domingo, 6 de janeiro de 2013

METAS


Hoje venho aqui falar de metas!
Não das metas para 2013, que no meu caso pessoal acho um assunto por demais desinteressante.
Venho falar de metas, ou melhor das metas, daquelas para que todos nós corremos numa prova, das verdadeiras metas.
Mais rápidos ou mais lentos, entre os primeiros ou na cauda do pelotão, todos nós ambicionamos, na partida de uma prova, alcançar a meta, esteja ela mais próxima ou mais longe.
Poderia dizer que não há prova sem meta, mas isso não é bem assim!
Sim é possível haver uma prova em que a meta não existe do ponto de vista físico.
Por sinal na minha melhor prestação da minha modesta carreira de corredor de pelotão, não tive uma meta final para cruzar, por mais que isso possa admirar muita gente. Mas isso é assunto que falarei mais à frente, para já quero falar das metas que realmente existem do ponto de vista físico!
Na década de 80 (quando começámos a correr) muitas metas eram um simples traço pintado no alcatrão com a palavra meta escrita, igualmente, no chão.
Depois algumas metas mais elaboradas começaram a usar um pano suspenso entre dois postes com a palavra meta.
Muitas metas eram “mudas” ou seja não havia som ou então usava-se um modesto megafone.
Mas também não se pagava taxa para se usar uma instalação sonora, nem pela ocupação da via pública. As provas não eram taxadas como um qualquer evento, com fins lucrativos, como nos dias de hoje. Mas isso é outra história.
Uma das metas mais antigas que tenho guardada nos nossos arquivos foi da Maratona Spiridon, em Dezembro de 1985 na Granja do Marquês / Sintra.
Este pórtico pode fazer sorrir muitos dos atletas que não viverem esses tempos longínquos mas ele representou para a época um grande avanço pois a grande função dele era permitir um enquadramento fotográfico de modo a que os atletas chegados pudessem ter uma foto da sua participação na maratona.
Foi muito provavelmente a primeira prova a oferecer uma foto, numa altura em que a fotografia digital ainda nem era sonhada e tudo tinha que ser feito pelos métodos tradicionais, bem mais demorados e dispendiosos.
Uma meta absolutamente histórica é o pórtico da Meia Maratona de São João das Lampas (a segunda mais antiga meia maratona Portuguesa) que conserva há muito anos o seu formato original e único.
Em São João das Lampas não é só o pórtico que é original mas toda a recta da meta, com o seu tapete verde ladeado de vasos que é algo de único e belo no panorama das provas Portuguesas.
Temos o caso das hoje designadas provas de trail, que devido à natureza das mesmas muitas vezes tem chegadas em locais de rara beleza.
Deixamos aqui a meta da saudosa Subida do Monte Colcurinho, uma chegada que tinha tanto de beleza como de isolamento e que obrigava ao uso de um gerador de modo a ser possível manter o pórtico insuflável de pé pois no local não havia acesso à electricidade.
Depois temos as provas de grande dimensão, com orçamentos “generosos”, em que tudo é feito em grande escala e aqui deixamos a chegada da Meia Maratona de Lisboa.
E nos antípodas desta grande prova o Treino do Fim da Europa (treino organizado em substituição do GP do Fim da Europa, que não se realizou em 2012 por motivos económicos). Num treino organizado com voluntarismo, amor, carinho e improvisação a meta só podia ser especial e diferente de tudo o que vimos até hoje. mas simplesmente linda!
Ainda podemos referir o caso de metas que acabam dentro de pavilhões em autênticas festas. É prática usada no estrangeiro que por cá (ao que se sabemos) só ocorreu em algumas (poucas) provas de trail.
Muito se evoluiu desde os tempos do traço do chão e da palavra meta escrita no solo até aos dias de hoje mas a magia de a cruzar é sempre a mesma e não tem a ver com a grandiosidade da meta mas sim com os objectivos que alcançamos ao cruzar mais essa chegada.
Há até metas das quais já se desfizeram as imagens das mesmas na nossa memória mas que permanecem inesquecíveis devido ao que alcançámos nessas provas.
E há provas sem meta que podem ficar para sempre gravadas a fogo na nossa alma. No nosso caso pessoal podemos falar das 12 horas de Vila Real de Santo António, da qual corremos a segunda edição em 1987.
No caso de uma prova de 12 horas a meta não é física mas sim o terminus desse espaço temporal de 12 horas.
No caso de Vila Real de Santo António o final da prova era dado por um apito, tendo os atletas que ficarem estáticos até os colaboradores da organização aferirem os últimos metros percorridos por cada um. Ainda hoje nos lembramos de um atleta que na euforia de ter terminado a prova nos veio abraçar e foi, prontamente, recolocado no local onde tinha terminado, por um colaborador da organização, de modo a se poder proceder às medições com rigor.
Aqui fica um pouco da história das metas, com votos de metas felizes para todos em 2013, na certeza que para se ter uma meta de felicidade há que lutar por ela, treinar e vencer as barreiras que nos colocam pela frente, seja isso na corrida ou na vida.

12 comentários:

  1. Mais um excelente texto (como sempre nos habituaste) e com temas que mexem connosco.
    Curiosamente, e como bem dizes, a tua meta mais gloriosa... não existia fisicamente!
    No meu caso particular, concluí que afinal as miragens podem ser reais. Ver à minha frente aquela meta no passado dia 9, uma autêntica miragem a materializar-se, ainda me faz ficar como só alguém que passa por aquilo percebe, só de rever mentalmente essa imagem que nunca me abandonará.

    Um grande abraço

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    1. Pois é João a vida tem destas coisas: na minha melhor prova não havia meta!
      Se eu me comovi, e nunca mais esqueço, quanto te deixei no portão do INATEL imagino tu quando cortaste a meta!
      Forte abraço.

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  2. Adorei este artigo Jorge. Muito interessante e muito bem escrito. Parabéns.
    Que tudo corra pelo melhor em 2013 e que continues a correr sempre com grande prazer e alegria.
    Um beijinho

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    1. Obrigado Isa!
      Um ano de 2013 (e toda uma longa vida) cheio de metas felizes!

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  3. Excelente artigo, Amigo Jorge. Deixe-me que lhe agradeça figurar nos exemplos que ilustram o seu texto, o que muito me envaidece, tanto na MMSJL como no Treino Fim da Europa, sobre o qual, na altura própria já tinha exaltado a sua simplicidade. Aqui a relembro, com um grande abraço.

    Ei-los que aos poucos, muitos vão chegando
    Aonde a terra acaba e o mar começa;
    Vêm felizes e os braços levantando
    Com sorrisos que valem mais que a pressa,
    O que ajuda a que o triste memorando
    Saia por uns momentos da cabeça
    E trocam bem a tenda palaciana
    Por um pórtico simples, feito em cana.

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    1. Amigo Fernando Andrade falar de metas e não falar da MMSJL era no mínimo uma atitude criminosa!
      O pórtico feito em cana, em troca da tenda palaciana, também não poderia faltar!
      Obrigado pelo comentário e por enriquecer este espaço com um dos seus excelentes poemas.
      Um grande abraço.

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  4. Gostei muito do texto, Jorge. E muito bem ilustrado por estas metas ao longo de um percurso de vida a correr.

    Beijinhos e um ano feliz.

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  5. Obrigado Rute.
    E quem me dera a mim correr como uma menina! As "meninas" estão cada vez a correr mais e melhor!
    Beijinho e bom ano.

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  6. Olá Jorge, mais um belo texto. Obrigado pela partilha de mais este pedaço de história, sobre um pormenor que só não passa despercebido a quem verdadeiramente ama a corrida. Aquele abraço, continuação de boas corridas e escritas.

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  7. Olá Jorge! Muitos parabéns por este excelente artigo sobre metas. Eu também tive o privilégio de atingir aquela meta da Maratona Spiridon na Várzea de Sintra em Dezembro de 1985 quando fiz a minha primeira Maratona. Tenho muito boas recordações daquela maratona, disputada num circuito de sete kilómetros em que a organização nos dava chá quente de cada vez que passávamos junto à meta. Desejo um bom 2013.

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    1. Grande campeão Esmeraldo Pereira um excelente ano de 2013 para ti e um grande abraço!

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