
Se em pleno esforço queríamos avaliar com se estava a processar a nossa prestação em relação ao ritmo cardíaco, a solução era falar, mesmo que fossemos a treinar sozinhos! Pela facilidade com que falávamos sabíamos se íamos ou não em dívida de oxigénio, se estávamos a correr em regime aeróbico ou anaeróbico.
Quanto a saber a exacta distância do percurso que efectuávamos era algo mais complicado. Podíamos recorrer à medição, nada exacta, efectuada com um carro, com uma bicicleta com conta-quilómetros, em que a exactidão continuava a deixar imenso a desejar ou recorrer as medições quilométricas que constavam nos marcos das estradas e que contêm sempre grandes erros.
Enfim, para sabermos a distância exacta só mesmo recorrendo à pista de 400 metros, na altura ainda de cinza.
Depois chegaram os monitores de frequência cardíaca, apenas disponíveis para atletas de alta competição face ao seu preço, mas com o tempo foram-se popularizando e sendo acessíveis a todos.
Actualmente já ninguém conta o pulso em 15 segundos e multiplica por quatro. Todos se socorrem do monitor de frequência cardíaca e podem instantaneamente saber da sua frequência cardíaca e se vão acima, abaixo, ou dentro da zona alvo e ter toda uma série de informações extremamente úteis, mas que a maioria não sabe interpretar porque nunca foi acompanhada por um treinador.
Quando à medição dos percursos começaram a popularizar-se os GPS de pulso, que nos dão a distância percorrida, a velocidade máxima, a velocidade média, a altimetria e uma série de dados, onde até se inclui a frequência cardíaca, pois muitos já têm essa função. Novamente estamos na posse de dados muitos importantes mas que a maioria não sabe interpretar na globalidade porque nunca teve treinador.
Os GPS permitem-nos uma exactidão na medição do percurso que fica a anos-luz da do início da década de 80 quando começámos a aventura de correr.
Mas apesar da grande melhoria que eles representam em termos de medição de percursos é uma tecnologia que ainda está longe de ser 100% exacta.
Variadíssimos condicionalismos técnicos ainda impedem um GPS de ser 100% fiável. Não cabe neste texto entrar em explicações técnicas mas elas podem ser encontradas tanto na Internet com na Revista Atletismo, que publicou um excelente trabalho sobre a matéria e onde se demonstra de forma técnica as falhas do GPS quanto à sua exactidão.
Em virtude dos GPS ainda estarem longe de serem 100% exactos temos que ter “cuidado” com o uso dos mesmos e não os podemos considerar como a verdade absoluta no que toca à medição de percursos.
Infelizmente há muitos corredores que não analisam estas questões e olham para o GPS como se fosse um “Deus”, dono da verdade absoluta na medição de um percurso.
Quando se tem esta mentalidade e estas ideias em relação ao GPS cai-se no ridículo de acusar a medição de uma prova de errada, com base na leitura da distância que nos dá o nosso GPS.
Depois cai-se no erro absurdo de por em causa o nome e honestidade da organização de uma prova com base no nosso simples, e às vezes muito modesto, GPS.
Foi uma atitude destas que teve um grupo de atletas veteranos na Meia Maratona de Lisboa e que deu origem ao excelente editorial do Professor Mário Machado no número 190 da Revista Spiridon
Por isso amigos, vamos lá ter “cuidado” com os GPS! Tecnologia de ponta é uma coisa, o rigor que é posto na medição de uma prova (que não é feita por GPS mas sim por métodos muito mais rigorosos e exaustivos e sujeitos a regras internacionais e sobre os quais pretendemos falar numa próxima oportunidade) é outra.
Quem não tiver atenção a isto ainda vai cair no ridículo de um dia destes começar a gritar numa pista de 400 metros: Fui roubado! Isto é uma aldrabice! É assim que se batem recordes! Está aqui no meu GPS que esta pista só tem 395 metros!
É claro a Meia Maratona de Lisboa foi medida novamente, conforme as regras internacionais ditam quando é batido um recorde do mundo, e tinha a distância correcta.