terça-feira, 8 de dezembro de 2009

24ª MARATONA DE LISBOA ALGUMAS CONSIDERAÇÕES




Tendo estado algumas horas a observar (e a incentivar) a passagem dos atletas da 24ª Maratona de Lisboa (e das outras provas que decorreram em simultâneo) quero deixar algumas opiniões.
São ideias muito pessoais e que gostaria de ver aqui debatidas.
Nesse sentido, além dos normais comentários, quem quiser elaborar algum texto maior e mais aprofundado pode enviar-mo por e-mail a fim de ser publicado.

Policiamento

Segundo li na Revista Atletismo (suplemento Mundo da Corrida) o policiamento da Maratona teve uma projecção de custos de 9780 euros!
O que quer dizer que a realização de uma prova em Lisboa começa a ser proibitiva, com preços escandalosos.
Penso que não é assim que se incentiva a prática desportiva e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Mas além de questionar o elevado preço com as despesas de policiamento atrevo-me a por em causa a relação qualidade-preço do serviço prestado pelo policia.
Não falo da competência dos agentes no terreno (que foi impecável no local onde pude observar a mesma) mas sim na fórmula como são em geral estabelecidas as regras a usar quanto ao corte do trânsito durante a (as) prova (as).
Estive a observar o desenrolar da prova no cruzamento da Avenida Gago Coutinho com a Avenida dos Estados Unidos da América.
Constatei que o trânsito no sentido do Areeiro não foi cortado e a polícia ia escoando o tráfego nos intervalos em que não passavam atletas.
Nunca houve problemas devido à perícia e competência da polícia que controlava aquela zona.
Mas era arrepiante ver o trânsito a ser escoado entre as pequenas brechas em que não passavam atletas, sendo feitas algumas vezes verdadeiras tangentes.
Por 9780€ o trânsito não poderia ter sido cortado na totalidade da prova?
Irão as organizações ter de continuar a desembolsar verbas escandalosas para o policiamento das provas e continuarmos a assistir a cenas como as que vi no passado domingo, com uma fila enorme de carros parados, buzinando freneticamente, enquanto os atletas passavam? Policias escoando o trânsito nos pequenos períodos em que não passavam atletas. Policias discutindo com condutores menos “bem-dispostos”. Será que quem está a entrar para o último quilómetro de uma maratona merece ser “saudado” por um coro, ensurdecedor de buzinas?
E que imagem levarão os corredores estrangeiros que nos visitam de tudo isto, habituados que estão às maratonas sem carros?
Isto foi o que assisti apenas num ponto do percurso mas pela experiência que tenho de participar em provas em Lisboa posso imaginar o resto.
Em Lisboa nunca se usa a prática de cortar efectivamente o trânsito mas sim conciliar este com as provas, fechando-o o mínimo tempo possível e até mantendo-o em sentido contrário à prova ou no sentido da mesma, quando há mais de uma faixa de rodagem.
O interessante é que se houver uma qualquer cimeira envolvendo importantes personalidades o trânsito é rigorosamente cortado em vastas áreas e durante horas!

Maratona - Meia Maratona - Maratona Por Estafetas – “Prova Familiar”

Actualmente em Portugal é assim:
Uma maratona não tem o direito de “viver” sozinha!
Tem sempre que ser acompanhada por alguns parentes!
Até compreendo que, com o preço proibitivo do policiamento (e outros custos), as organizações sejam levadas a fazer outras provas conjuntamente com a maratona pois aumentam o número de atletas, o que é bom para a imagem da prova e para os patrocinadores.
E usando parte do percurso da maratona (como foi feito em Lisboa) com os mesmos gastos no policiamento e muito mais gente a correr, até se pode dizer que o custo por atleta diminui.
Também sei que há atletas que dizem que os ajuda muito a “boleia” dos corredores da meia maratona.
Mas também há os que falam em sentido contrário.
Na minha opinião a Maratona deve ser feita sem mais prova nenhuma.
Não passa pela cabeça de ninguém organizar conjuntamente um jogo de futebol de onze e um de futsal!
Não acho que seja moral um sujeito acabar uma prova ao lado de outro que fez meia prova!
Tenho todo o respeito por quem corre a meia maratona (como até é o meu caso presentemente) mas no dia de fazer uma maratona toda a atenção deve ser dada a esses heróis que enfrentam os míticos 42,195 quilómetros sem confusões com outras provas a correr paralelamente.
Um maratonista deve correr entre os seus pares e não com atletas que vão fazer metade do esforço (ou muito menos dos caso das estafetas).
Outro problema com a realização da maratona em conjunto com outras provas passa pela falta de espectadores e a educação dos mesmos.
Como se vai motivar alguém para ver uma prova quando na verdade são duas ou três ao mesmo tempo?
Como valorizar o esforço dos maratonistas se vai tudo misturado e é complicado distinguir quem vai a correr o quê?
Eu próprio, senti-me um bocado estranho ao incentivar atletas que enfrentavam o último quilómetro sabendo que para uns isso significava 41 nas pernas e para outros 20!
Depois, sendo já muito complicado fazer os corredores portugueses correrem a maratona, se no mesmo dia podem participar na festa apenas com meia dose, ainda mais difícil é motivar atletas para a prova rainha do atletismo.
Para mim a maratona é para se fazer sem misturas! Sei que é uma afirmação polémica mas não serei o único a pensar assim.

Aqui fica minha modesta opinião sobre os dois pontos que me foram dados a observar como espectador anónimo da prova.
Não quero deixar dar os parabéns à XISTARCA por esta iniciativa e por todo o esforço posto na mesma.

Infelizmente não me foi dado observar a Maratona do Porto por questões logísticas mas espero colmatar essa falha para o ano com a minha presença ou socorrendo-me da colaboração de algum amigo presente.

Quero apenas finalizar afirmando que não sou a favor de uma prova contra a outra, pois não é esse o meu espírito, nem o deste blogue.

Se eu organizasse uma prova tentaria fazer o melhor possível mas se vir que um “vizinho” meu organizou uma melhor fico feliz por ele, por todos os que participaram na iniciativa, e tento no ano seguinte melhorar a minha prova, vendo o que falhou e o que “vizinho” fez melhor que eu.
Escrevo estas linhas finais apenas porque há pessoas que gostam de pôr as organizações das provas umas contra as outras e esquecem-se que todos devemos trabalhar em prol da defesa da modalidade e ajudar-nos mutuamente.
A minha luta na corrida é apenas comigo próprio, no sentido de terminar as provas e objectivos a que me propus.
Este esclarecimento tinha que ser dado porque não quero ver envolvido o meu (nosso) blogue em pretensas (e absurdas) guerras Norte-Sul e o não comentário à Maratona do Porto podia dar azo a alguns equívocos.
Mas conforme já disse para o ano tentarei colmatar essa falha.
As minhas desculpas aos homens da Maratona do Porto por eu não ter podido marcar presença mas os tempos andam difíceis...
JBT
Dezembro 2009
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Amigos,

Concordo com quase tudo o que foi afirmado pelos que aqui se pronunciaram sobre a Maratona de Lisboa. Até com o facto de a maratona dever ser corrida sem mistura com outras provas. Posso até contar o que se passou comigo quando fiz a minha primeira maratona, no autódromo do Estoril e terminava, salvo erro, com uma pequena subida. No troço final houve um amigo que tinha ido apoiar que me quis ajudar, correndo ao meu lado as últimas centenas de metros. No entanto recusei porque me pareceu na altura (e continuo a senti-lo) que estaria ao ser ajudado a diminuir o meu esforço para completar a maratona, porque na verdade, estava a competir acima de tudo comigo mesmo e a querer obter o melhor resultado possível nessa luta comigo próprio. Penso que isto define o sentir da grande maioria dos atletas de pelotão que terminam a prova rainha do atletismo, ao menos uma vez na vida.

Outro aspecto desta maratona é que, ao atravessar no dia 6 de Dezembro de 2009 o Estádio 1º de Maio (que conheço tão bem, de tantas manhãs e madrugadas ali passadas a treinar), cerca de uma hora antes da partida maratona, pareceu-me estar no estrangeiro!! É que a grande maioria era constituída por atletas de muitas outras nacionalidades. Pareceu-me viver por momentos o microcosmos de uma daquelas grandes maratonas, de Londres, de Nova Iorque ou de tantas outras... e fiquei contente por isso, ou não fossem estas provas também enormes palcos de um sentir colectivo, onde só o desportivismo impera, sem olhar a diferenças da cor da pele ou quaisquer outras. Tive pena depois que a prova, devido à de falta de público a assistir, ao coro das businadelas dos condutores incivilizados e incompreensivos, se afastasse tanto do que são, noutros lugares, essas grandes manifestações desportivas.
EVB
15 de Dezembro de 2009

6 comentários:

  1. Caro Jorge
    Apreciei o seu texto e felicito-o pelo conteúdo. Aliás, subscrevo inteiramente tudo quanto disse, desde o policiamento de custos astronómicos que comprometem o orçamento de qualquer organização até à realização de provas associadas à Maratona.
    Quando nos queixamos da falta de público, temos o dever pedagógico de fazer com que as pessoas percebam que espectáculo é aquele que estão a ver. Se o que lhe damos é uma "amálgama" de provas, o resultado permite uma boa fotografia, mas não se torna perceptível para o espectador (que a maior parte das vezes não repara no sponsor do dorsal para distinguir as provas, nem tão pouco sabe que há mais que uma prova a decorrer). Se mesmo um espectador informado, como é o caso do Jorge Branco, teve muitas vezes dúvidas, que dizer do cidadão comum? Se percebia pouco (mas sabia que o 1º a chegar ganhava a corrida), ficou a perceber menos (quando lhe dizem depois que, quem ganhou a Maratona, foi o de camisola aos quadrados e não o de amarelo, que até vinha à frente)!
    No meu blogue, já teci também alguns comentários a esta Maratona de Lisboa, que já fiz várias vezes, e que gostaria de ver crescer.
    Quanto à Maratona do Porto, que tenho a sorte de ser totalista, é uma prova que me encanta, quer pela Organização cuidada que tem e pelo carinho com que trata os atletas (TODOS) como pelo percurso fabuloso que tem. Não é que eu goste de fazer comparações, porque sabemos que cada uma das organizações faz o melhor que pode e, só por isso, já merecem o nosso respeito e admiração. Mas às vezes fazem-se coisas que...

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  2. Normalmente não comento comentários (!) até porque não quero transformar o blogue no fórum.
    Mas não posso deixar de agradecer este comentário de um grande senhor do atletismo que, como sempre, disse tudo o que havia para dizer, claramente e em poucas linhas.
    Pois é caro Fernando Andrade não era nada fácil andar a procura do sponsor no dorsal para distinguir os maratonista “perdidos” no meio das “toneladas” dos meia maratonistas.
    Mas descobri um facto curioso: Pelo estilo corrida, de olhar, de expressão do rosto, muitas vezes dizia para mim: este tem cara de maratonista! E depois confirmava isso pelo dorsal!
    Ser maratonista é algo de especial, acabar uma maratona é algo de único e quem já anda nisto há uns anos consegue-os distinguir pelo aspecto!

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  3. este foi um poste que eu escrevi no facebook acerca deste mesmo assunto

    mais uma maratona corrida - desta vez a da minha cidade
    e precisamente por ser a da minha cidade gostava de deixar aqui um reparo à organização
    a maratona é a prova rainha do atletismo e assim não gostei de ver quem teve que correr 42 km para chegar ao estadio depois entrar lado a lado com quem só correu 21
    espero que quem correu os 21 km não me leve a mal mas em dia de maratona a "gloria" deve ser exclusivamente dos maratonistas
    não me acho mais que ninguem por ser parvo o suficiente para me por a correr 42 km mas esta é a minha opinião - em dia de maratona não devia haver provas paralelas ou então partiamos todos juntos e depois quem vai para metade para a meio
    não acho justo alguns começarem quando outros ja tem 21 km nas pernas

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  4. Na verdade, concordo em pleno, com as palavras do Jorge Branco e acrescento, que no meu caso, que corri a " Estafeta " terei prejudicado mais os que corriam atrás de mim, do que terei beneficiado das "lebres" que me antecediam.

    Para "rentabilizar" a Prova, quem sabe aproveitar o "policiamento" e organizar outra Corrida (6 <-> 10kms), meia-hora depois, no mesmo trajecto.

    Mas reconheço que não é a melhor solução, em termos de imagem, para a Maratona de Lisboa.

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  5. 24ª. Maratona de Lisboa

    No passado domingo, 6 de Dezembro, lá estive na linha de chegada, em plena pista do Estádio 1º. De Maio, desta vez para concluir a minha 51ª. “Prova Rainha”.
    Como participante, aqui estou a tecer algumas considerações que, certamente, complementam o texto do Jorge.
    - O percurso:
    Embora muitas vozes se levantem contra “as várias passagens” pelo Terreiro do
    Paço, não restam dúvidas que é o percurso mais plano e, por isso, julgo que tudo
    o que houver a fazer para melhorar a prova, passará pela “optimização” dessa
    faixa à beira-rio. Já tivemos várias maratonas com início e fim junto ao Mosteiro dos Jerónimos, isto antes da remodelação da zona agora conhecida por Parque das Nações, ou seja, actualmente podemo-nos “estender” desde aquele local até, pelo menos, ao Estádio Nacional, não indo para além de duas passagens pelo mesmo sítio.
    Não é fácil arranjarmos percursos planos dentro de cidades com estas características, veja-se quantas “escolhas” já foram feitas para a Maratona de Madrid! A opção por 2 voltas também tem algo de “facilitador” em termos de trânsito, policiamento e até de espectadores, embora no nosso caso tal só se aplique aos estrangeiros que nos visitam. Não é por acaso que outras cidades alinharam nesta opção – Porto, Havana, Roterdão, Estocolmo, de entre outras.
    - A Credibilidade:
    Para termos uma maratona “credenciada” não basta que a façamos publicitar numa das conhecidas revistas internacionais, é preciso que os participantes se sintam acarinhados e respeitados, ou seja, que a organização faça cumprir os requisitos mínimos, refiro-me ao controlo nas passagens que podem “sugerir” alguma falcatrua – porque não há um tapete no ponto de retorno? Podemos contrapor dizendo que quem vem para fazer a Maratona não se importa que alguns optem por uma distância mais curta, no entanto, são os vários pormenores que contribuem para a verdade da prova e para que ela seja “desejada”.
    - Animação:
    Temos como princípio que somos tristes. Embora haja excepções, comparando com outros países, não alinharia por tal afirmação, é verdade que não temos espírito, educação melhor dizendo, de participação, e, pior ainda, nada fazemos para alterar tal estado. Então, vejamos: na Maratona realizada em Abril de 2004 não houve vários grupos de animação ao longo do percurso? Não tivemos a companhia, tal como acontece na maioria dos países, de entusiásticos colaboradores em todos os abastecimentos?
    Não restam dúvidas que, mais uma vez, tudo se baseou nos “velhos”, contrariamente ao que acontece, ou acontecia, em Madrid, onde tal papel é quase exclusivo dos alunos das escolas, mas… mais vale isso, do que nada!
    - O Futuro:
    Há aspectos que estão bons, até muito bons, pelo menos na zona de tempos em que corri, como é o caso dos abastecimentos, em quantidade e qualidade, e o serviço de massagens na zona da meta. Depois desta análise, acredito que é possível Lisboa vir a ter uma “Maratona à altura”, provavelmente depois de a mais recente “Maratona do Porto”, com o habitual e saudável bairrismo, e apesar do empedrado da zona da Afurada, se afirmar como a melhor e a mais concorrida.

    António Belo

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  6. Sem ter lá estado, limito-me a acompanhar o que se passou na Maratona através dos blogs. Obrigado pelo seu esclarecedor relato.
    JP

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