“A corrida é a mais importante
das coisas secundárias” é uma frase, muito ligada ao Movimento Spiridon, que
temos escutado ao longo dos anos.
Realmente a corrida é isso mesmo,
mas ela entrelaça-se de tal maneira com a vida que as coisas principais não
teriam a mesma força, o mesmo cheiro, a mesma cor e o mesmo sabor sem a corrida.
Quando se passa a fase inicial da
descoberta da corrida, quando se ultrapassa a luta pelas melhores prestações
possíveis, quando já passaram milhares
de quilómetros pelos nossos pés, correr torna-se algo tão natural como comer.
Faz parte da nossa vida, da nossa
existência, que sem ela as coisas
principais da vida não teriam razão de ser.
Talvez muitos fiquem pelo caminho
e não cheguem a esta fase, em que a palavra treinar faz muito menos sentido que
a palavra correr. Já não se treina na busca de melhores performances, corre-se
por gosto, por uma questão de equilíbrio físico e emocional, pela busca da
liberdade e do nosso eu mais profundo.
Quando já se corre há 20, 30 ou
mais anos isso é tão natural e necessário como o simples acto de comer.
Podemos ter mais ou menos
problemas, estar mais ou menos infelizes, ter mais ou menos tempo, mas não
podemos passar muito tempo sem comer e isso aplica-se da mesma forma à corrida.
Podemos correr ou comer menos,
saltar refeições ou treinos mas invariavelmente temos de nós alimentar e
correr! Já faz parte da nossa natureza.
Quando já se leva um vida de
ligação com a corrida, ganhamos o hábito de fundir o nosso desporto preferido
com as tais coisas principais da vida, tornando tudo numa argamassa única.
Destes longos anos que levamos de
corredores de fundo podemos consultar tudo o que foi a nossa vida nas pequenas
notas que escrevemos junto dos registos de cada treino ou de cada corrida.
Problemas, alegrias, tragédias,
vitórias e derrotas estão todas nessas pequenas notas, primeiramente ainda
escritas à mão e agora registadas em computador.
A fusão entre as coisas
principais da vida e a mais importante das coisas secundárias, ou seja a
corrida, faz com que os nosso diários de
treino sejam também um diário de vida.
Mais que saber a forma em
estávamos no ano x dia y os nosso diários de treino permitem lembrar-nos com
precisão momentos impares da nossa vida: aquele treino cheio de felicidade
antes do nosso casamento, um treino marejado de lagrimas imediatamente a seguir a sabermos da doença,
gravíssima de um ente querido, aquele treino perpassado de dor e saudade depois
de o falecimento de alguém de quem gostávamos, em que a alma pesava que nem
chumbo e as pernas queriam teimosamente não andar.
Quem leva longos anos de uma
paixão intensa com a corrida mistura esse prazer único e libertário que é o
acto de correr, com dores, alegrias e tristezas da vida, e cozinha tudo no
formo que é a existência diária de cada ser humano.
Não se pode separar a vida do
acto de respirar, comer, beber e amar. Não se pode separar a vida do acto de
correr. Pelo menos para nós amantes de longa data das estradas (e dos trilhos),
percorridas em pequenas passadas, tal é impossível.
AME A VIDA E AME A CORRIDA!
A VIDA É A CORRIDA E A CORRIDA É
A VIDA!
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Texto dedicado a um grande amigo
meu, brevemente futuro maratonista.
A um amigo e companheiro de
sempre que está a regressar à estrada.
E à minha mãe, a melhor mãe que
um corredor de fundo pode ter!
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Jorge Branco
Um texto que nos deixa sem palavras e não só!
ResponderEliminarUm muito sentido abraço, amigo Jorge
Excelente texto! É por isso que gosto de passar sempre pelo seu blog, o amigo além do amor pela corrida, tem o dom da palavra!
ResponderEliminarUm abraço e boas corridas
Brilhante reflexão Jorge Branco!
ResponderEliminarConcordo com tudo o que aí escreveu e só quem corre é capaz de perceber essas palavras...
Um bem haja e boas corridas!
Abraço
Bom texto, para mostrar o que é a corrida, eu corro à menos tempo, mas o suficiente para perceber e concordar plenamente com tudo o foi escrito aqui.
ResponderEliminarbeijinho no coração, obrigada pelas suas sempre agradáveis e assíduas visitas.