segunda-feira, 23 de abril de 2012

ALERTA – O QUE SE PASSA COM OS CORREDORES?

Dois leitores desde blogue, ao comentaram um texto aqui publicado, referiram que quando em pleno treino se cruzam com outro corredor e o saúdam, muitas vezes esse seu gesto não é correspondido.
Ficámos completamente perplexos e preocupados com estas  afirmações e o que elas representam.
Começámos a correr na década de oitenta e nesses anos era impensável que ao passarmos por um corredor não houvesse uma saudação / cumprimento mutuo.
Todos nós corredores nos sentíamos pertença de uma grande família e, de certa forma, irmãos de um certo ideal, de uma certa maneira de estar na vida.
Não vou dizer que o mundo da corrida fosse algo de perfeito e idílico, uma sociedade à parte. Não, o mundo da corrida espelhava a sociedade em que se vivia na altura, com todas as suas imperfeições mas, de qualquer forma, o nosso “pequenino” mundo de corredores ainda era muito mais fraterno que o “mundo  exterior”.
Naqueles anos era quase escandaloso um corredor saudar outro e não ser correspondido!
Quando deixei a cidade grande e vim viver para o campo passei praticamente a não me cruzar com outros corredores mas mantive a pratica de os saudar, das raras vezes em que isso acontece.
Mas se não encontrava corredores passei a ter por hábito saudar as pessoas com quem cruzava, em especial em locais mais isolados.
Ao ser praticamente o único corredor a passar em determinados locais sinto-me como um embaixador do nosso desporto e tenho como obrigação ser o mais educado possível com as pessoas pois elas podem não entender bem aquele esforço de um sujeito que anda por ali a correr mas têm que ficar com uma imagem o mais positiva possível do corredor que por elas passa.
Nos dias de hoje continuo a executar estas práticas e a ser correspondido nas minhas saudações.
Talvez por viver longe dos grandes centros as coisas por aqui sejam diferentes e as pessoas ainda tenham outra disponibilidade e atenção para quem com elas se cruza por esses caminhos.
Sei que a sociedade está cada vez mais egoísta e egocêntrica, que as pessoas estão cada vez mais envoltas em problemas, que destroem os sonhos e tornam a vida num inferno, mas se quando se corre, se quando estamos a fazer algo que nós dá prazer, não temos a capacidade, mínima, de esquecer os nossos problemas e responder a uma simples saudação do corredor que connosco se cruza então essa sociedade está bem mais doente do que eu possa imaginar.
O que se passa connosco corredores que já nem respondemos à saudação de outro corredor que connosco se cruza?
Para onde vamos com estas atitudes?
Se o treino não nos liberta dos problemas do dia a dia, não nos torna mais humanos, mais fraternos, vale a pena continuar a correr?
Vale a pena andar correr tão mal disposto que respondemos com o silêncio e um ar carrancudo  ao colega que por nós se cruza no treino?
Não! Este não é o meu mundo da corrida. Aprendi que ser corredor é ser-se fraterno e solidário!
Não pensem que não tenho problemas, que a vida me corre de feição, bem pelo contrário, mas quando os problemas da minha vida interferirem de tal maneira no meu treino que me impossibilitem de saudar o amigo corredor que comigo se cruza, se esse dia chegar, deixo de treinar! Correr mal disposto e angustiado não vale a pena! É contrário a tudo o que aprendi sobre o que é correr!
E nem quero pensar que a falta de resposta a uma saudação seja, tão simplesmente, falta de educação. Não acredito que haja assim por aí tantos corredores mal educados! Prefiro acreditar que é o “peso da vida” que está a afectar também a “família” dos corredores!
Vamos mudar de atitudes? Vamos ser mais humanos e fraternos?
Jorge Branco

8 comentários:

  1. Efetivamente, Jorge, a sociedade está cada vez mais "contaminada" com pessoas pouco sociáveis. Os velhos e saudáveis atos de boa educação e civismo estão a perder-se... até para os que correm...
    Mas que isso não seja impeditivo de aqueles que ainda possuem uma formação e um polimento aprumados, se manifestem e façam sobressair as boas práticas.
    Abraço!

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  2. É verdade!

    Isso acontece e muitas vezes... maias até as que não falam nem respondem do que as que cumprimentam.

    O tipo de pessoas que hoje corre nas ruas é cada vez mais e de uma variedade enorme... não é como antigamente.

    Não corro assim há tanto tempo e noto uma diferença enorme e muitas vezes levam música... não estão nem aí como se costuma dizer!

    Não creio que seja falta de educação mas um modo de vida... as pessoas hoje em dia vivem para elas, não para os outros. Foram criadas assim!

    É certo que nos corredores se encontra uma entreajuda que não existe noutro lado, ficamos amigos, nem que sejam "os amigos das corridas" e amizades verdadeiras. Mas enquanto vai e não vai encontro muita gente que nem param para cumprimentar.

    Quando vamos a correr todos (PR) já temos feito esse exercício ;) falamos só para ver quem responde e não responde!

    Boas corridas!

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  3. Sublinho o que já foi escrito, nas zonas por onde habitualmente treino acontece o mesmo.

    Em todo o caso, além da educação (ou falta dela) parece-me também que há muito atleta novato que ainda não "percebeu" esta cumplicidade desportiva.

    E se em alguns sítios esta prática se torna impraticável dada a quantidade de corredores, tais como Belém, Monsanto, Parque da Paz (Almada), para referir só alguns que frequento, noutros sítios de menor afluência custa imenso quase ser ignorado por outros atletas.

    Claro que há o reverso da medalha e é nestas atitudes que me revejo e valorizo, quando passamos não só por corredores mas por ciclistas ou outro tipo de desportistas, e a tal bendita saudação não falha.

    Boas corridas...

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  4. Jorge
    uma relaidade mais que evidente a que foi referida aqui no teu blogue,muitas vezes tenho feito esse exercicio.
    Nos meus longos de fim de semana um tipo de desportista tenho sempre cumprimentado e em 90% dos casos sou correspondido, o pessoal das bicicletas, experimentem e vejam a diferença.
    Apesar de tudo sou corredor com muito orgulho.
    Abraço,
    António Almeida

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  5. É mesmo isso Jorge, as pessoas que agora correm, já não pertencem ao "pequenino mundo" dos corredores de estrada das décadas de 80/90. Passaram a pertencer a um mundo bem maior, onde o permanente stress e o egoísmo invariavelmente as 'engole' na permanente competição que por aqui se desenrola. Pelo contrário, sempre que corro em meios rurais, mesmo sendo raro cruzar-me com outros corredores, sou invariavelmente correspondido pelas pessoas por quem passo a correr e que faço questão de cumprimentar. Aliás, dei comigo com maior disponibilidade para precisamente cumprimentar as pessoas nessas circunstâncias, do que aquelas que comigo se cruzam aqui, quando corro na grande cidade. Se virmos bem é também isso que se passa fora da corrida, quando as pessoas se cruzam na cidade e no campo, adoptam comportamentos completamente diferentes.

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  6. Olá Jorge!

    Concordo plenamente com tudo que escreveu. Aqui em São Paulo a falta de saudação entre os corredores é ainda mais gritante. Sempre saúdo, mas na grande maioria das vezes fico sem uma resposta.

    É uma pena.

    Gostaria muito de publicar o seu post no meu blog. Gostaria da sua permissão.

    Um abraço.

    Dona D
    www.nomundodaslulus.blogspot.com

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  7. Oi,

    aqui no Brasil acontece a mesma coisa, e igual ao que notastes, isso acontece principalmente com os novatos. Eu gosto de cumprimentar, como se fosse um reconhecimento do esforço mútuo, e também de educação, claro.
    Abç

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  8. É cada vez, infelizmente, mais verdade o que descreve tão bem, caro amigo Jorge.

    Mas, também, nos compete a nós, tentarmos manter vivos alguns dos pilares bases da nossa formação: a educação, o civismo, o companheirismo e afastando por completo o egoísmo, o egocentrismo e, porque não até dizê-lo, a falta de educação que uma manifestação desse teor traduz.
    Um abraço
    Rui Varela

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