Temos a a perfeita convicção
que a esmagadora maioria das provas não dá lucro.
Com isto não se pretende dizer
que tenham prejuízo mas apenas que há um equilíbrio de verbas entre o dinheiro
que entra e o dinheiro que sai, mesmo que, por vezes, haja desajustamentos,
ligeiros, nesse equilíbrio.
Também estamos perfeitamente
cientes que não é o valor da inscrição do atleta que paga todo o manancial de
despesas inerentes a uma prova. O valor da inscrição cobre uma parte (às vezes
bem ínfima) das verbas gastas na organização da prova sendo o restante
conseguido com publicidade, patrocínios, etc.
Um atleta ao alinhar numa
prova está a ser patrocinado para correr, esta é a mais pura das verdades pois
o valor que paga pela inscrição não cobre o que foi gasto para ele estar a
alinhar ali naquela “festa”.
Há até casos em que o
patrocínio é integral pois a inscrição é gratuita. Entre outros casos, podemos
falar da Corrida da Festa do Avante! que é uma das provas mais mediáticas em
que a inscrição é gratuita. Já agora referimos num aparte que nestes casos de
inscrição gratuita há um total desrespeito dos atletas e clubes para com os
organizadores porque como não pagam a inscrição fazem-no sem o mínimo de
certeza de ir participar no evento o que sobrecarrega uma organização de
voluntários, como é o caso da Corrida da Festa do Avante! de trabalho
desnecessário e baralha as contas dos organizadores no tocante à logística da
prova tal a discrepância entre atletas inscritos e atletas que efectivamente
alinham à partida.
Mas se na maioria das provas
há um equilíbrio entre verbas entradas e verbas gastas haverá outras provas que
se poderá dizer que dão lucro.
Parece-nos normal que grandes
organizadores de provas, e grandes provas, tenham um carácter vincadamente
comercial e dêem lucro.
Mas nessas provas, em que a
organização consegue obter lucro com as mesmas, tal só é possível porque os
apoios publicitários que a prova tem cobrem todas as despesas e ainda sobram
verbas. Para todos os efeitos o preço que cada corredor paga pela sua inscrição
não cobre as despesas que a organização teve com a participação com esse
corredor por isso o atleta continua a ser subsidiado para participar na prova pese
embora as verbas que a organização conseguiu angariar cubram as despesas da
prova e ainda sobram.
É comum neste tipo de provas
ouvir alguns atletas reclamar que não alinham nas mesmas pois são um grande
negócio!
Algum negócio serão mas daí a
serem um grande negócio vai alguma, ou muita, diferença.
Se são provas mais ricas em
apoios publicitários também são provas com despesas completamente diferentes da
generalidade das outras. Basta às vezes apenas um item nas despesas de uma
dessas provas para superar o orçamento inteiro de uma prova de outras dimensões
(só a verba gasta em aluguer de WC portáteis da Meia Maratona de Portugal, na Ponte
Vasco da Gama, supera o orçamento de muitas provas portuguesas!).
O que no mínimo achamos
“interessante” é vermos alguns atletas referir estas provas como um “grande
negócio” não olhando para o mundo em que vivemos e a sociedade em que estamos
inseridos.
Gostando ou não (e nós até não
gostamos) vivemos numa sociedade capitalista com tudo o que isso implica.
Falamos de determinadas provas
como grande negócio mas não olhamos para o nosso dia-a-dia: se pensarmos na
margem de lucro que dá o beber um simples café, se pegarmos num simples bolo de
pastelaria o pesarmos e verificarmos o seu peso ao quilo, se virmos quanto
pagamos por uma garrafa de água, um copo de leite ou um cerveja e compararmos
com o preço que custam num hipermercado (que também tem lucros e muitos como é
evidente) verificamos enormes percentagem de lucro que nunca serão atingidas
pelos organizadores de provas em Portugal.
E nada nos move contra os
cafés e restaurantes mas apenas quisemos dar exemplos simples e práticos do
dia-a-dia.
Mas não vemos por aí muita
gente a gritar que não foi tomar um café porque é um grande negócio!
Parece que para esses atletas o
mal do mundo está nalgumas organizações de megas provas em Portugal que são “um
grande negócio”.
Porque não se protesta dessa
maneira contra verdadeiramente grandes escandalosos e criminosos negócios como
a privatização de um bem essencial como é a água ou o desmembramento do serviço
nacional da saúde no intuito de entregar os cuidados de saúde a privados? E só
vamos dar dois exemplos porque senão faríamos aqui um manifesto político!
Felizmente provas em Portugal
há muitas, para todos os gostos e orçamentos de cada um. Todos temos opções e
ninguém fica sem poder alinhar numa prova mas quanto nos colocam a água a
preços proibitivos para dar lucros a privados isso sim é um grande e criminoso
negócio e não temos nenhuma alternativa para o contornar.
E falamos da água como bem
essencial e premente ao ser humano, mas esta sociedade está cheia de grandes e
escandalosos negócios que não são certamente algumas organizações de provas um
pouco mais comerciais e “ricas”!