Começámos nesta vida de corredores no início da década de 80 do século passado.
Na altura éramos corredores. Depois a evolução na prática da modalidade permitiu-nos usar a definição de fundistas, ou seja corredores de fundo, até que nos estreámos na maratona e passámos a ser maratonistas, um “bicho” algo raro e estranho nesse tempo!
Em 1987, com a participação na segunda edição das 12 horas de Vila Real de Santo António, atingimos o estatuto de ultra maratonistas, algo de pioneiro para a época em Portugal. Éramos poucos e considerados umas criaturas estranhas!
Mas durante todos estes anos sempre gostámos de ser chamados em bom, simples e directo Português, de corredores e pronto!
Nesses anos já algo longínquos houve o footing, o jogging, que eram expressões um tanto ou quanto snobes para designar o acto de correr, e para nós em bom Português correr é faze-lo independentemente da velocidade a que se o faça.
Mas nesses tempos nenhum corredor que levasse o seu desporto a sério, daqueles que correm todo o ano, que têm muito sol e chuva nas pernas, admitia ser confundido com um praticante de footing ou jogging. Esses eram termos usados por quem dava umas corridas de vez em quanto sem grande prática regular e que se sentia bem a usar estrangeirismos para designar uma prática que para todos nós que amávamos este belo desporto era simplesmente correr, ser-se corredor.
Hoje em dia, infelizmente, as coisas não são assim: o termo running para designar a corrida espalhou-se como uma praga! Agora passamos a ser "runners"! Passamos a ser ponto e vírgula! Nós por aqui continuamos a ser orgulhosamente CORREDORES!
Seremos corredores, fundistas, ultra maratonistas, se quiserem até nos podem chamar de “coxos” como os dirigentes do atletismo federado chamavam aos corredores populares na década de 80 numa demonstração do mais puro ódio a tudo a que cheirasse a desporto para todos, a desporto popular, mas "runners" não somos, nem nunca seremos!
Temos muito orgulho na nossa língua para usarmos um termo da língua Inglesa e ainda para mais sem necessidade nenhuma!
Outra coisa confrangedora é a falta de imaginação na designação dos clubes de corredores: agora qualquer agrupamento de corredores é algo do género Alguidares de Baixo Runners, Trás do Sol Posto Runners, Alhos Porros Runners...
É que já não há pachorra para tanto "runners" e falta de imaginação!
Ponham os olhos em clubes como Os Zatopeques, Os Kágados, Os Rompe- Solas, Os Mocas e tanto e tantos clubes de corredores que têm, ou tinham, nomes criativos, imaginativos e alguns até com grande sentido de humor!
Em 2011 na Maratona de Lisboa ainda imperava o humor, criatividade e boa disposição entre as equipas de corredores que se inscreveram na versão em estafeta da referida maratona, como se pode ver pelo nome de algumas equipas, que aqui transcrevemos no final deste texto. Provavelmente hoje seria um cinzentismo de Runners daqui, dali e dacolá!
Enfim que nos desculpem mas: BARDAMERDA PARA O RUNNING!
VAI-TE EMBORA CRISE * DEZ P’RAS ONZE,* DE TRAZ PARA A FRENTE* BEKELE Y SUS MUCHACHOS * KARAPAUS DE KORRIDA * BACANA * OS ATRAZADOS * PAPA LÉGUAS * UM SONHO CHAMADO BRAZUCA * 4 AO KM * CORRER POR GOSTO * UM DIA SEREI MARATONISTA * DOR DE BURRO * CARACÓIS ASFALTO * OS FOGUETES * ABRE * TARTARUGAS * DE SEDENTÁRIO A MARATONISTA * SE EU TIVESSE TREINADO IAM VER * VAMOS APANHAR OS QUENIANOS * BIFANAS DE CORRIDA*