segunda-feira, 13 de junho de 2016

UM METRO E MEIO DE RESPEITO

Texto e foto: Mário Fonseca 

Um metro e meio de respeito.
Nunca pensaste que irias ouvir pela ultima vez aquele pedido disfarçado de aviso.
—Vai com cuidado amor/filho/filha/pai/mãe/irmão/irmã/avô/avó.
—Já ando nisto há tantos anos. Sabes que tenho sempre cuidado. Não te preocupes. Não demoro. Adeus.
—Até já — disse rapidamente, interrompendo-te a despedida.
—Até já, então.
Nunca pensaste que irias faltar com o prometido.
Desculpa...
Não sabias que momentos depois, ouvirias um barulho a aproximar-se e, numa fracção de segundo, o barulho passaria a estrondo e o Mundo deixaria de obedecer às leis da física. Não sabias que tudo aceleraria à tua volta, que tudo mudaria de sítio, que tudo se transformaria, que tudo se partiria e que deixarias de sentir o que quer que fosse.
Não sentiste nem voltarias a sentir mais nada.
Mas... Não faz sentido.
Eu trazia protecção.
Eu vinha com atenção.
Eu vinha a ocupar o meu espaço.
Eu vinha a cumprir as regras.
—Não sabia que estavas com tanta pressa. Não sabia que estavas atrasado(a) para o trabalho. Não sabia que estavas embriagado(a). Não sabia que estavas drogado(a). Não sabia que estavas anestesiado(a) com anti-depressivos. Não sabia que estavas a discutir. Não sabia que estavas distraído(a). Não sabia—
Não sabias que te iam fazer faltar com o prometido.
Não sabias que não te iam deixar voltar a casa.
Nunca pensaste que irias ouvir pela ultima vez aquele pedido disfarçado de aviso.
Vai com cuidado amor/filho/filha/pai/mãe/irmão/irmã/avô/avó.

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