segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ROSAS, MEIA MARATONA E SENHORAS!

Tendo começado a correr no início da década de 80 cedo comecei igualmente a dar pequenas ajudas nas organizações de provas.
Era uma época de grande expansão da corrida para todos, em que quase tudo se traduzia por muito empenho e voluntariado em torno das organizações.
Tendo amigos com fortes ligações às organizações de várias provas era normal quando assistia a qualquer uma, em que por um motivo ou outro não tinha alinhado, ser logo “mobilizado” para uma qualquer tarefa. Noutras alturas era mesmo convidado, previamente, a dar uma mãozinha na organização desta ou daquela prova.
Não sendo nenhum especialista na organização de provas, desempenhei várias tarefas nas mesmas (com mais ou menos jeito...) e ganhei assim uma formação polivalente que me deu para uma visão muito para além do que é correr com um dorsal.
Passei por diversas situações, algumas até bizarras, mas não pensem que tudo era fácil e divertido pois estar na organização de uma prova era sempre bem mais complicado que apenas correr a mesma (e tenho amigos que chegaram a fazer as duas coisas em simultâneo!) e às vezes até implicava alguns riscos do ponto de vista físico e estou aqui a lembrar-me, só para dar um exemplo, de um organizador que estando a controlar a partida de uma prova de modo a que a mesma fosse dada nas devidas condições, foi ameaçado por um “atleta” com um canivete que tirou dos calções!
Como já disse, nestas minhas ajudas voluntárias, que se estenderem até ao meio da década de 90, vi muitas coisas, fiz outras tantas, e até ameaçado de ser preso me aconteceu como já contei aqui!
Mas das mais gratas tarefas de que fui incumbido guardo a que me foi destinada numa das primeiras edições da Meia Maratona de Lisboa (não sei precisar qual).
Na altura ainda não havia a mini maratona e se a participação feminina numa meia maratona ainda hoje é escassa em relação aos homens, nesses anos era ainda muito maior a diferença entre homens e mulheres que terminavam a prova.
Penso que talvez numa atitude de premiar as senhoras que tinham a coragem de se lançar numa meia maratona a organização da prova resolveu oferecer uma rosa às senhoras que cortavam a meta, numa dessas primeiras edições da meia maratona de Lisboa.
Quem foi “escalado” para essa tarefa? Aqui este vosso amigo!
Depois de ter passado situações mesmo nada agradáveis na organização dessa prova, foi assim como se tivesse ganho um prémio que senti o desempenho dessa tarefa.
A minha abordagem às atletas no desempenho dessa função era simples: sorriso rasgado de orelha a orelha, entregava a rosa e dizia convictamente, parabéns!
Em troca ganhei os sorrisos mais lindos que vi na minha, modesta, carreira de corredor de pelotão! E ainda pensei que talvez desse para ganhar uma namorada mas não chegou para tanto (tinha o destino reservado para a Princesa que tenho cá em casa!).
Mas mesmo a simplicidade dessa tarefa não era isenta de problemas pois havia muitos atletas masculinos tipo “melga” que vinham pedir rosas para a namorada, prima, tia, mãe, eu sei lá! Nesses casos eu trocava o sorriso pela cara mais carrancuda que conseguia fazer e dizia que lamentava mas que as rosas eram mesmo só para as senhoras que terminavam a prova. Mas não eram fáceis de dissuadir as “melgas”, que algumas eram mesmo muito chatas!
E eu próprio, com a minha “pitosguice” crónica, por pouco não entregava uma rosa a um jovem atleta masculino de farta cabeleira pelas costas!
Em tarefas organizativas nos “funis” da primeira Meia Maratona de Lisboa, de costas vê-se o Doutor Renato Graça (antigo campeão nacional da maratona) e no funil por detrás do Jorge Branco a grande campeã Rosa Mota (com o chapéu vermelho). Autor da foto Egas Branco/UK




13 comentários:

  1. Ora um gesto bonito e que te deve ter dado muito gozo!

    Há certas ofertas que podem fazer toda a diferença. Em muitas provas as medalhas vêm dentro do saco e noutras estão uns voluntários num funil a dar as mesmas, estilo produção em série. Mas na Meia-Maratona SportZone no Porto, que fiz em 2008, estavam umas raparigas que faziam um sorriso de orelha a orelha, diziam convictamente "Parabéns" e colocavam-nos a medalha ao peito, estilo pódio olímpico! Nessa altura senti-me um campeão como os primeiros que tinham demorado metade do tempo que eu precisei para cumprir os 21 kms. Há pequenos gestos que fazem toda a diferença!
    E esse da rosa foi bonito! (E a propósito de rosa, estava lá a nossa Rosinha? Também lhe deste uma rosa?)

    Um abraço

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  2. Muito honestamente não me lembro se a Rosa Mota estava e se lhe dei uma rosa, Mas o mais provável era não estar porque eu não me iria esquecer de uma coisas dessas! Um braço.

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  3. É por estas e por outras histórias que gosto tanto de ler o UK :)
    E que bela ideia esta da rosa....sabes que o CAL vai organizar uma corrida este ano?..é um dos nossos projectos....talvez possa convencer o pessoal a oferecer uma rosa às senhores que aparecerem...e até já sei quem as vai distribuir e não és tu....hehehehe

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  4. Olha que era bonito oferecerem uma roas as senhores...
    Conta comigo para divulgar a vossa prova no UK....
    Quanto tiverem cartaz, link para o regulamento, etc, manda-me por mail.
    Um abraço.

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  5. Talvez a Rosa Mota não estivesse presente nessa prova da distribuição das rosas mas está na fotografia que juntaste a este belo texto! Vai a entrar no outro funil.
    E não é tudo: do lado de cá está outro grande atleta, Renato Graça, já então médico e nessa qualidade a colaborar com a organização, como responsável.
    Afinal uma foto de 3 em 1: o atleta a colaborar na organização, e os dois grandes craques por quem sempre tivemos (e temos) grande admiração, aliás nas suas várias facetas cívicas! Visão de fotógrafo anónimo... Abração

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  6. De certeza absoluta que esse gesto (a entrega de uma rosa no final de uma corrida de 21 kms) não será esquecido por muitas atletas femininas que a receberam, atrevo-me mesmo a dizer todas, e fará parte certamente das suas memórias como um dos melhores momentos que a corrida lhes trouxe, independentemente do tempo conseguido ou da classificação.

    Um Abraço e bons Kms.

    Fernando Varela

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  7. Sim amigo Fernando Varela deve ter sido uma momento único e inesquecível para todas as atletas que terminaram a prova..
    Um abraço.

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  8. Um gesto muito bonito! Mesmo hoje, já havendo mais mulheres, acho que ia gostar de chegar ao fim e receber uma rosa de um senhor de sorriso simpático. Daria uma "medalha" bonita. :)
    Beijinhos

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    1. Quem sabe se uma organização volta a pegar na ideia e tua ainda ganhas uam rosa :)
      Beijinhos Rute

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  9. :) nesse altura já eu tinha saído do Grupo Desportivo de Vialonga e corria então por minha conta, por montes e vales e nem sonhava sequer com Meias Maratonas...Mas a Corrida já era parte da minha vida...

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    1. Pena a "Pikena" ainda não fazer meias maratonas nessa altura porque teria ganho uma rosa! Beijinhos.

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  10. Deliciosas as tuas histórias Jorge.
    E bonito gesto o de uma organização oferecer uma rosa a todas as atletas que terminavam a prova. Eu adoraria receber uma rosa no final de uma prova, de certeza que me deixaria de sorriso rasgado.
    Beijinhos

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    1. Isa quem sabe ainda um dia ganhas uma rosa no final de uma prova!
      Beijinhos.

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