O REGRESSO ADIADO

Por: Egas Branco

Tentei preparar-me para regressar esta época de 2012-13, que agora se iniciou. O começo de cada nova temporada desportiva sempre foi, para mim, na Corrida da Festa do Avante, desde que esta prova foi criada em 1988. A ideia era participar de novo nessa carismática corrida, no último dia de uma Festa sem igual no nosso País (e a que nunca gosto de faltar). 

Iniciei treinos. Os amigos incitaram-me a prosseguir (até no facebook). Tudo parecia correr bem, quando uma arreliadora ruptura num gémeo fez o “desatleta”, que sou eu, regressar ao princípio. Agora haverá que recomeçar lentamente mas com persistência, com novos objectivos. 

Sei que os tempos não estão bons para a actividade desportiva (aliás para nenhuma actividade), agora que a situação social e política no nosso País se agudizou. Que muitos de nós sofrem na carne as dificuldades porque atravessamos. Que a luta de classes se voltou a reacender, violentamente, com os mais ricos e poderosos no domínio da situação, querendo impor novas e mais violentas formas de exploração, diminuindo direitos e salários, enquanto os proventos deles aumentam exponencialmente. Por vezes tem-se a impressão que gostariam de voltar a utilizar a escravatura, limitando os "seus" trabalhadores a um parco tecto e à alimentação só indispensável para que não morram cedo e possam continuar a produzir mais e mais. 

Leio, num jornal comprado hoje mesmo que, segundo a APEFA - Associação Portuguesa de Educação e Formação de Adultos- quase um milhão de portugueses não tem qualquer nível de escolaridade! Dado assustador, no segundo decénio do Século XXI! Só isso é bem revelador do tipo de política que nos têm desgovernado nas últimas décadas. 

Claro que não podemos permitir que isto continue. 

Sim! Vou treinar. Talvez voltar à competição (mas acima de tudo para competir comigo próprio) neste desporto de que tanto gosto. Mas vou também participar nas lutas que se avizinham. Porque não me sinto bem com a minha consciência se nada fizer pela melhoria da vida do meu País, o que significa acima de tudo, pela melhoria das condições de vida do Povo do meu País. 

Então talvez possamos sonhar num Desporto para Todos, desde os primeiros anos da Escola, com condições e apoios que justifiquem o velho lema latino "mens sana in corpore sano". 

Apesar de não poder participar na competição, não deixei de ir ver a Corrida da Festa, com o seu muito mais que um milhar de participantes, (o que não deixa de ser uma proeza nos tempos que correm). Assisti à prova. Tirei algumas fotografias aos amigos que consegui descortinar. Revi amigos. Recebi gestos de amizade que não esqueço (apesar de não correr, regressei a casa com uma camisola da Corrida! Obrigado amigo!). Ganhei forças para os tempos que se avizinham. E vou recomeçar a treinar, claro!