segunda-feira, 18 de março de 2013

REPROGRAMAR


Desde a primeira hora que manifestámos a intenção de não abordar temas técnicos neste blogue por dois motivos: o primeiro tem a ver com as nossas poucas competências na matéria, o segundo com existência de revistas e sites que abordam esses assuntos com profissionalismo e rigor.
Mas todas as regras têm excepção e esta é uma delas (aliás não é primeira vez que aqui cometemos esta excepção).
No texto que se segue julgamos que a nossa longa experiência como corredores de fundo nos permita a elaboração do mesmo sem erros técnicos.
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Todos sabem (ou pelo menos deviam saber) que é fundamental a programação / planificação dos treinos.
Sem ela não há evolução e podem cometer-se erros que tanto podem levar a lesões por excessos e erros nos treinos, como à estagnação na evolução do treino, devido ao doseamento das cargas e dos seus ciclos (se repetirmos sempre os mesmos treinos o corpo habitua-se e não há evolução).
Mesmo aqueles corredores que não têm como objectivo a competição (ainda que essa mesma competição seja apenas em despiques com os amigos ou consigo próprios) devem fazer uma planificação do treino sob o risco de lhes acontecer o que atrás foi descrito.
Mas não vamos falar aqui de planificação / programação do treino mas sim de algo que julgamos ser muito pouco falado, a reprogramação! Mas o que é é isso da reprogramação?
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Ao planificarmos um treino temos que ter em conta uma série de objectivos e condicionantes e depois passamos essa planificação para o balão de ensaio que se chama a prática!
Por mais rigorosa e científica que seja a planificação do treino só no terreno sabemos se vai tudo dar certo. O grande “segredo” do corredor de fundo é mesmo saber escutar o seu corpo, a “máquina”, interpretar os sinais que ele dá e a partir deles ajustar ou melhor reprogramar a planificação que se fez do treino.
Pode haver planificações de treino que saem 100% certas e sejam exequíveis tal e qual foi planificado, mas outras terão que ser “limadas” depois dos testes no terreno.
Também não podemos esquecer que há uma enorme variedade de condicionantes externas que influenciam o treino e podem obrigar à sua reprogramação
Só para dar um pequeno exemplo: se programamos um treino em que nos propomos correr uma hora a um determinado ritmo mas nesse dia as condições atmosféricas estão muito más, com chuva e vento fortes, temos de reprogramar esse objectivo e adaptá-lo a realidade da altura.
Mas este é um pequeno exemplo, pois toda a vida extra treino condiciona o mesmo.
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Por tudo isto nunca se esqueçam que para além da enorme importância que tem a planificação do treino é fundamental saber reprogramá-lo e para isso é necessário saber escutar e sentir o nosso corpo e também analisar todas as condições externas aos treinos e o que elas podem influenciar esse mesmo treino.
Mesmo para quem tem a “sorte” de ser orientado por um treinador é fundamental saber interpretar como nos sentimos no treino de modo poder transmitir tudo isso ao nosso treinador e ele poder planificar e reprogramar o treino convenientemente,
No fundo é como nas competições de automobilismo, em que é fundamental o piloto dar ao mecânico indicações sobre o comportamento do carro para ele o afinar na perfeição.
Na corrida, uns têm o “privilégio” de ter um “mecânico” (o treinador) outros serão “mecânicos e pilotos” deles próprios mas em ambos os casos é essencial saber escutar o “motor” para uma boa planificação e reprogramação dos treinos.
E, já agora, não se esquecem de anotar o treino que fazem e como se sentiram durante o mesmo pois sem esses dados tudo se perde na memória e fica praticamente impossível ver o que tem de ser ajustado.
E nunca, mas mesmo nunca, sigam cegamente a planificação dos treinos, “contra tudo e contra todos”, sem fazer os ajustes que a prática e as condicionantes exteriores ao treino assim aconselham! Conhecemos corredores que agiam dessa forma, que consideravam uma derrota modificar um plano de treino e os resultados que obtiveram dessa forma cega e surda de encarar a planificação do treino foram muito desagradáveis.
Bons treinos!

14 comentários:

  1. A vossa longa experiência traduziu-se numa análise correta! Parabéns pela reflexão!
    Às vezes perguntam-me como é que faço/decido os meus treinos... respondo que sigo um plano de treinos, mas que não sou muito rigoroso no seu cumprimento, precisamente pelas razões que aqui adiantaram. A última das minhas razões foi uma gripe... sempre arreliadora para quem segue um plano e se vê obrigado a alterar o treino e a reprograma-lo. E como reinicia-lo? Ah pois.. não se pode seguir como se não se estivesse doente. Há-que "embalar" novamente, sentindo o corpo!

    Bons treinos!

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  2. É mesmo verdade depois de uma arreliadora gripe tem mesmo que se sentir o corpo e "embalar" de novo!
    Espero que essa gripe já tenha ficado para trás e se encontre na fase do "embalar"!
    Um abraço.

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  3. O plano de treinos na imagem é um tesouro!!!

    Muito correcta a análise da reprogramação! Fundamental. Embora por vezes crie alguma frustração mas a que o bom senso logo se encarrega de curar.

    Um abraço

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  4. O plano de treinos faz um pouco parte da história da corrida para todos em Portugal.
    Tratava-se da planificação para a minha primeira Maratona para a qual treinei no Centro de Treino Para a Maratona organizado pela Revista Spiridon. Estava-mos no ano de 1983!

    Sim a reprogramação cria alguma frustração mas a partir dela e dos acertos no treino é que se chega aos objectivos pretendidos.
    E se por norma a reprogramação implica diminuição da carga ou intensidade do treino casos há em que é precisamente o contrário!

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  5. Com tantos anos que leva de corrida acho que já tem toda a propriedade para falar, quanto mais não seja da experiência própria! Essa reprogramação não é fácil... apesar de não ter um plano de treinos muito estruturado, há objectivos semanais a que me proponho e fico um pouco frustada quando isso não acontece (como agora...) mas há que dar ouvidos ao corpo - nisso a experiência também ajuda (saber quando é preguiça ou cansaço/dor mesmo).

    Beijinho

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  6. Sim com a experiência aprende-se a distinguir a preguiça do verdadeiro cansaço.
    Tenho para mim que se três treinos seguidos correrem mal (com cansaço anormal por exemplo) é que algo está mesmo mal e tem de se descobrir o que é.
    Por norma a um dia de treino mais forte deve seguir-se outro mais fraco.
    Pode programar-se um ciclo de 3 semanas de treino em que se vai aumentando a carga de treino de semanalmente (mas sem aumentos bruscos) sendo que a quarta semana será de recuperação para de seguida se iniciar novo ciclo de 3 semanas.
    Beijinhos

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  7. Cada indivíduo é único. Qualquer programa, do que quer que seja (Corrida, emagrecimento, etc, etc), tem sempre de ser adaptado e ajustado ao indivíduo. O que se passa na programação e reprogramação que é necessária ao seguir-se um plano de treinos, é afinal o mesmo que se passa em todas as áreas da vida: o que é bom e aconselhado para um, não o é para outro. Cada um tem as suas características, limitações e dificuldades, e necessita de mais ou menos tempo ou de um ritmo mais ou menos rápido que outros. Afinal, é "só" termos em conta o indivíduo em vez de generalizarmos.

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  8. Não podia estar mais de acordo!
    Ainda ontem um grande amigo meu, especialista na matéria, me dizia que é muito importante o treinador conhecer a "maquina" do atleta!
    Sem um conhecimento profundo do atleta nenhum treinador se "safa". Nesse sentido também é muito importante um atleta saber transmitir tudo o que sente ao seu treinador.
    E quando não se tem treinador temos de saber adaptar o treino as nossas características.
    Mas há princípios básicos pelos quais se rege a metodologia de treino que são aplicáveis a qualquer indivíduo Um beijinho.

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  9. Excelente e sábio artigo Jorge!
    Faz todo o sentido o que escreveste.
    Eu anoto numa folha de Excel todos os meus treinos e como correram. Sendo ainda "principiante" nas corridas, sinto que ainda estou a conhecer bem esta máquina que é o meu corpo. Cada treino é um treino, mas sinto que já percebo melhor como o meu corpo funciona. Embora ainda tenha muito que aprender com a experiência. Mas é aí que está a beleza da corrida. Estamos sempre a receber grandes lições de vida.
    Beijinhos e boas corridas!

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    1. Obrigado Isa.
      Também eu uso uma folha de cálculo do em Excel para registar os treinos e obter uma serie de dados estáticos sobre o mesmo.
      Fomos (o Egas e eu) desenvolvendo essa folha ao longo de vários anos (muito antes de se usar o GPS que já fornece alguns dados de forma automática).
      O Excel é uma ferramenta poderosa na análise dos treinos e cada um pode criar uma folha conforme as suas necessidades.
      Beijinhos.

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  10. Grande Jorge, uma boa lição que eu não sigo de uma ponta à outra. A única coisa que programo são as provas, é aí que faço os treinos, longos é claro, porque o resto do tempo vou lentamente correndo com o único objectivo de recuperar para o próximo longo treino, sou se calhar um mau exemplo mas é exactamente como diz, todos somos diferentes e a forma como olhamos para o nosso físico e a forma de o conservar também se diferencia de uns para os outros. Eu creio que não me pareço com ninguém, mas gosto daquilo que faço. Abraço.

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    1. O amigo Joaquim Adelino é um excelente exemplo de como obter grandes resultados com um treino perfeitamente adaptado aos seus objectivos!
      Actualmente também faço uma programação muito mais simplificada do treino apenas tentando respeitar alguns princípios básicos do mesmo porque o esqueleto já não dá para grandes “voos” e o objectivo é simplesmente ir correndo.
      Acredito que quando se corre por outros objectivos, como por exemplo tentar correr uma maratona no máximo das nossas capacidades físicas, a planificação tem de ser muito rigorosa e científica.
      Se não tivesse tido orientação no treino para a maratona e na seguisse um esquema bem planificado estou convencido que nunca teria tido os resultados que consegui obter.
      Forte abraço.

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  11. Uma análise e reflexão simples mas muito acertada.
    Ainda há muitas gente que pensa que um Plano de Treino é uma "fórmula matemática" que se aplica a qualquer um e que faz surgir como que por magia um resultado "encomendado".
    Já fui abordado várias vezes com pedidos do género: "Quero fazer a marca "x" na distância "y". Seria na prova "z"... Fazes-me um plano de treinos?...
    Costumo responder com uma de duas respostas: "E eu quero ganhar o euromilhões" ou "Porque só pedes esse resultado? Não queres antes um mais próximo do Recorde Nacional?"

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  12. O Euromilhões também me dava jeito heheheheh.
    Um grande abraço amigo.

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