quinta-feira, 6 de março de 2014

O GRANDE NEGÓCIO DAS PROVAS

Temos a a perfeita convicção que a esmagadora maioria das provas não dá lucro.
Com isto não se pretende dizer que tenham prejuízo mas apenas que há um equilíbrio de verbas entre o dinheiro que entra e o dinheiro que sai, mesmo que, por vezes, haja desajustamentos, ligeiros, nesse equilíbrio.
Também estamos perfeitamente cientes que não é o valor da inscrição do atleta que paga todo o manancial de despesas inerentes a uma prova. O valor da inscrição cobre uma parte (às vezes bem ínfima) das verbas gastas na organização da prova sendo o restante conseguido com publicidade, patrocínios, etc.
Um atleta ao alinhar numa prova está a ser patrocinado para correr, esta é a mais pura das verdades pois o valor que paga pela inscrição não cobre o que foi gasto para ele estar a alinhar ali naquela “festa”.
Há até casos em que o patrocínio é integral pois a inscrição é gratuita. Entre outros casos, podemos falar da Corrida da Festa do Avante! que é uma das provas mais mediáticas em que a inscrição é gratuita. Já agora referimos num aparte que nestes casos de inscrição gratuita há um total desrespeito dos atletas e clubes para com os organizadores porque como não pagam a inscrição fazem-no sem o mínimo de certeza de ir participar no evento o que sobrecarrega uma organização de voluntários, como é o caso da Corrida da Festa do Avante! de trabalho desnecessário e baralha as contas dos organizadores no tocante à logística da prova tal a discrepância entre atletas inscritos e atletas que efectivamente alinham à partida.
Mas se na maioria das provas há um equilíbrio entre verbas entradas e verbas gastas haverá outras provas que se poderá dizer que dão lucro.
Parece-nos normal que grandes organizadores de provas, e grandes provas, tenham um carácter vincadamente comercial e dêem lucro.
Mas nessas provas, em que a organização consegue obter lucro com as mesmas, tal só é possível porque os apoios publicitários que a prova tem cobrem todas as despesas e ainda sobram verbas. Para todos os efeitos o preço que cada corredor paga pela sua inscrição não cobre as despesas que a organização teve com a participação com esse corredor por isso o atleta continua a ser subsidiado para participar na prova pese embora as verbas que a organização conseguiu angariar cubram as despesas da prova e ainda sobram.
É comum neste tipo de provas ouvir alguns atletas reclamar que não alinham nas mesmas pois são um grande negócio!
Algum negócio serão mas daí a serem um grande negócio vai alguma, ou muita, diferença.
Se são provas mais ricas em apoios publicitários também são provas com despesas completamente diferentes da generalidade das outras. Basta às vezes apenas um item nas despesas de uma dessas provas para superar o orçamento inteiro de uma prova de outras dimensões (só a verba gasta em aluguer de WC portáteis da Meia Maratona de Portugal, na Ponte Vasco da Gama, supera o orçamento de muitas provas portuguesas!).
O que no mínimo achamos “interessante” é vermos alguns atletas referir estas provas como um “grande negócio” não olhando para o mundo em que vivemos e a sociedade em que estamos inseridos.
Gostando ou não (e nós até não gostamos) vivemos numa sociedade capitalista com tudo o que isso implica.
Falamos de determinadas provas como grande negócio mas não olhamos para o nosso dia-a-dia: se pensarmos na margem de lucro que dá o beber um simples café, se pegarmos num simples bolo de pastelaria o pesarmos e verificarmos o seu peso ao quilo, se virmos quanto pagamos por uma garrafa de água, um copo de leite ou um cerveja e compararmos com o preço que custam num hipermercado (que também tem lucros e muitos como é evidente) verificamos enormes percentagem de lucro que nunca serão atingidas pelos organizadores de provas em Portugal.
E nada nos move contra os cafés e restaurantes mas apenas quisemos dar exemplos simples e práticos do dia-a-dia.
Mas não vemos por aí muita gente a gritar que não foi tomar um café porque é um grande negócio!
Parece que para esses atletas o mal do mundo está nalgumas organizações de megas provas em Portugal que são “um grande negócio”.
Porque não se protesta dessa maneira contra verdadeiramente grandes escandalosos e criminosos negócios como a privatização de um bem essencial como é a água ou o desmembramento do serviço nacional da saúde no intuito de entregar os cuidados de saúde a privados? E só vamos dar dois exemplos porque senão faríamos aqui um manifesto político!
Felizmente provas em Portugal há muitas, para todos os gostos e orçamentos de cada um. Todos temos opções e ninguém fica sem poder alinhar numa prova mas quanto nos colocam a água a preços proibitivos para dar lucros a privados isso sim é um grande e criminoso negócio e não temos nenhuma alternativa para o contornar.
E falamos da água como bem essencial e premente ao ser humano, mas esta sociedade está cheia de grandes e escandalosos negócios que não são certamente algumas organizações de provas um pouco mais comerciais e “ricas”!

13 comentários:

  1. Excelente e muito acertado texto que merece bem os aplausos que costumas dar na coluna aqui ao lado.

    Um abraço!

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  2. Obrigado João! És um excelente rapaz, só um pouco exagerado ao elogiares os amigos...
    Um abraço.

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  3. Eu estou com o João...excelente texto, que põe os pontos nos iiiiii's. Não gosto de ouvir corredores a reclamar que as provas são um negócio do caraças...felizmente ainda temos o direito de escolha, e só vai a uma prova quem quer (se puder pagar, claro). Falando das grandes empresas, que organizam provas de grande participação, qual é o problema de pedirem valores altos se existem "clientes" para isso? Se eu no meu trabalho puder vender por 10 não vou vender por 5. São empresas, e as empresas procuram na sua grande maioria o lucro. E só quem não está atento ao que se passa em volta de uma dessas grandes provas, é que não se apercebe do que acarreta....a Maratona do Porto fecha a baixa da cidade completamente durante uma manhã e parte da tarde, envolve umas centenas de policias, mais de 1000 pessoas entre contratados e voluntários só no dia da prova, ambulânicas e pessoal médico, etc, etc, etc....são 3.000 inscrições a 40€ que vão pagar isto? Claro que não como bem indicas. É preciso arranjar patrocinadores, e isso dá muito trabalho....se no fim, as empresas derem lucro, ainda bem, pois assim organizam mais e mais provas....e só vai quem quer. Quando me dizem que gostavam de ir a um aprova mas que não podem ir pq não tem a verba necessária....aí sim, é pena. Mas até aqui já existe solução..cada vez mais existem os eventos livres, treinos e provas onde não se paga nada ou apenas um valor simbólico.
    Vamos aproveitar enquanto ainda temos o direito de escolher.
    Abraço Jorge

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    1. Obrigado Carlos.
      E temos eventos como os Trilhos do Perneta que são de borla!
      Depois também é possível organizar provas mesmo a custo quase zero. Talvez se tenha de ir para o "mato" para fugir ao preço do policiamento mas a corrida e dos desportos mais simples e quase tudo se consegue fazer à mão!
      Podem fazer dorsais à "unha", abastecimentos económicos. cronometragem manual, classificação com "espetos" etc. Quem anda nisto há uns anos sabe como se organizavam as provas a seguir ao 25 de Abril. Eu comecei nesta vida na década de 80 e ainda vi grandes provas (e ajudei na organização de algumas) feitas em moldes artesanais e com excelentes organizações!
      A malta mais nova julga que só se consegue organizar uma prova com chip's, etc!
      Se vissem provas com vários funis e um sistema de cordas para abrir e fechar os mesmo ficavam espantados!
      Um abraço

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  4. Concordo com o Carlos. Por acaso é coisa que não me custa muito, pagar as taxas de inscrição nas provas. Por exemplo, o ano passado participei nos 15km de Benfica do Ribatejo (aí tão perto de ti! eheh), a inscrição foram 10€. Não houve chip, medalha ou t-shirt, mas sei que a organização foi feita por pessoal da terra, e estou confiante que este ano vão repetir com melhores condições. E depois as grandes provas como as meias de Lisboa ou as duas maratonas, eu imagino os custos que têm para fechar as estradas que fecham, é perfeitamente compreensivel, apesar de achar o preço da Meia de Lisboa um pouco exagerado (paguei 35€ para Sevilha, por exemplo). Por outro lado, se formos comparar com algumas provas no estrangeiro, por cá até são muitissimo mais baratas! Estava a pensar fazer a maratona clássica de Atenas para o ano, a inscrição são 90€! Ah, e as provas do circuito Iron de triatlo ainda mais!!! Um Ironman nunca custa menos de 300€!

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  5. Nunca fiz a prova de Benfica do Ribatejo mas já acompanhei o meu tio de bicicleta aqui há uns anos valentes quando ele correr a referida prova! Ela esteve muitos anos "suspensa" mas voltou o ano passado.
    Sim ainda há lugar a provas como os 15 km de Benfica do Ribatejo que podem ser feitas com muito poucos meios e muita voluntarismo.
    Antigamente as provas eram todas feitas assim e havia grandes organizações.
    No caso da prova aqui de Benfica só tenho pena que tivessem escolhido a data do 25 de Abril que é um dia em que já há a Corrida da Liberdade em Lisboa (com inscrições gratuitas) e que é uma clássica. Também penso que eles podiam ter aproveitado os excelentes estradões da zona e tirar a prova do alcatrão para fazerem algo diferente um pouco na semelhança da Corrida das Lezírias. Há imensas provas de Trail mas muito poucas que sejam fora do asfalto mas não tenham as dificuldades do Trail.
    Um abraço.

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  6. Boas!

    Eu sou daqueles que diz que as provas são um grande negócio, por isso, enquanto não me provarem o contrário com números, ficarei com essa ideia. Também darei a mão à palmatória quando o fizerem ;)
    Pegando na recente corrida dos 20 kms de Cascais, onde estavam 4000 inscritos a uma média de 10 euros... por isso, a organização ganhou cerca de 40000 euros com as inscrições.
    Dissequem-me lá essa quantia em gastos com as autorizações necessárias, autoridades, WC's e tudo o resto, para que eu compreenda melhor a situação.

    Abraço

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    1. Não cabe ao UK falar dos gastos das provas pois isso é da responsabilidade dos organizadores, e da sua vontade.
      Não conhecemos as despesas envolvidas no 20 km de Cascais mas estamos por dentro de algumas verbas gastas em grandes provas Portuguesas, em determinados itens, e são números "assustadores"!
      Claro que como referimos atrás não nos cabe a nós divulgar esses valores.
      Enfim temos toda a experiência de mais de 30 anos de ligação com a corrida não só como atletas mas também já tendo colaborado, mesmo que modestamente, nas mais variadas organizações deste as mais pobres as mais "ricas".
      Não temos dúvidas que algumas provas dão lucro mas a margem de lucro de outros sectores é muito maior, muito mais fácil de atingir e exige um investimento e conhecimento muito menores.
      Mas quem pense o contrario sempre pode tentar montar uma prova para ver se é uma boa solução de negocio...
      Um abraço e bons km!

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  7. Pois, essa também foi a minha opinião. O percurso foi extremamente monótono, e o que não nos falta por aqui são estradões agradaveis para correr, inclusivamente com sombra. O percurso dos 15km de Benfica basicamente foi ir aos foros e voltar, pelo alcatrão. É pena.

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    1. Penso que na altura escrevi aos organizadores a dar a minha opinião sobre o percurso e sobre a escolha da data que foi algo infeliz.
      Penso que estamos perante uma organização voluntarioso e cheia de vontade que resolveu ressuscitar uma prova que ate tinha o seu peso na época.
      Mas esqueceram-se que os tempos mudaram e que essa formula de 15 km em em estrada tipo ida e volta já está muito gasta!
      Se usarem os excelentes recursos naturais da zona podem criar uma nova prova que dentro de poucos anos será uma clássica no calendário nacional!
      Entre o trail e as provas de estrada há um uma zona muito pouco explorada de possibilidades de se organizarem provas muito ao estilo da Corrida das Lezírias. Provas em plena comunhão com a natureza mas sem as dificuldades técnicas do trail.
      Se os 15 km de Benfica do Ribatejo se voltarem a realizar este ano e a prova for nos mesmos moldes tens uma boa oportunidade de participar na prova e fazer ver aos organizadores que a solução que estão a usar não é a melhor!
      Um abraço.

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  8. Sim senhora. Um texto digno de ser lido com atenção, pois foca muito bem a problemática das organizações de provas com ou sem lucro.
    Só não foi dito é que o atletismo é o parente pobre do desporto Português.
    É compreensível a dificuldade que as organizações têm em colocar uma prova em marcha, mas também há a publicidade feita á região através dos muitos atletas que pagam a sua quota parte desse evento. Agora uma comparação. Quando se fala de policiamento e corte de estradas para a realização das provas que tem de ser pago, pergunto. Quem paga o policiamento e o corte das estradas de acesso aos estádios nos dias de grandes jogos de futebol, Não haverá uma forma de dividir o mal pelas aldeias. Os oitocentos policias destacados para o Benfica/Porto toda vastidão de viaturas envolvidas, toda essa despesa que é paga por nós que até nem vamos á bola gostamos é de atletismo, já dava para cobrir imensas provas, e melhorar todo o envolvimento dos atletas como também das organizações. Já participei aproximadamente numas centenas de provas já apanhei de tudo. Bom, mau, assim. assim.
    Há atletas exigentes, e organizações que só vêem cifrões
    Um grande abraço a todos

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    1. Excelente a sua analise amigo e a tocar no ponto fulcral da questão e que não falado no texto.
      Um abraço.

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