Sempre gostei de desafiar
condições meteorológicas muito adversas em treino e já passei por alguns
treinos em que tudo se torna mesmo um bocado complicado.
No “menu” de hoje tinha uns 42
a 44 km de bicicleta que eu pretendia pacíficos e calmos. Não haveria de ser
nada de especial porque é distancia que eu já tenho nas pernas neste meu
regresso às pedaladas.
Tudo se complicou quando ontem
comecei a ver as previsões meteorológicas aqui para o distrito de Santarém:
vento com rajadas até aos 90 km/h e chuva.
Comecei a ver em perigo a
minha voltinha de bicicleta.
Hoje quando acordei às 6 da
manhã (sim, eu levanto-me com as galinhas!) a chuva era mais que muita mas isso
não era nenhum drama, o problema estava no vento com rajadas bem fortes.
Em situação normal deveria
sair com a minha Princesa lá para as 7:30 quando já há condições de luz para
pedalar com segurança mas com aquele tempo tive de renunciar a essa ideia e
muito contrariado meti-me a ver televisão.
Lá pelas nove horas da manhã
desponta um belo sol, mas continua o vento, e eu resolvo arriscar e ir
experimentar dar uma volta, mesmo que não fosse o previsto, pelo menos fazer
alguma coisa. Do que me havia de lembrar!
Um bocado a apalpar terreno
dou uma volta pequena aqui pela zona, o vento estava complicado mas lá se ia
fazendo.
Acabo por me aventurar a ir
até Marinhais e logo na EN 118 apanho com duas rajadas laterais que me tornam
difícil segurar a bicicleta.
Atravesso Marinhais na
diagonal com vento de costas e é uma maravilha que vou à vela!
Não chovia e o problema era
“só” o vento e acabo por me decidir em ir até a Glória, pelas Janeiras, e
depois Cucharro, Granho e Muge (casa).
Lá vou até à Glória, umas
vezes com vento mais de frente, outras mais lateral e algum de costas. A coisa
ia-se fazendo embora não fosse fácil e muitas vezes tive de me socorrer de
mudanças que parecia que estava num prémio de montanha de primeira categoria
quando na verdade estava em terreno plano ou a subir ligeiramente.
Da Glória para o Granho a
situação complicou-se mais, o vento era mais de frente, no Cucharro tive que
fazer algumas subidas com mudanças mesmo muito leves e em andamento que a
correr a pé iria mais rápido.
Chego ao Granho, lá faço toda
a rua principal com um vento meio de lado, meio de frente e chego à estrada que
liga Muge á Gloria.
Daqui para Muge a estrada
desce mais que sobe e os cerca de 6 km são algo que se despacha muito bem em
condições normais.
Mas o dia era tudo menos
normal!
Assim que viro à direita no
sentido de Muge dou de caras com uma “parede” de vento de frente, mas uma
senhora “parede”.
Começo a fazer a primeira
descida mas onde está a descida? Vou a descer e tenho de usar uma mudança quase
equivalente a como se fosse em sentido contrário ou seja a subir. Avançar é
mentira, o vento empurra, empurra, empurra para trás!
A muito custo lá chego à ponte
do Coalheiro e o que vinha a prometer desde o Granho acontece: começam a cair a
primeiras e grossas gotas de chuva. Há muito que um céu carregado de negro
ameaçava cair-me em cima da cabeça!
Por esta altura estaria a uns
três km de casa, mas que três km!
O vento é brutal, a chuva até
magoa e para ajudar à festa cai granizo!
Vou na mudança mais leve que
tenho, uma mudança que raramente uso por estas paragens pois não há altimetria
para ela, e quase não consigo avançar, tenho a certeza que vou bem mais lento
do que se fosse a correr a pé!
Tento vencer não cada metro
mas sim cada centímetro, pedalando contra uma chuva gelada, e um vento muito
forte. O desespero é muito e chego a pensar em parar e ir a pé, que seria mais,
fácil julgo eu! Mas lá vou resistindo, tentando alcançar pequenos objectivos,
aquela árvore, aquela poça, aquela curva e cerro os dentes. Aquilo metia medo!
Quando finalmente atinjo as
primeiras casas de Muge o vento dá mostras de abrandar e lá consigo meter uma
mudança mais pesada e aproveitar um pouco a ligeira descida.
Os 42/44 km previstos
transformaram-se nuns 36,640 km, provavelmente os mais complicados que já fiz
em cima de uma bicicleta, e um dos treinos com condições atmosféricas mais
adversas de sempre, mesmo considerando o meus 36 anos de ligação com a corrida,
uma maratona com chuva granizo e vento e a primeira edição Crosse da Serra do
Açor debaixo de um enorme temporal.
Mas não fosse um joelho que
anda meio “gripado” o saldo é positivo, estou feliz, vivo e ganhei ao São Pedro
mas por muito pouco.
De notar que a minha bicicleta
é uma velhinha BTT de 1991, uma excelente máquina na altura, a qual tive de
alterar a posição de condução com um guiador sobrelevado pois a minha coluna
não permite andar inclinado na BTT ou seja a posição de condução não pode ser
pior no tocante a vento de frente!
Este texto é dedicado ao Egas Branco, ao João Lima e ao Carlos Cardoso meus amigos e amigos dos temporais!
Em dia de namorados, tiveste um
ResponderEliminarcaso com o perigo. Ainda bem que tudo terminou com uma história para contar e a sensação de ter ganho às condições adversas.
Parabéns pela resistência e coragem.
Um abraço e obrigado pela dedicatória
Então a minha "namorada" Francesa não me ia deixar ficar mal logo no dia dos namorados! :) Um abraço.
EliminarMas que enorme EPOPEIA!!!!
ResponderEliminarNão fosse essa tua perseverança e ainda estavas lá agora... a pedalar! :)
Também já me aconteceu ir a descer e ter que mandar uma abaixo para conseguir ultrapassar a força do vento! Sei bem do que falas..
Grande relato! Adorei!
Este texto recordou-me um texto de um amigo meu, que relatou um dia de pedalada da malta, num "dilúvio". Vou recuperá-lo e postá-lo no meu blog :)
Abraço
Obrigado Luís. Fico à espera do relato da vossa volta num dia de "dilúvio"!
EliminarUm abraço.
Eu como sou mais caguinchas tenho sempre algum receio de desafiar a natureza. E também como tenho uma opção estática dentro de casa, acabo por ter alternativa em dias de grande temporal.
ResponderEliminarGrande corajoso, Jorge, sim senhor!!
Olá Anabela/Macarena! :)
EliminarEu não me dou bem com as opções estáticas, sinto-me um hámster a correr numa gaiola, pese embora tenha como recorde hora e meia a correr numa passadeira. O meu negocio é mesmo chuva, sol, calor, frio, vento, granizo! :) Mas ontem abusei da dose ou o São Pedro é que abusou de mim! :) Beijinhos.
Espectacular ... o treino e este texto ... parecia que ia a pedalar contigo :) ... muito bom mesmo!!!
ResponderEliminarGrande Abraço
P.S. e não estás todo partido hoje? :)
Obrigado Carlos Perneta Cardoso!
EliminarEstá explicado! Afinal não foi o vento! Não tinha reparado que ias sentado no quadro da bicla! :)))))))))))
Tenho as pernas algo moídas e doridas mas não estou todo partido. Amanhã era outro dia de bicla mas vou trocar por corrida a pé porque ainda estou um bocado de ressaca com a namorada Francesa e parece-me que ainda vai fazer algum vento e não me falem de vento e bicicletas por uns tempos! :)))))) Abraço
Por aqui também esteve muito vento ontem. Confesso que cheguei a temer a queda de alguns troncos quando andava lá pela serra. Vento é mesmo o pior para mim!
ResponderEliminarParabéns pela força de vontade. Se correr com vento já é difícil, imagino pedalar!
Beijinhos
Mas andar a correr na serra com muito vento também não é para todos! Mas a menina cada vez corre menos como um menina! Beijinhos Rute
EliminarÀ pois foi! Foi muito mau, eu como sabe andei pela serra dos Candeeiros mas nem o Jozéf se arriscou a subir às antenas... eu na minha frágil figura quase levantava voo... agora de bicicleta nas lezirias? A coisa não deve ter sido fácil não!
ResponderEliminarbeijinho
Pela Serra dos Candeeiros ainda deve ter sido mais complicado.
EliminarBeijinho.