domingo, 14 de fevereiro de 2016

UM “VENTINHO” BRUTAL!

Sempre gostei de desafiar condições meteorológicas muito adversas em treino e já passei por alguns treinos em que tudo se torna mesmo um bocado complicado.
No “menu” de hoje tinha uns 42 a 44 km de bicicleta que eu pretendia pacíficos e calmos. Não haveria de ser nada de especial porque é distancia que eu já tenho nas pernas neste meu regresso às pedaladas.
Tudo se complicou quando ontem comecei a ver as previsões meteorológicas aqui para o distrito de Santarém: vento com rajadas até aos 90 km/h e chuva.
Comecei a ver em perigo a minha voltinha de bicicleta.
Hoje quando acordei às 6 da manhã (sim, eu levanto-me com as galinhas!) a chuva era mais que muita mas isso não era nenhum drama, o problema estava no vento com rajadas bem fortes.
Em situação normal deveria sair com a minha Princesa lá para as 7:30 quando já há condições de luz para pedalar com segurança mas com aquele tempo tive de renunciar a essa ideia e muito contrariado meti-me a ver televisão.
Lá pelas nove horas da manhã desponta um belo sol, mas continua o vento, e eu resolvo arriscar e ir experimentar dar uma volta, mesmo que não fosse o previsto, pelo menos fazer alguma coisa. Do que me havia de lembrar!
Um bocado a apalpar terreno dou uma volta pequena aqui pela zona, o vento estava complicado mas lá se ia fazendo.
Acabo por me aventurar a ir até Marinhais e logo na EN 118 apanho com duas rajadas laterais que me tornam difícil segurar a bicicleta.
Atravesso Marinhais na diagonal com vento de costas e é uma maravilha que vou à vela!
Não chovia e o problema era “só” o vento e acabo por me decidir em ir até a Glória, pelas Janeiras, e depois Cucharro, Granho e Muge (casa).
Lá vou até à Glória, umas vezes com vento mais de frente, outras mais lateral e algum de costas. A coisa ia-se fazendo embora não fosse fácil e muitas vezes tive de me socorrer de mudanças que parecia que estava num prémio de montanha de primeira categoria quando na verdade estava em terreno plano ou a subir ligeiramente.
Da Glória para o Granho a situação complicou-se mais, o vento era mais de frente, no Cucharro tive que fazer algumas subidas com mudanças mesmo muito leves e em andamento que a correr a pé iria mais rápido.
Chego ao Granho, lá faço toda a rua principal com um vento meio de lado, meio de frente e chego à estrada que liga Muge á Gloria.
Daqui para Muge a estrada desce mais que sobe e os cerca de 6 km são algo que se despacha muito bem em condições normais.
Mas o dia era tudo menos normal!
Assim que viro à direita no sentido de Muge dou de caras com uma “parede” de vento de frente, mas uma senhora “parede”.
Começo a fazer a primeira descida mas onde está a descida? Vou a descer e tenho de usar uma mudança quase equivalente a como se fosse em sentido contrário ou seja a subir. Avançar é mentira, o vento empurra, empurra, empurra para trás!
A muito custo lá chego à ponte do Coalheiro e o que vinha a prometer desde o Granho acontece: começam a cair a primeiras e grossas gotas de chuva. Há muito que um céu carregado de negro ameaçava cair-me em cima da cabeça!
Por esta altura estaria a uns três km de casa, mas que três km!
O vento é brutal, a chuva até magoa e para ajudar à festa cai granizo!
Vou na mudança mais leve que tenho, uma mudança que raramente uso por estas paragens pois não há altimetria para ela, e quase não consigo avançar, tenho a certeza que vou bem mais lento do que se fosse a correr a pé!
Tento vencer não cada metro mas sim cada centímetro, pedalando contra uma chuva gelada, e um vento muito forte. O desespero é muito e chego a pensar em parar e ir a pé, que seria mais, fácil julgo eu! Mas lá vou resistindo, tentando alcançar pequenos objectivos, aquela árvore, aquela poça, aquela curva e cerro os dentes. Aquilo metia medo!
Quando finalmente atinjo as primeiras casas de Muge o vento dá mostras de abrandar e lá consigo meter uma mudança mais pesada e aproveitar um pouco a ligeira descida.
Os 42/44 km previstos transformaram-se nuns 36,640 km, provavelmente os mais complicados que já fiz em cima de uma bicicleta, e um dos treinos com condições atmosféricas mais adversas de sempre, mesmo considerando o meus 36 anos de ligação com a corrida, uma maratona com chuva granizo e vento e a primeira edição Crosse da Serra do Açor debaixo de um enorme temporal.
Mas não fosse um joelho que anda meio “gripado” o saldo é positivo, estou feliz, vivo e ganhei ao São Pedro mas por muito pouco.
De notar que a minha bicicleta é uma velhinha BTT de 1991, uma excelente máquina na altura, a qual tive de alterar a posição de condução com um guiador sobrelevado pois a minha coluna não permite andar inclinado na BTT ou seja a posição de condução não pode ser pior no tocante a vento de frente!
Este texto é dedicado ao Egas Branco, ao João Lima e ao Carlos Cardoso meus amigos e amigos dos temporais!


12 comentários:

  1. Em dia de namorados, tiveste um
    caso com o perigo. Ainda bem que tudo terminou com uma história para contar e a sensação de ter ganho às condições adversas.
    Parabéns pela resistência e coragem.

    Um abraço e obrigado pela dedicatória

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    1. Então a minha "namorada" Francesa não me ia deixar ficar mal logo no dia dos namorados! :) Um abraço.

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  2. Mas que enorme EPOPEIA!!!!

    Não fosse essa tua perseverança e ainda estavas lá agora... a pedalar! :)
    Também já me aconteceu ir a descer e ter que mandar uma abaixo para conseguir ultrapassar a força do vento! Sei bem do que falas..
    Grande relato! Adorei!

    Este texto recordou-me um texto de um amigo meu, que relatou um dia de pedalada da malta, num "dilúvio". Vou recuperá-lo e postá-lo no meu blog :)

    Abraço

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    1. Obrigado Luís. Fico à espera do relato da vossa volta num dia de "dilúvio"!
      Um abraço.

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  3. Eu como sou mais caguinchas tenho sempre algum receio de desafiar a natureza. E também como tenho uma opção estática dentro de casa, acabo por ter alternativa em dias de grande temporal.
    Grande corajoso, Jorge, sim senhor!!

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    1. Olá Anabela/Macarena! :)
      Eu não me dou bem com as opções estáticas, sinto-me um hámster a correr numa gaiola, pese embora tenha como recorde hora e meia a correr numa passadeira. O meu negocio é mesmo chuva, sol, calor, frio, vento, granizo! :) Mas ontem abusei da dose ou o São Pedro é que abusou de mim! :) Beijinhos.

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  4. Espectacular ... o treino e este texto ... parecia que ia a pedalar contigo :) ... muito bom mesmo!!!
    Grande Abraço

    P.S. e não estás todo partido hoje? :)

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    1. Obrigado Carlos Perneta Cardoso!
      Está explicado! Afinal não foi o vento! Não tinha reparado que ias sentado no quadro da bicla! :)))))))))))
      Tenho as pernas algo moídas e doridas mas não estou todo partido. Amanhã era outro dia de bicla mas vou trocar por corrida a pé porque ainda estou um bocado de ressaca com a namorada Francesa e parece-me que ainda vai fazer algum vento e não me falem de vento e bicicletas por uns tempos! :)))))) Abraço

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  5. Por aqui também esteve muito vento ontem. Confesso que cheguei a temer a queda de alguns troncos quando andava lá pela serra. Vento é mesmo o pior para mim!
    Parabéns pela força de vontade. Se correr com vento já é difícil, imagino pedalar!
    Beijinhos

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    1. Mas andar a correr na serra com muito vento também não é para todos! Mas a menina cada vez corre menos como um menina! Beijinhos Rute

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  6. À pois foi! Foi muito mau, eu como sabe andei pela serra dos Candeeiros mas nem o Jozéf se arriscou a subir às antenas... eu na minha frágil figura quase levantava voo... agora de bicicleta nas lezirias? A coisa não deve ter sido fácil não!
    beijinho

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    1. Pela Serra dos Candeeiros ainda deve ter sido mais complicado.
      Beijinho.

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