Por mais planificações que
façamos na vida estamos, sempre, sujeitos a pequenos, e grandes percalços, que
nos podem estragar os planos.
A vida é assim uma caixinha de
surpresas e quando gizamos objectivos e metas a cumprir não é um dado adquirido
que tudo vá correr conforme os nossos intentos.
Mas não é pelas
características de vulnerabilidade da vida que todos nós vamos deixar de traçar
rumos, planear objectivos, lutar por transformar o sonho em realidade.
Por mais simples e elementares
que sejam os planos uma vida sem eles não faz sentido.
Os que já não sonham e
planificam estão no limiar do que se pode considerar uma existência humana que
se encontra muito mais perto da dos outros animais não racionais, que apenas se
limitam à sobrevivência diária.
Infelizmente há milhões de
seres humanos que vegetam nos limites da sobrevivência e aos quais foi negada
toda a capacidade de fazer projectos e sonhar, mas isso é outro assunto.
Também nas nossas corridas
temos planos e sonhos, quer andemos nas frente dos pelotões, lá pelo meio ou na
cauda. Mesmo que a nossa forma de estar na corrida não passe por o fazer, mais
ou menos assiduamente, com o uso de um dorsal, não é por isso que deixamos de
ter os nossos objectivos. Correr sem objectivos é coisa que julgamos
impossível!
Pensamos que uma das coisas
que mais aterroriza o corredor de fundo são as lesões.
Por mais cuidados que se tenha
as lesões acabam por ser praticamente impossíveis de evitar e, com maior ou
menor gravidade, vão sempre surgir na vida de um corredor.
É claro que quem seja
acompanhado por um treinador e tenha acesso permanente e facilitado a um médico
especialista em medicina desportiva (de preferência que seja também ele
corredor) irá ter muito menos lesões do que quem não tenha esse tipo de apoio.
Infelizmente em Portugal o
corredor encontra-se, na esmagadora maioria dos casos, totalmente abandonado à
sua sorte e em muitos casos com grandes dificuldades em ter apoio médico e já
não falamos sequer em apoio médico especializado, pois neste país Europeu e em
pleno século XXI são cada vez mais os Portugueses que tem extremas dificuldades
no acesso aos mais elementares cuidados de saúde (e o concelho onde vivo;
Salvaterra de Magos, é uma gritante prova disso).
Estar lesionado é o não
podermos fazer uma das actividades lúdicas que mais prazer nos dá, é não
podermos ter aquela válvula de escape diária tão essencial, ainda para mais
nestes tempos tão duros, negros e injustos que atravessamos, estar lesionado é
também, muitas vezes, ver os tais objectivos que planificámos ficarem adiados e
em alguns casos, irremediavelmente perdidos.
Mas também há formas de
enfrentar uma lesão e também se treina para isso!
Não é fácil, nada fácil,
enfrentar uma paragem forçada nas nossas corridas mas um dos truques que
podemos usar nessas alturas é de canalizar o tempo que “perdemos” na nossa
actividade diária da corrida noutras coisas que nós tragam prazer.
Se pudermos, se tivermos
condições físicas e logísticas, se pudemos optar pela prática de outra actividade
desportiva que não prejudique a nossa lesão, então será o ideal. Pode-se
enquadrar neste campo a bicicleta, a natação, a corrida aquática ou mesmo,
talvez, a caminhada. Tudo depende do tipo de lesão que nos afecta e dos nossos
gostos pessoais.
Não querendo, ou não podendo,
praticar uma actividade desportiva complementar a solução passa por ocupar o
tempo que iríamos despender na corrida noutra qualquer actividade ao nosso
gosto. Desde o dar mais atenção à família, ao ler um livro, namorar, ouvir música,
organizar coisas em casa a um leque quase inesgotável de actividades em que
podemos ocupar o tempo em que estaríamos a correr.
Claro que não é fácil, nada
fácil mesmo, canalizar o tempo em que estaríamos a correr para outra
actividade. O atleta lesionado fica com um ”humor de cão” e pese embora tenha
mais tempo para fazer outras actividades a vontade é não fazer nada, porque não
sente vontade de coisa nenhuma senão correr e correr é precisamente a única
coisa que não pode fazer! Mas quando se entra neste estado de espírito temos de
nos socorrer da nossa vontade férrea de corredores e pensar: se eu “salto” da
cama para ir correr com chuva, com frio, se eu consigo ir correr quando não me
apetece mesmo nada, também tenho de ter força de vontade e disciplina para
ocupar o meu tempo quando estou impedido de o fazer por lesão!
Ao atleta lesionado custa
muito, ao princípio, dedicar-se a outra actividade mas depois habitua-se e o
tempo em que se vê obrigado a não correr vai-lhe custar muito menos a passar e
quase sem dar por isso muito em breve estará de volta à estrada ou aos trilhos.
Num próximo texto falarei das
duas lesões que deram cabo da planificação de dois grandes sonhos da minha vida
de corredor.
Num caso foi mesmo um sonho
que se perdeu, noutro caso consegui-me “vingar” no ano a seguir (e de que
maneira!) e até tive mais facilidade em cumprir o sonho, pois estava mais
experiente e também aprendi com a experiência dos outros.
Este texto é dedicado a um
grande, grande amigo, que está a passar por uma situação mais negra na sua
actividade de corredor de fundo mas que tenho a certeza, que vai sair dessa
situação mais forte e mais apto para novas conquistas.
Um forte, forte abraço João,
meu amigo (irmão adoptivo) maior que o pensamento. Toda a força do mundo para
ti.
Nota: a foto que ilustra o
texto é de arquivo e antiga.
Um grande abraço, Jorge!
ResponderEliminarObrigado e força campeão!
ResponderEliminarSem tirar nem pôr....isto é o voz da experiência. Força João.
ResponderEliminarAbraço Jorge
Deve ser a experiência sim! Já deve ter mais experiência em lesões que em treinos! he he he he he!
ResponderEliminarUm abraço.