MEMÓRIAS DO ATLETISMO - (II)
OS NOSSOS HERÓIS - FRED LEBOW (1932-1994)
(por Egas Branco)
Ao pensar numas curtas memórias sobre a Corrida, que acabou por ser o
desporto que pratiquei durante mais tempo e com grande prazer, embora começasse
já como atleta veterano, tendo-me iniciado em 1980, por desafio do meu então
jovem sobrinho Jorge Branco, do blogue Último Quilómetro, que nos levou até à
maratona, e à ultra-maratona, pensei em episódios em que são referidos nomes que
todos conhecemos e admiramos, os que já andamos nisto há alguns anos, como Adriano
Gomes, Albertina Dias, Anacleto Pinto, Analice Silva, António Matias, Carla
Sacramento, Carlos Lopes, Eugénio Ruivo, Fred Lebow, Joaquim Branco, José
Moutinho, Manuel Faria, Mário Machado, Paula Radcliffe, Rita Borralho, Rosa
Mota, e mais alguns, todos sem excepção atletas que admiro e admirei, entre os
quais alguns, poucos, que já infelizmente nos deixaram.
Depois da minha primeira memória - em que lembrei o grande atleta de
meio-fundo e fundo, detentor de vários recordes nacionais em diferentes distâncias,
Joaquim Branco, passo à segunda, em que o personagem é Fred Lebow, o mítico
criador e durante muitos anos organizador da Maratona de Nova-Iorque, onde,
infelizmente por motivos pessoais nunca corri, embora tivesse treinado mais de
uma vez no Central Park, o grande parque urbano daquela urbe e onde a Maratona
de Nova Iorque teve o seu início há quase meio século (1970).
Era num tempo em que quando tinha que dormir fora de casa por razões de
trabalho levava sempre às costas a minha pequena mochila com o equipamento de
corrida. Posso por isso dizer que eu, um modesto atleta amador e ainda mais
modesto viajante, corri nalguns dos sítios mais emblemáticos das grandes urbes
e que nunca ninguém me maçou, nem nunca me perdi. Agora com o mau estado actual
do mundo talvez isso já não fosse possível, admito eu...
Foi em 1992, em 15 de Março, na 2ª edição da Meia Maratona de Lisboa, cujo
director era como sempre o Professor Mário Machado, que me cruzei, finalmente,
com o Fred Lebow, e o saudei, querendo manifestar-lhe a minha grande admiração
por ele, naqueles brevíssimos instantes em que passámos um pelo outro, para mim
julgo que já depois já retorno, uma vez que ele fez a prova mais lentamente.
A sua vinda foi possível obviamente porque o seu grande amigo e director da
prova, Mário Machado, o deve ter convidado. Mas a sua participação foi muito
discreta atendendo ao seu estado de saúde, embora houvesse ainda nessa altura a
esperança de cura.
Alguns meses mais tarde em 1 de Novembro de 1992, ainda haveria de correr a
sua última maratona, na sua cidade adoptiva, Nova Iorque, na companhia da sua
grande amiga, Grete Waitz, uma das maiores maratonistas da história do
atletismo. Terminaram juntos em 5h32'35" e não conseguiram reter as
lágrimas na meta (ver emocionante imagem).
Fred Lebow faleceria em 9 de Outubro de 1994, vitimado pelo cancro que lhe
havia sido diagnosticado em 1990 e contra o qual lutou com todas as forças.
Da sua participação em Lisboa, em 1992, anexo a fotografia que fez com
outro grande campeão da maratona, o nosso Carlos Lopes.
Em 4 de Setembro de 2009 publiquei no Último Quilómetro um texto de
homenagem a Fred Lebow, que pode ser lido aqui,
e que julgo que mantém a sua actualidade. Não deixando então de citar que, curiosamente,
ele começou por jogar ténis, tal como este modesto admirador, mas a conselho
médico passou a correr, duas vezes por semana... Foi o início de tudo.
Grete Waitz a extraordinária atleta norueguesa que venceu nove vezes a
Maratona de Nova Iorque, viria infelizmente a falecer também de cancro, em
2011, dois anos depois de eu ter escrito esse meu modesto texto, o que torna
ainda mais emocionante a fotografia de ambos no final da prova, na última vez
que os dois correram a maratona que Fred Lebow criou em 1970, com a
participação de 126 homens e uma mulher.
Hoje esta maratona atinge o limite possível de inscrições, cerca de 40000.
A nossa grande admiração por ambos mantém-se para sempre.
Egas Branco, Lisboa, 26 de Julho de 2017
Belo e justo artigo!
ResponderEliminarE se começou com 127 atletas, hoje tem só 40.000. E digo só porque é o seu limite, dado que as propostas de inscrição chegam aos 300 mil!
Foi a partir desta criação que se começaram a intensificar as Maratonas abertas a todos.
Um abraço