MARATONA

Na semana em que se vai efectuar a nova maratona de Lisboa voltamos a publicar aqui no Último Quilómetro um texto de Jorge Branco escrito no já longínquo ano de 1985.

Se na altura o Jorge dedicou esse texto ao Professor Mário Machado (que curiosamente, e passados todos estes anos, é o director técnico da nova maratona de Lisboa) hoje queremo-lo dedicar a todos quantos vão correr os míticos 42,195 km no domingo, que sejam muito felizes!

A foto ilustrativa deste texto foi obtida na Maratona Spiridon em oito de Dezembro de 1985 e, infelizmente, desconhecemos quem foi o autor da mesma.

MARATONA

A marca dos 40 quilómetros pintada a amarelo no negro alcatrão.

A mesa, o estenderem-lhe o copo, o abrandar da passada, o beber com sofreguidão.

Copo atirado ao chão, olhar o relógio, espreitar a tabela e uma louca, louca vontade de correr.

Há uma mulher de cabelos pretos – cor de azeitona – que corre para ele numa praia de mar azul.

Há um amigo que lhe martela no cérebro, força, força, força...

Alguém muito querido que o embrulha num cobertor no “funil” de chegada da Maratona de Nova Iorque.

Que louca vontade de correr.

Vai leve e pesado, vai cansado e fresco.

Cada passada tem o peso duma libelinha, o peso de um elefante.

A estrada desce e ele desce em vertigem ao fundo de si.

E aí esta esse risco maldito, essa palavra, amaldiçoada: META.

As palmas, incitamentos, rostos amigos.

E ele “sprinta”, e ele corre para a mulher de cabelos cor de azeitona numa longínqua praia e ela corre para ele.

Passar o risco, gesto automático, desligar o cronómetro, olhar o tempo.

Aí está: 3h10.27, nesse dia 21 de Abril de 1985, na VII edição da Maratona do INATEL, na Foz do Arelho.