Por João Paulo Alcântara
Chegou ao estádio
particularmente cedo naquele sábado.
Era dia de “mobilização geral”
em casa e estava “destacado” para participar na grande limpeza doméstica da
Primavera.
Levantara-se à pressa e
equipara-se ainda mais estremunhado que nos dias de semana em que o horário de
trabalho implicava alta velocidade.
Meteu-se no carro e parou no
café onde mal teve tempo de dizer bom dia ao senhor Antunes e engoliu uma bica
quase a escaldar.
Às 7 da manhã já se estava a
equipar para um treino de 50 minutos. A primavera amena já dispensava o uso de
calças de licra e camisola de manga comprida.
Assim que começou a correr
sentiu algo de estranho, algo que não batia certo. Era algum problema a nível
dos pés.
Corredor veterano como muita
“estrada” nas pernas e algumas maratonas no curriculum, era daqueles atletas
que sabia “escutar” o corpo. Os anos e anos de treino permitiam-lhe saber
quando uma dor era algo de normal, inerente ao próprio esforço, ou quando se
tratava de uma lesão muscular.
Muitas vezes era mesmo
possível evitar uma lesão através da interpretação dos “sinais de alarme” que
constituem as dores musculares. Mas o que sentia naquela manhã era algo de
diferente que não entendia nem sabia interpretar.
Era nos pés sem a menor duvida,
mas o quê? Tendão de Aquiles não, problemas na tibiotársica também não, nem tão
pouco fascite plantar.
Sentia um certo desequilíbrio,
uma sensação esquisita, como se os pés lhe fossem estranhos.
Enquanto descia para o velho e
desactivado hipódromo relembrou os treinos dos últimos dias na busca de
qualquer dado que lhe permitisse descobrir o que se passava. Mas não se lembrou
de nada de relevante.
Resolveu tentar abstrair-se do
que sentia, desfrutar o lindo dia de primavera e esperar que a tal sensação
estranha fosse algo de passageiro.
Mas à medida que completava a
primeira volta ao velho hipódromo a situação piorava. E os pés (agora ambos os
pés!) começaram a doer. Nunca lhe tinha acontecido algo de semelhante! Eram
dores nos dois pés mas sem sítio definido e aquela estranha sensação de
desequilíbrio.
A contra gosto suspendeu o
treino e regressou ao carro a caminhar. Mas nem a caminhar se sentia normal!
Enquanto esperava que o
balneário abrisse ficou no carro envolto em pensamentos negativos: tinha que me
lesionar logo na semana do trail e para piorar as coisas nunca senti nada
assim! Bolas!
Assim que o balneário abriu
foi tomar duche triste e acabrunhado.
Quando se desequipava entrou o
Esteves que vinha para o seu treino longo.
Prontamente contou ao amigo de
longa data o rosário das suas desgraças, da lesão misteriosa.
O Esteves ao princípio escutou
atentamente, mas de repente, começou a olhar fixamente para o chão e a rir
desenfreadamente!
-O que foi Esteves? Isto não
tem graça nenhuma!
-Ouve, esses sapatos são teus?
-São! Porquê? Replicou o João sem sequer olhar para
os sapatos com que efectuara o treino
-É que julgava que era costume
usar um par de sapatos da mesma marca, mas tu tens aí dois sapatos de marca
diferente. Disse o Esteves, com muita dificuldade, no meio das gargalhadas!
Foi então que o João olhou
para os sapatos e constatou o facto: tentara efectuar o treino calçando no pé
direito um sapato da marca Zavix, de cor amarela e modelo para estrada,
enquanto no pé esquerdo tinha calçado um sapato da marca Eboc, cor de salmão, e
modelo para trail!
Estava explicada a “lesão”!
Eu, por saber bem a dor que é ter que ficar parado por lesão, à medida que ia lendo cada vez estava mais condoído pelo atleta.
ResponderEliminarAté que cheguei ao final!
Eh eh, enganaste-me bem! :)
Obrigado, João. Vou transmitir ao autor o teu comentário.
EliminarSe a historia é verídica , (acredito que sim) não deixa de ter graça.Tal como João li com atenção cada palavra , pois lesões é comigo e sei a dor que é ficar sem treinar.abraço aos dois (a quem escreveu e a promoveu)
ResponderEliminarBem, prezado amigo Joaquim Costa, eu não sei se a historia é verídica ou ficcionada mas conheço duas pessoas que foram para o emprego com sapatos diferentes em cada pé e uma que foi de chinelos e só deu por isso quando já estava dentro do comboio!
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