoas de sexos diferentes usavam a mesma posição - a de cócoras.Curiosamente, e apesar da minha longa experiência, em partidas de maratonas muito participadas, não tinha dado por tal processo de“desenrascanço”. Talvez andasse distraído!
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Como as “novas tecnologias” também tinham o seu lugar, neste caso a transmissão directa por um dos canais de televisão, a hora da partida, 9 horas, foi atrasada cerca de 20 minutos, tal como, já há alguns dias, rezava o texto da página electrónica. Iniciada a função, certamente a principal para a grande maioria, restava-nos apreciar o desenvolvimento da mesma. Mesmo com partidas separadas, os primeiros quilómetros, muitos por vezes, são percorridos a ritmos mais lentos e com cuidados redobrados, devido ao pouco espaço que nos fica à frente dos pés. Isto não é novidade. Passada esta fase de adaptação, onde “encalhámos” com um companheiro de alguns treinos longos de domingo, e que viria a fazer o melhor tempo (cerca de 3h11m), pelo menos entre os nomes conhecidos, avistámos, eu ia com outro habitual companheiro, os “balões das 3h15m” (havia balões com 3h, 3h15, 3h30… até às 5h) e, embora nos ficassem ainda a uma distância considerável, marcámos como objectivo a “chegada àquele numeroso grupo”. Nestas coisas de ritmos, humildade à parte, sou eu que os defino e, por isso, desenhei a estratégia a seguir – chegar ao grupo (tínhamos percorrido cerca de 10 quilómetros) e “ficar por ali”, pelo menos até aos 30/35 quilómetros, pois a companhia de um grande grupo até nos faz sentir “Atletas”.Como os planos nem sempre são cumpridos, fui “perdendo” aquele grupo, enquanto o outro amigo quase cumpria o objectivo, gastando apenas mais dois minutos.Apesar da longa experiência em provas de quilometragem igual ou superior à maratona, a “nossa máquina” reserva-nos sempre algumas surpresas, desta vez“negou-se” a fornecer o oxigénio necessário para implementar o plano, provavelmente para me alertar que a juventude diminui enquanto a idade aumenta, limitando-se, a partir dos 27 quilómetros, a fornecer carburante apenas para curtas distâncias, que não iam para além dos 300 metros, mesmo assim foi obrigado a chegar até à meta. Talvez daqui a alguns dias escreva outro texto sobre estes acidentes, de uma forma mais detalhada e com bases mais científicas!

O percurso, quase de ida e volta, era bastante fácil, raros e pequenos declives (viadutos) e uma subida mais acentuada na entrada do “Último Km”, sendo o piso o elemento menos “amigável”, para além das tradicionais calçadas, ou não estivéssemos em Roma, também grande parte do asfalto era agressivo, pelos abatimentos e pelas fendas. Para compensar tivemos, ao longo de quase todo o trajecto, a companhia de um numeroso e entusiástico público. Os tempos de passagem estavam bem visíveis no fim de cada légua, assim como na meia maratona e, para que ninguém se enganasse, embora sem tempos, as milhas terrestres também tinham os seus números.Surpreendente, foi a informação disponibilizada, em arcos insuflados, sobre os locais históricos e turísticos por onde estávamos a passar: Circo Máximo; Praça do Povo; Vaticano; Fonte de Trevi; Praça de Espanha; etc.

Os abastecimentos estavam de acordo com a informação disponibilizada, água, bebidas isotónicas e vitamínicas, bananas, laranjas, açúcar, etc., embora a distância entre as mesas devesse ser maior. As esponjas estavam disponíveis nos intervalos dos abastecimentos (7,5 kms, 12,5 kms, etc.) como é mais usual.Após ultrapassarmos a meta e recebermos o bonito medalhão, tínhamos um amplo espaço onde se distribuíam as equipas de assistência. Curiosamente, talvez pela disposição da saída dos atletas chegados e por ter permanecido algum tempo naquele local, só ali me apercebi do elevado número de participantes que requerem assistência médica, não só local, mas também hospitalar.

Apesar de colocarmos os condutores italianos no grupo dos que menos respeito têm pelas regras de trânsito, não me recordo de ter ouvido as buzinas dos carros a pedirem para “correrem” com os maratonistas das ruas. Naquele dia, Roma foi uma cidade em festa!

É uma maratona que aconselho e, tal como rezava a publicidade à prova - Start Your Dreams.
António Belo

3 comentários:

  1. Parabéns pela participação e pelo relato, fiquei sem saber a marca, mas isso se calhar é o que menos importa.
    Um abraço.

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  2. Caro Amigo Belo,
    Magnífico relato! O que mais me surpreendeu, apesar de tudo, ainda foi a falta das buzinadelas dos "comendatori". Quando poderemos dizer o mesmo dos nossos pouco civilizados (alguns) automobilistas?

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  3. Caro amigo Belo,
    Muitos parabéns pelo relato e pela tua prova. Para um rapaz de 60 anos 3h40 é um excelente tempo, embora costumes fazer bastante melhor.
    Já vi o vídeo da tua chegada à meta com o Coliseu como fundo. Lindas imagens!
    Fiz esta Maratona em 2008 e também gostei muito e recomendo.

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