segunda-feira, 9 de julho de 2012

A SEGURANÇA DAS PROVAS DE TRAIL EM PORTUGAL


As provas de Trail em Portugal (que tiveram a sua implementação no nosso país a meio da década de 90 através do Terras de Aventura sob o nome de provas de montanha) têm tido um grande crescimento nos últimos anos, para grande satisfação de todos os amantes daquela fascinante variante da corrida a pé.
Pode dizer-se que foi uma aposta ganha a de aqueles pioneiros que a meio da década de 90 se lançaram a organizar provas pelas serras deste país em percursos considerados na altura impróprios para correr! Mas pouco a pouco mais gente se foi juntando àqueles “malucos” que corriam nos tais percursos “impróprios” e hoje o trail encontra-se de muita boa “saúde” em Portugal.
Ao pioneirismo do Terras de Aventura (que passados todos estes anos ainda continua a trabalhar em prol da modalidade) juntaram-se muito outros organizadores, trazendo um leque de propostas para os trilhos que faz corar de inveja a monotonia das provas de estrada que pouco ou nada evoluíram.
No trail temos corridas para todos os gostos e capacidades atléticas, desde as provas mais “suaves”, ideais para a iniciação no fora da estrada, até às propostas mais “radicais”, a exigirem até algumas delas uma preparação bem superior ao que é necessário para se correr uma clássica maratona.
Mas este excelente desenvolvimento do trail em Portugal, que muito nos alegra como amantes e pioneiros na prática da modalidade, começa a trazer outras questões, nas quais é tempo de começar a pensar.
Um das questões que mais nos preocupa no momento presente tem a ver com a segurança das referidas provas.
A evolução da modalidade tem levado a que os organizadores cada vez mais se aprimorem na escolha dos percursos, nas dificuldades técnicas de alguns deles.
Começamos a ter percursos com elevado grau de dificuldade técnica que começam a não ficar atrás do que de melhor que se tem feito a nível internacional nessa matéria.
Mas esse aumentar do elevado grau de dificuldade técnica tem sido acompanhado, proporcionalmente, por um aumento da segurança?
Julgamos que não e aí é que reside o problema.
Sabemos que há grandes provas a nível internacional, com elevados meios técnicos e humanos, que proporcionam um grande grau de segurança a todos os participantes.
Em Portugal as coisas não são bem assim pois é relativamente fácil criar percursos de elevado grau de dificuldade mas é complicado conseguir meios técnicos e humanos para dar uma correcta cobertura a nível de segurança a esses eventos.
Um prova de trail nada tem a ver com um corrida de estrada onde, praticamente, basta meter uma ambulância a acompanhar a prova!
Temos que ser realistas e pensar que os acidentes podem acontecer e serem mesmo graves.
Ao concebermos uma prova de trail temos que ver o grau de dificuldade técnica da mesma e a segurança que ela implica.
Não é a mesma coisa uma prova que se organize em Monsanto (Lisboa), com um dúzia de quilómetros, e outra que se realize num serra recôndita, com várias dezenas de quilómetros e elevado grau de dificuldade técnica.
Não querendo entrar muito sobre o que deve ser feito, pois isso é matéria para especialistas, mas podemos deixar algumas ideias que mais não são que meras opiniões pessoais.
Quando uma prova integra no seu percurso locais em que só é possível o aceso a pé é absolutamente vital ter um plano de evacuação traçado de modo a saber como retirar um atleta desses pontos em casos de acidentes graves.
Tem que se saber qual o ponto mais próximo onde se pode chegar com um viatura, o tempo que se leva a transportar o atleta até esse ponto e como fazer esse transporte.
Tem que se ter igualmente uma ou mais ambulâncias de prevenção, de modo a chegarem rapidamente a esses pontos de evacuação.
Não falamos de helicópteros, pois isso são meios de outros “campeonatos” e nem sabemos da sua viabilidade na montanha.
De qualquer forma a força aérea faz operação de resgate de feridos em navios e não sabemos se é viável accionar um meio desses em caso de um acidente verdadeiramente grave. É uma questão que cabe aos organizadores estudarem.
Isto que estamos a escrever pode parecer algo de dramático e exagerado mas por mais que gostemos do trail não podemos ignorar que nunca estamos livres de um dia um atleta partir uma perna ou cair por uma ravina e depois como é que é?
Estamos a falar de grande meios para verdadeiras emergências,
Tudo o resto se resolve, pensamos nós, com alguns elementos com formação em primeiros socorros que devem ser colocados, estrategicamente, em postos de controlo ao longo do percurso e terem algum equipamento básico para as funções que vão exercer.
Também é de todo conveniente ter bons meios de comunicação, que devem ser via rádio e não baseados em rede de telemóvel, que pode não existir nos locais onde se desenrola a prova.
Pensamos que com a ajuda da Cruz Vermelha, radioamadores, bombeiros, escuteiros, entre outros, se consegue dar muito mais segurança a uma prova.
Muitas vezes é mais uma questão de uma boa planificação de como tudo vai ser efectuado e a conjugação das boas vontades de muita gente, que até tem no voluntariado a sua grande paixão, que o investimento em meios dispendiosos caros e inacessíveis à realidade Portuguesa.
Não podemos é descurar a segurança nas provas de trail e temos que adequar sempre a mesma em relação às dificuldades técnicas da exigência do percurso que pretendemos traçar.
Se não agirmos assim estamos a abrir as portas para que um dia destes aconteça uma tragédia, o que para além do aspecto humano, e esse é sempre o mais importante, vai trazer uma gravíssimo retrocesso no desenvolvimento do trail em Portugal e deitar por terra o trabalho que muitos tem desenvolvido anos e anos a fio em prol desta tão bela modalidade.

2 comentários:

  1. Concordo em absoluto com o alerta pois esta é uma situação que pode efectivamente acontecer e, a suceder, pode prejudicar o normal desenrolar desta actividade.

    Sendo sarcástico, a acontecer um acidente, era da maneira que a comunicação social descobriria esta vertente da corrida. E para eles, quanto mais grave "melhor"...

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  2. Mais um artigo excelente a trazer novamente um assunto que gradual e felizmente vai suscitando a atenção devida.
    Mesmo nas provas mais duras, concordo que tudo se baseia em realismo e boa vontade. Não sendo possível cobrir 100% do percurso, não será difícil, penso eu, mobilizar escuteiros ou membros da organização para os pontos considerados pela organização mais perigosos no circuito.
    Depois, como já li algures, fazer constar na lista de artigos obrigatoriamente transportados pelos participantes com meios de alarme, tais como o telemóvel ou um apito, por exemplo.
    Se juntarmos a isto a presença dum elemento dos bombeiros em cada posto de controle, equipado com rádio, temos a segurança com um índice mínimo que deve ser exigível às múltiplas organizações que exploram este tipo emergente de provas.
    Há que contrariar o espírito Português do 'desenrasca' e porque estamos a tratar de assuntos muito sensíveis, começar desde já a alertar para este tipo de questão.

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