terça-feira, 14 de outubro de 2014

AUTOMOBILISMO E CORRIDA (A PÉ) PARA TODOS

Imaginemos uma corrida de automobilismo, na pista de um autódromo com apenas dois carros.
Lado a lado vai estar um Ferrari e um Renault Clio.
Ambos os pilotos treinaram afincadamente para esta prova e ambos os carros estão muito bem afinados.
A não ser que algo de muito anormal aconteça todos sabemos qual o vencedor desta, bizarra, competição tal é a diferença entre a mecânica das máquinas envolvidas.
É claro que no automobilismo não há competições assim e os carros evolvidos numa prova têm características muito semelhantes.
Já na corrida a situação é completamente diferente.
Imaginemos uma grande maratona internacional: lá frente estará a elite dos maratonistas com “máquinas topo de gama” a correm para os primeiros lugares e até para baterem recordes do mundo, cá atrás estarão corredores a correrem com modestos “carros utilitários”.
Esta grande diferença entre máquinas não é mais na verdade que as diferenças genéticas entre cada indivíduo
Por mais que se treine só se consegue evoluir até onde a nossa genética permite. Como disse alguém para se ser campeão o melhor é escolher muito bem os nossos pais!
Claro que não basta ser um predestinado geneticamente falando para correr a maratona em tempos fabulosos, tem que se treinar, e muito, para isso.
Mas voltando a tal grande maratona internacional pode parecer absolutamente desinteressante uma competição em que se misturam atletas de elite mundial com modestíssimos corredores de pelotão. No fundo seria como no exemplo da bizarra competição de automobilismo onde colocaríamos lado a lado um Ferrari e um Renault Clio mas na verdade não é assim.
Nessa tal grande maratona internacional decorrem “duas” provas em simultâneo: lá na frente os atletas profissionais que correm para vencer, para fazerem grandes marcas, para serem os melhores do mundo, cá para trás correm os atletas amadores em busca da sua superação pessoal das suas marcas, das “vitórias” que os seus modestos “motores” de “carros utilitários” lhes permitem alcançar!
Estes corredores mais lentos passaram meses a afinar os “motores” com dedicação e afinco, não terão os melhores “mecânicos” do mundo, não são atletas profissionais e têm de gerir toda a sua vida profissional e familiar de modo a encaixar com o treino e, sobretudo por mais “afinações” que façam os seus motores não têm mais “potência” mas no dia da corrida dão tudo o que têm é cortam a meta com orgulho.
É isto a magia da corrida para todos! Por isso vemos aquele maratonista que chegou mais de 3 horas depois do primeiro a cortar a meta de braços levantados como se tivesse ganho a prova! E ganhou, ganhou a “sua” prova, o seu objectivo pessoal seja ele qual fosse.
É por isto que a Corrida Para Todos é talvez o mais democrático desporto porque permite ter um mar de “vencedores” numa mesma competição.
E foi para isto, para que pudessem correr na mesma provas “Ferraris” e “Renault Clios” que o Movimento Spiridon lutou.
Foi uma luta árdua mas vitoriosa!
Hoje ninguém concebe uma grande maratona internacional apenas aberta a uma pequena minoria de atletas de elite.
E até podemos afirmar que o desenvolvimento das grandes marcas em torno da corrida não seria o mesmo sem a imensa multidão de corredores de pelotão que participa nas provas.
O que faz cair recordes é, felizmente ou infelizmente, o dinheiro e prestigio que alcança quem consegue essas marcas. Sem a mole imensa de corredores amadores que envolvem as grandes provas nunca haveria um retorno financeiro que permitisse pagar as verbas principesca com que são obsequiados os recordistas munidas!
Pois quando o “Manuel Joaquim” acaba a sua maratona mais de 3 depois do primeiro cortar a meta e festeja como se tivesse ganho a prova esteve também a contribuir durante mais de 5 horas para que grandes atletas continuem a correr para grandes marcas, esteve também a contribuir para a grande festa que é a corrida. Mas o “Manuel Joaquim” é também um grande atleta, um grande maratonista, porque consegui levar o seu “Clio” a cortar a linha de meta com todas as limitações que o mesmo tem mas extremamente bem treinado e afinado!
(Texto dedicado a um grande amigo meu, amante de atletismo e automobilista e que se encontra em plena fase de afinação do seu “Clio” para correr na maratona do Porto).

10 comentários:

  1. Grande texto que mexeu comigo pois sei bem o que custa chegar àquela meta e a inacreditável e emotiva sensação que é!

    É curioso que se ficarmos a apreciar a chegada dos atletas duma Maratona, quanto mais o pelotão se vai aproximando dos últimos, mais emoção se vê nos seus rostos no momento de cortarem a meta. É lindo de ver!

    Um grande, grande abraço :)

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    1. Um grande, grande abraço campeão!
      E que as "afinações" do "motor" continuem da melhor forma até ao Porto!

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  2. Gostei...muito... :) ...no meu caso, estou a ver se arranjo forma de colocar um chip de potência no meu Fiat 500, para ver se ele passa de 35cv (e um burro que sou eu) para 36cv (sem esquecer o burro claro), o que no fim não faz diferença nenhuma mas eu quero acreditar que sim :) ....tenho um enorme respeito por todos que acabam uma Maratona, sejam eles detentores de um Ferrari de última geração ou de um Clio com umas décadas no lombo.
    Grande abraço Jorge

    P.S. Uma Maratona internacional só com a Elite não tinha piada nenhuma. Para isso basta as Olimpíadas.

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    1. Vais ver que a maratona do Porto para ti vai ser feita mas é com um turbo!
      Grande abraço.

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  3. Olha lá terei que quitar o "clio", o chip atual só resiste a metade! Fica a corrida a "meia".
    Mas há-de lá chegar.
    Grande perspectiva que deu num excelente texto

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    1. Tenho a certeza que vai quitar o "clio" e chegar aos 42,195 km!
      Obrigado pelo comentário.
      Cumprimentos.

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  4. Gostei muito do texto e concordo plenamente. Todos os veículos, de todas as cilindradas têm direito à sua competição individual. Não ganham aos outros, mas ganham a si próprios. Eu bem queria um todo-o-terreno mais potente, mas é o que há... :)
    Beijinhos

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    1. Mas olha que o teu todo-o-terreno se tem portado muito bem!
      Beijinhos

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  5. É esta variedade de "motores" que dá vida e emoção a uma maratona.
    Eu emociono-me muito mais com os atletas de trás pois são pessoas comuns mas que ao mesmo tempo de comum não têm nada. Lutam até ao fim mesmo sabendo que vão acabar 3h atrás do primeiro. Vivem o momento, ultrapassam as dores e correm até à meta vibrando como se fossem os primeiros a chegar. Esta é a magia da maratona.
    Beijinhos

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