À sua direita o eucaliptal
frondoso, à esquerda erguendo-se num talude a linha de comboio, entre ambos um
carreiro arenoso, algo irregular, aqui e além com seixos rolados.
Era uma fresca manhã, fria mas
límpida sem uma nuvem no céu, estariam uns 5 graus de temperatura, o ar frio
entrava-lhe pela boca, pelo nariz, enchia-lhe os pulmões e alma.
Tinha saído de casa ainda mal
se adivinhavam os primeiros alvores do dia.
Gostava de sair assim cedo, e
“nascer” com o nascimento do novo dia.
Corria feliz, liberto naquele
carreiro.
Lá na linha de comboio vem um
possante comboio de mercadorias.
Na sua solidão de corredor
fundo madrugador acena ao maquinista do comboio, que não consegue ver mas advinha-o
na solidão do seu trabalho.
O mercadorias vêm do sul e
traz-lhe ao pensamento esse Alentejo de Catarina Eufémia, das praças de jorna,
de gente que nunca se vergou e sempre lutou. Esse Alentejo da Grândola Vila
Morena cantada por Zeca Afonso.
E vêm-lhe à memória o Coliseu
dos Recreios a cantar, de pé e em uníssono, a Grândola.
Mas como dizia ele acena ao
maquinista e o maquinista responde com um forte e sonoro apito ferroviário.
Trocou-se assim um cumprimento
bem pouco vulgar entre dois homens madrugadores e solitários, um por
obrigatoriedade de trabalho outro por lazer e prazer puro.
Encheu-lhe a alma aquele forte
e sonoro apito que vinha lá do sul, parecia que trazia cheiro a pão fresco,
campos de trigo ondulando ao vento, o cante alentejano e uma tarde quente nas
planícies lá sul.
Provavelmente também aquele
aceno fez diferença em mais uma madrugada de trabalho, monótona e solitária, do
maquinista que vinha lá do sul. Talvez tenha trazido algum calor humano e tenha
feito alguma diferença em mais um dia de trabalho rotineiro.
Muito em breve o comboio que
vinha lá do sul atravessaria o Tejo na nova ponte Rainha Dona Amélia, passaria
a estar a norte do Tejo, chegaria ao Setil e ai faria agulha, ou na direcção de
Lisboa ou então do Porto. Um pouco mais tarde chegaria aquele corredor
madrugador e solitário a casa com a alma mais quente, na fria manhã ribatejana,
com o calor que o mercadorias que veio lá do sul lhe trouxe.
Muito bom!
ResponderEliminarUm abraço
Obrigado!
EliminarUm comentário vindo de Barcelona é mesmo muito especial!
Boa maratona para todos!
Um abraço.
Estavas inspirado. Boa malha! Abraço
ResponderEliminarFoi um inspiração que veio lá do sul!
EliminarUm abraço desalinhado!
Venho cá amanhã ler, agora estou cansada, beijinho
ResponderEliminarEspero que tenha tido um bom descanso.
EliminarUm beijinho Eugénia.
Tivesse eu um lugar de "Aplauso" lá no meu cantinho ias para lá direitinho ... Muito bom.
ResponderEliminarAbraço
Muito obrigado campeão!
EliminarUm grande abraço.
Digno de uma serie qualquer chamada "Amizades Improváveis" :) Mas que como Amizade que é, seja lá de que forma for, vale ouro e enriquece as nossas vidas.
ResponderEliminarUm beijinho "piquena" com amizade.
EliminarPrometido é devido e como gostei de ler este poema em prosa mas, poema!...
ResponderEliminarJá sabia que o Jorge tinha veia poética, este apito que vem do Alentejo até parece que o ouvi daqui, beijinho
Obrigado Eugénia.
EliminarBeijinhos.