domingo, 12 de janeiro de 2014

PERCALÇOS E COMO ENFRENTÁ-LOS

Por mais planificações que façamos na vida estamos, sempre, sujeitos a pequenos, e grandes percalços, que nos podem estragar os planos.
A vida é assim uma caixinha de surpresas e quando gizamos objectivos e metas a cumprir não é um dado adquirido que tudo vá correr conforme os nossos intentos.
Mas não é pelas características de vulnerabilidade da vida que todos nós vamos deixar de traçar rumos, planear objectivos, lutar por transformar o sonho em realidade.
Por mais simples e elementares que sejam os planos uma vida sem eles não faz sentido.
Os que já não sonham e planificam estão no limiar do que se pode considerar uma existência humana que se encontra muito mais perto da dos outros animais não racionais, que apenas se limitam à sobrevivência diária.
Infelizmente há milhões de seres humanos que vegetam nos limites da sobrevivência e aos quais foi negada toda a capacidade de fazer projectos e sonhar, mas isso é outro assunto.
Também nas nossas corridas temos planos e sonhos, quer andemos nas frente dos pelotões, lá pelo meio ou na cauda. Mesmo que a nossa forma de estar na corrida não passe por o fazer, mais ou menos assiduamente, com o uso de um dorsal, não é por isso que deixamos de ter os nossos objectivos. Correr sem objectivos é coisa que julgamos impossível!
Pensamos que uma das coisas que mais aterroriza o corredor de fundo são as lesões.
Por mais cuidados que se tenha as lesões acabam por ser praticamente impossíveis de evitar e, com maior ou menor gravidade, vão sempre surgir na vida de um corredor.
É claro que quem seja acompanhado por um treinador e tenha acesso permanente e facilitado a um médico especialista em medicina desportiva (de preferência que seja também ele corredor) irá ter muito menos lesões do que quem não tenha esse tipo de apoio.
Infelizmente em Portugal o corredor encontra-se, na esmagadora maioria dos casos, totalmente abandonado à sua sorte e em muitos casos com grandes dificuldades em ter apoio médico e já não falamos sequer em apoio médico especializado, pois neste país Europeu e em pleno século XXI são cada vez mais os Portugueses que tem extremas dificuldades no acesso aos mais elementares cuidados de saúde (e o concelho onde vivo; Salvaterra de Magos, é uma gritante prova disso).
Estar lesionado é o não podermos fazer uma das actividades lúdicas que mais prazer nos dá, é não podermos ter aquela válvula de escape diária tão essencial, ainda para mais nestes tempos tão duros, negros e injustos que atravessamos, estar lesionado é também, muitas vezes, ver os tais objectivos que planificámos ficarem adiados e em alguns casos, irremediavelmente perdidos.
Mas também há formas de enfrentar uma lesão e também se treina para isso!
Não é fácil, nada fácil, enfrentar uma paragem forçada nas nossas corridas mas um dos truques que podemos usar nessas alturas é de canalizar o tempo que “perdemos” na nossa actividade diária da corrida noutras coisas que nós tragam prazer.
Se pudermos, se tivermos condições físicas e logísticas, se pudemos optar pela prática de outra actividade desportiva que não prejudique a nossa lesão, então será o ideal. Pode-se enquadrar neste campo a bicicleta, a natação, a corrida aquática ou mesmo, talvez, a caminhada. Tudo depende do tipo de lesão que nos afecta e dos nossos gostos pessoais.
Não querendo, ou não podendo, praticar uma actividade desportiva complementar a solução passa por ocupar o tempo que iríamos despender na corrida noutra qualquer actividade ao nosso gosto. Desde o dar mais atenção à família, ao ler um livro, namorar, ouvir música, organizar coisas em casa a um leque quase inesgotável de actividades em que podemos ocupar o tempo em que estaríamos a correr.   
Claro que não é fácil, nada fácil mesmo, canalizar o tempo em que estaríamos a correr para outra actividade. O atleta lesionado fica com um ”humor de cão” e pese embora tenha mais tempo para fazer outras actividades a vontade é não fazer nada, porque não sente vontade de coisa nenhuma senão correr e correr é precisamente a única coisa que não pode fazer! Mas quando se entra neste estado de espírito temos de nos socorrer da nossa vontade férrea de corredores e pensar: se eu “salto” da cama para ir correr com chuva, com frio, se eu consigo ir correr quando não me apetece mesmo nada, também tenho de ter força de vontade e disciplina para ocupar o meu tempo quando estou impedido de o fazer por lesão!
Ao atleta lesionado custa muito, ao princípio, dedicar-se a outra actividade mas depois habitua-se e o tempo em que se vê obrigado a não correr vai-lhe custar muito menos a passar e quase sem dar por isso muito em breve estará de volta à estrada ou aos trilhos.
Num próximo texto falarei das duas lesões que deram cabo da planificação de dois grandes sonhos da minha vida de corredor.
Num caso foi mesmo um sonho que se perdeu, noutro caso consegui-me “vingar” no ano a seguir (e de que maneira!) e até tive mais facilidade em cumprir o sonho, pois estava mais experiente e também aprendi com a experiência dos outros.
Este texto é dedicado a um grande, grande amigo, que está a passar por uma situação mais negra na sua actividade de corredor de fundo mas que tenho a certeza, que vai sair dessa situação mais forte e mais apto para novas conquistas.
Um forte, forte abraço João, meu amigo (irmão adoptivo) maior que o pensamento. Toda a força do mundo para ti.

Nota: a foto que ilustra o texto é de arquivo e antiga.

4 comentários:

  1. Sem tirar nem pôr....isto é o voz da experiência. Força João.
    Abraço Jorge

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  2. Deve ser a experiência sim! Já deve ter mais experiência em lesões que em treinos! he he he he he!
    Um abraço.

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